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ENTREVISTA: Projota reflete sobre 2021, um ano de perdas, e fala de prioridades após BBB

Ao contrário do que o grande público imagina, a repercussão do comportamento de Projota no BBB 21 não foi a sua maior preocupação ao longo do ano. O rapper, de 35 anos – assim como outros brasileiros – foi atingido, algumas vezes, pelo impacto da perda e reflete sobre todas elas em “Volta“, single lançado na última semana e o primeiro inédito desde o reality show.

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Não que as perdas e críticas atraídas por meio do programa da TV Globo não sejam temas dos novos versos do “muleque de vila”, mas funcionam mais como um plano de fundo para abordar a fissura das redes sociais por entretenimentos a lá “O Show de Truman”, uma das principais referências para o clipe lançado com a música.

O turbilhão de informações que recebeu ao ser eliminado da última edição do programa global precisou de tempo para ser absorvido. Ao contrário de seus colegas de confinamento, Projota não tinha músicas engatilhadas para promover durante a competição ou quando saísse dela. Ele explica ao POPline que teve pouco tempo para se preparar para o confinamento, mas cogitou produzir uma música para ser lançada enquanto estivesse na “casa mais vigiada do Brasil”. “A gente até tentou fazer, [mas] não ficou bom. Eu limei, eu não gostei da música. Eu estava lá dentro assim ‘tomara que ninguém lance essa música”, contou.

(Foto: Divulgação / Brunini)

“Volta” faz parte do próximo álbum do rapper, já finalizado, mas ainda sem data de lançamento. A música ficou pronta em meados de agosto. “Eu demorei para fazer essa música. O meu sentimento sobre tudo isso ainda não tinha amadurecido, eu ainda não tinha refletido o suficiente, ainda não estava totalmente assimilado”, explica a demora. “Eu tive a paciência de esperar o momento certo de fazer essa música”, disse o artista.

Projota queria que a música fosse liberada antes do disco completo, ela foi a primeira a ficar pronta e é fruto de um momento mais calmo. “Quando o negócio ficou bem e eu encontrei um equilíbrio entre a minha tristeza e a minha alegria, entre a minha frustração e a minha raiva, entre o meu medo e a minha coragem para tudo isso, aí eu consegui escrever a música como eu gostaria que fosse”, explicou.

O clipe colorido, caótico e cheio de referências cinematográficas – “Matrix“, um episódio “Black Mirror“, e o já citado “O Show de Truman” – conta com a participação de Arthur Picoli, seu principal parceiro no jogo do BBB 21. “Uma crítica um pouco mais sarcástica de como a gente tá vivendo hoje, da rede social e tudo mais, a forma como a gente vive um reality”, explicou o rapper.

“Eu digo que é como se todos nós vivêssemos um reality show e transmitíssemos para as pessoas, só que o nosso não é ao vivo, ele acontece só ali no nosso celular. A gente filma tudo, mas edita e mostra só o que a gente quer. Para quem já foi para o BBB, hoje eu olho para vocês e falo assim: ‘Porra, aí é fácil, hein! Aí eu aguentei 20 anos”, disse Projota ao POPline.

Ao explicar a dinâmica e o roteiro do vídeo, Projota acaba expondo como eram os seus sentimentos durante BBB 21. “Você percebe como, lá dentro, eu estava me sentindo coagido, eu não estava feliz dentro daquele show ali. Eu estava triste, eu não estava bem. Não era eu. Não era quem eu posso ser. Na hora que eu abro a porta e saio, me reencontro e me conecto de novo com a natureza, com o que tem de bom na vida. Foi tudo a ver, inclusive, de como foi o reality para mim”, disse o rapper.

Foto: @projota

Se por um lado, ex-BBBs aproveitam os meses seguintes do reality para promover trabalhos e faturar com mídia e publicidade, Projota garante que aproveitou o tempo de outra forma. “A ideia [do clipe] é essa, depois que eu saí [do BBB], a minha vida é essa paz aqui, eu pego a minha filhinha, a gente compra um pastel na feira, senta na beira do lago e fica comendo, tá ligado? Essa é a vibe que eu gosto, é esse Tiago que eu gosto de ser”, explicou o artista. “O clipe foi buscar essa referência da minha vida mesmo”, contou.

