O POPline.Biz é Mundo da Música retoma a sua série especial dentro do quadro “Guia MM” que traz referências em atuação no mercado musical para explicar como funciona a rotina, os desafios e as oportunidades da sua profissão no setor.
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Você sabe o que um profissional de Video Content faz?
Ele é o responsável por gerenciar a produção de conteúdos audiovisuais nos veículos de mídia e plataformas digitais.
Para destrinchar o papel do Video Content dentro de um selo, o POPline.Biz é Mundo da Música, entrevistou Alberto Aguinaga, Diretor de Conteúdo Audiovisual da MangoLab.
Fascinado por música, Alberto Aguinaga entrou na faculdade com a intenção de participar dos bastidores do setor. O curso escolhido foi Publicidade. Nesse período, em uma aula de TV, foi quando ele filmou pela primeira vez na vida e se apaixonou pelo processo e pela toda dinâmica de uma produção.
A partir disso, Alberto se envolveu em projetos extracurriculares com colegas da faculdade e, na metade do curso, passou a filmar música ao vivo por conta de um exercício de uma disciplina da faculdade.
No entanto, foi no ano de 2017 que ele se juntou com pessoas que acreditavam na música independente. Foi a partir disso que a MangoLab foi criada. Na empresa, Aguinaga trabalha como Diretor de Conteúdos Audiovisuais do selo, de projetos especiais e da marca, através do canal no YouTube.
POPline.Biz: Como funciona a sua rotina e quais as principais atividades de um “Video Content”?
Alberto Aguinaga: Uma das principais atividades de um profissional do mercado audiovisual na música é estar em contato direto com os times de marketing que gerem os projetos nos quais você está envolvido ou pode se envolver e pensar junto com eles os melhores formatos e estratégias para um lançamento.
Essa função é o que seria um produtor executivo dentro de uma produção de cinema, então a rotina passa também por estar muito perto dos profissionais que têm a maior compatibilidade com o projeto do artista, como diretores, diretores de fotografia, cenógrafos, roteiristas, figurinistas e etc.
Além disso, a rotina passa por contratar e administrar esses profissionais e fornecedores, manter a saúde financeira do projeto e pensar em soluções que ajudem a produção acontecer com o mínimo custo e maior qualidade possível e cuidar de todo o planejamento de produção dos conteúdos de um projeto artístico.
POPline.Biz: Quando falamos sobre conteúdos audiovisuais, o predomínio dos vídeos curtos nos últimos anos, chama atenção. Na sua concepção, quais os desafios para manter o equilíbrio estratégico entre produções mais longas e mais curtas?
AA: Acho que dentro de um planejamento de lançamento de um produto musical, têm várias janelas de oportunidades de produção de conteúdo em diferentes formatos. Atualmente, temos uma diversidade de plataformas que priorizam formatos diferentes. Então, para mim, o desafio é utilizar dessa diversidade de oportunidades para criar uma narrativa audiovisual de lançamento.
Se a música sai junto com um clipe ou uma live que vai para o YouTube, a produção de conteúdo pré e pós deve estar sempre alinhada com os conceitos do produto principal e exercer a função de criar o hype em volta do lançamento e depois dar saúde de consumo para essa música e produção audiovisual.
Acredito que alguém que queira trabalhar com conteúdos audiovisuais dentro da música precisa estar completamente antenado com as ferramentas e novas formas de criar conteúdo hoje em dia. Cada vez mais, ter uma intimidade com a produção de conteúdos curtos e com grande capacidade de engajamento é necessário e junto com isso a capacidade de ser criativo para criar soluções narrativas e de produção para os objetivos do artista.
Além disso, ter conhecimento de como funciona a cadeia produtiva de uma obra audiovisual é muito importante. É um trabalho em equipe e cada setor tem seus problemas e dificuldades, então entender as funções e processos de cada área de uma produção pode te dar mais facilidade em solucionar roteiros e projetos de maneira criativa e com responsabilidade financeira.
POPline.Biz: Nos últimos anos, vimos grandes produções audiovisuais de videoclipes “perdendo espaço” para os visualizers e também, versões ao vivo de shows. Diante da sua análise, quais fatores indicam essa transição no mercado?
AA: Acho que um dos principais fatores é a relação do custo de produção x resultados em visualizações e engajamento. Vemos hoje em dia um mercado viciado em mídia paga e ditado por algoritmos e esse fatores provocaram uma mudança em como os artistas, selos e gravadoras veem o investimento em produções audiovisuais.
Essa chegada dos visualizers como formato mostra a necessidade dos artistas de produzirem suportes audiovisuais para suas músicas sem um investimento alto e que corrobore com o conceito da música de maneira impactante e curta.
Já os vídeos ao vivo, na minha opinião, voltaram a ganhar espaço nas estratégias de lançamento por estabelecerem uma relação mais próxima do artista com o público, e consequentemente, pode trazer mais engajamento para a música e para o artista.
Na minha experiência, eu vejo o efeito de assistir à uma apresentação de um artista maior do que assistir a um videoclipe. No ao vivo, o público consegue ver e sentir o que vai além da música, a experiência completa, com dançarinos, luz, cenário, a banda tocando ao vivo e a performance do artista em si no palco, sem aquela “frieza” de uma gravação no Spotify e sem aquele distanciamento estético do videoclipe.
POPline.Biz: Você acredita que existe uma “formação ideal” para atuar nessa área? Quais os principais desafios que a sua atuação possui hoje e quais as perspectivas de crescimento que você enxerga? O setor está em crescimento?
AA: Acho difícil cravar uma formação ideal para essa carreira. Conheço grandes profissionais dessa área com tipos diferentes de formação, às vezes nem ligados diretamente ao audiovisual, como eu, e também profissionais sem formação alguma.
Faculdades de produção cultural, jornalismo, publicidade e cinema podem ser caminho mais intuitivos, mas também existem uma imensidão de cursos online e offline voltados para esse mercado.
Os maiores desafios sempre serão adequar a ideia e expectativa do artista ou cliente para um orçamento viável para ambos os lados e acompanhar as mudanças de consumo nas plataformas digitais e pensar em conteúdos e formatos para as mesmas. Porém, eu vejo um grande potencial de crescimento do setor, pois estamos na era do conteúdo. Todos os artistas, marcas, instituições e projetos necessitam de produção audiovisual para se manterem relevantes perante ao público.
Para além disso, estamos vivendo um momento de retomada das políticas públicas voltadas ao setor cultural. As leis de incentivo e ações do poder público para reconstruir o setor após a pandemia estão ganhando forma e verba e também as gigantes do streaming de vídeo no mundo estão investindo cada vez mais em produções nacionais e gerando emprego e renda para o audiovisual.
POPline.Biz: Por fim, quais dicas você daria para quem deseja fazer uma transição de carreira ou investir na profissionalização para atuar neste setor?
AA: Eu recomendo tentar entender as oportunidades que existem dentro do setor, que são vastas, e que caibam dentro dos seus desejos, habilidades e expectativas. Além disso, ter um bom domínio de como funcionam os mecanismos de incentivo através de editais pode ser um diferencial, pois estamos vivendo a retomada de investimentos públicos no setor.
Existem também uma variedade de cursos e eventos onde além de adquirir conhecimento e técnica, você deve tentar fazer o máximo de conexões profissionais possíveis e se colocar à disposição, mesmo que comece lá de baixo. Nesse setor, as indicações contam muito para conseguir ter uma entrada em projetos e produções.