Projota foi ao BBB sabendo dos riscos, “podia dar muito bom ou muito ruim”. Era uma proposta tentadora em meio a pandemia, momento em que músicos não puderam fazer shows. Apesar da conjuntura, ele sabia que o seu maior desafio era controlar a própria personalidade. “Eu sempre tive medo de mim mesmo, inclusive, entrar lá no negócio, esse era o meu grande medo. Se você tiver os vídeos das entrevistas que a gente tinha, eu sempre falava isso. ‘Mano, eu sou muito estressadinho, sou muito nervosinho, sou chato’, tem vários assim”, explicou.

Apesar do medo, ponderou outra característica: “eu sou bem ariano mesmo e esse meu lado, essa minha característica, ela tem a possibilidade de me ferrar ou de me alavancar, porque a minha carreira só deu certo porque eu sou assim também. Eu sou bem firme nas coisas, eu não desisto nunca, continuo batalhando”. O comportamento do artista na reality desagradou boa parte da audiência, mas, mesmo com as perdas para sua carreira, ele reconhece a importância da experiência. “Me conheço muito mais e tive a oportunidade de melhorar os meus defeitos e tentar colocar um upgrade nas qualidades que eu também enxergo”, disse ao POPline.

Em versos de “Volta”, Projota mostra como o seu maior medo ao participar do Big Brother era ele mesmo, como ele reagiria aos desafios do jogo.

“Em vários momentos, eu percebi o quanto isso me atrapalhou de verdade. O quanto eu ainda não estava tão pronto como eu pensava. Aqui fora é fácil, é a minha vida. A minha vida é isso: eu levanto, acordo, cuido da minha filha, sento aqui, respondo uns e-mails, preparo as minhas coisas, dou uma entrevista. Quando eu voltar agora, na sexta-feira, pego a minha mala e vou fazer shows, volto no domingo ou na segunda-feira e sigo a minha vida. Não tenho esse tipo de problema que existe lá dentro. As pessoas confundem muito isso. As provações as quais eu passei lá dentro, para ver se eu estava pronto para ganhar aquele jogo, elas não têm nada a ver com o que a gente vive no dia a dia. (…) Por mais que eu tenha medo, aqui fora, eu não tenho que me enfrentar tanto assim, é mais de boa. É mais na minha relação com a minha esposa. Eu aprendi muito com ela. Lá no passado eu era assim, sabe, respondão e tudo. Baixei a bola, hoje ela é muito mais brava do que eu. Aqui em casa, ela é muito mais brava do que eu. Eu sou de boa, tá ligado? Sou gado total (risos). Não politicamente falando!”

BBB e prioridades

Embora tenha sido “cancelado” por ter feito parte do “grupinho do mal” da última edição do reality, Projota elegeu outras prioridades ao deixar a atração após dois meses. Ele explica que sua expectativa em relação a pandemia e uma possível retomada foram quebradas quando saiu do programa. “O que a gente imaginava era que estava todo mundo vacinado já, que a vacina iria bater lá na porta a qualquer momento. Então, quando eu cheguei no estúdio com o Tiago [Leifert] e tinham, tipo assim, três pessoas além do Tiago. Eu pensei ‘cadê todo mundo?’, ‘o que aconteceu?”, disse o rapper.

Foto: @projota

Ele define as cenas que viu no trajeto da casa do BBB ao estúdio onde ficava o apresentador da atração com espanto. “Estava todo mundo bem encapuzado, parecia um filme de terror”, fala espantado. A pandemia e a saúde das pessoas que eram próximas a ele foram as maiores preocupações do músico quando deixou a casa. “Quando eu tive a oportunidade de perguntar para alguém, eu falei ‘como é que tá a pandemia?’ e a pessoa respondeu que tinha acabado de chegar em 200 mil mortos, ou estava para chegar. Quando eu entrei, tinha 100 mil. Então, em um ano foram 100 mil e em dois meses foram mais 100 mil. Dobrou. Alí, já começou a prioridade para mim”, explicou.

As notícias ruins logo chegaram. Projota contou que, ao telefonar para sua esposa, soube da morte prematura do filho de um amigo e da partida do seu cachorro, por quem tinha um amor muito grande. “Lá dentro eu falava muito de um amigo que estava para ter neném – a filhinha nasceu e faleceu três dias depois. Isso mexeu muito comigo”, contou. “No dia em que eu falei do meu cachorro lá dentro, ele morreu. E eu falei ‘meu cachorro tem 12 anos e eu já estou me preparando pra quando eu vou perder ele’ e meu cachorro morreu neste dia, fiquei sabendo só quando eu sai”, lamentou o artista.

Meses após o programa, o cantor anunciou a morte de sua carismática avó, Dona Lourdes, com quem viveu. “Minha avó já estava doente e foi agravando a doença dela, e a gente já estava esperando por isso. E minha avó faleceu no mesmo dia que a minha mãe, dia 5 de junho. São coisas que não têm explicação assim”, contou o músico. A partida de Lourdes é homenageada em um dos versos de “Volta. “Já refletiu sobre o que ‘cê fez hoje?/ Tenho chorado a noite há oito meses/ Porque eu sou filho de vó e todo filho de vó/ Tem que perder sua mãe duas vezes”, rima Projota.

“E aí, é exatamente isso. Mano, você está me perguntando se eu estou bem por causa do BBB? P*rra, mano, perto das coisas, do furacão que está a minha vida esse ano, eu estou suave, tá ligado? É tanta coisa acontecendo. O BBB é mais um problema que eu vou ter que enfrentar aqui, mas eu tenho outros, como a vida de todo mundo”, refletiu o astro sobre prioridades.

“As pessoas sabem, mas é cada um na sua vida, no seu quadrado, tendo as suas perdas”, continuou. “Esse ano, infelizmente, foi um ano em que eu perdi muito. Perdi um gato depois. Assim, esse ano foi uma parada que não tem explicação não. Perdi bastante, mas já tive anos que eu perdi também e a minha vida sempre foi baseada na superação. A minha arte foi baseada na superação”, definiu.

O rapper garantiu que não entraria no BBB há 20 anos. Segundo ele, seu conservadorismo não lhe permitiria. “Abominava tudo isso”, disse. A repercussão de suas atitudes no programa da TV Globo provocaram uma alteração na relação do rapper com o sucesso e arte. “Eu saltei do precipício pensando que eu sabia voar e eu caí, me espatifei lá no chão. E, olha que louco, eu sobrevivi, mano”, disse o artista ao garantir que mudou sua perspectiva.

“Tira vários medos, várias inseguranças que eu tinha. Acaba que ‘espera um pouco, por que eu estava tão preocupado?’. E eu não estou falando do BBB. Por que, ao longo da minha vida, eu era tão preocupado com tantas coisas? Por que eu sou tão inseguro com algumas coisas? Por que eu sou tão receoso de algumas coisas, às vezes, por exemplo, de explorar mais a minha arte, tentar fazer diferente, tentar fazer outra coisa, sabe, não seguir aquela fórmula que vinha dando certo”. Esse tipo de receio que os artistas todos têm. E agora, depois que você vai lá para baixo, quando você cai, aí você fala ‘opa, eu estou vivo ainda, estou aqui, estou respirando, meus ossos estão todos no lugar, ainda enxergo, falo, sou ouvido. Então, espera, bora de novo!’ e isso sem aquele receio”.

De acordo com Projota, o momento o levou de volta ao início de sua carreira, quando ainda morava com a sua avó. “Eu simplesmente sentava no meu quartinho (…), ficava fazendo minhas músicas lá, fazendo meus beats, ali, no pc velho que eu tinha, gravava no microfone de videokê e mandava no msn para os amigos. Agora, eu acho que eu retorno um pouco pra isso, pra uma posição onde eu me torno um franco-atirador”, disse o músico.

Ele explica que a suposta falta de expectativa do público em relação ao seu trabalho pode ser um benefício durante os próximos lançamentos. “As pessoas ou estão duvidando de mim ou não estão esperando nada. É a oportunidade que eu tenho, entende?”, questionou. “Porque, quando as pessoas estão esperando muito, você faz um álbum baseado no que elas estão esperando, baseado no que elas vinham falando dos seus outros discos e do que elas vão falar agora”, disse Projota. “No meu caso, agora, é tipo assim ‘porra, minha vida toda duvidaram de mim, vocês vão duvidar de mim mesmo? Então, firmeza, toma aqui”, continuou.

Se o músico consagrou alguma conclusão de 2021, foi a de que a vida continua:

“Perder a minha avó, tão perto do nascimento da minha filha só me faz pensar que a vida continua e é um ciclo, que existem perdas e ganhos, e eu vou trabalhar com os ganhos. Eu posso sentir saudade do que eu perdi, tanto do que eu posso ter perdido na minha carreira pós-BBB, como da minha avó, mas aí eu vou trabalhar com o que eu tenho, que é a minha filha e as músicas que eu vou fazer ainda”.

 

 

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