O mercado musical tem diversos setores responsáveis pela construção, desenvolvimento e divulgação de uma produção. O Project Manager é aquele que faz o gerenciamento dos projetos, integrando todos os processos, desde sua inicialização até sua conclusão.
Em entrevista para o POPline.Biz é Mundo da Música, Debora Freitas, que atua como Project Manager na GTS/Universal Music Brasil, falou sobre o cargo, gestão de projetos e dá dicas valiosas para atuar na área.
Foi na igreja, junto à família e amigos que a música entrou na vida de Debora Freitas. No começo da vida profissional, ela trabalhou em uma editora musical, mas à época não conseguia se enxergar trilhando carreira em algo que via como diversão e paixão.
Anos mais tarde, se graduou em Tecnologia da Informação, até que uma amiga lhe deu um ‘chacoalhão’: “Você reparou na quantidade absurda de shows que você tem ido nesse último mês? Você precisa urgentemente parar de gastar todo seu dinheiro em show e começar a trabalhar com isso, já que você não vive sem”.
A partir disso, Debora começou uma transição de carreira. Foi atrás de cursos de produção de eventos e passou a desenhar um negócio na área de música e eventos.
“Já havia atuado como Project Manager na área de T.I. e transportei essa experiência para meus novos passos dentro do mundo do entretenimento de onde não saí mais. De lá pra cá, fiz cursos na área de show business, music business, Direito Autoral e outros. Também cursei MBA em Marketing e Inteligência de Negócios Digitais. Mas sem dúvidas, onde mais aprendi sobre o que faço hoje foi atuando e trocando experiências com muitos profissionais incríveis, com bagagens muito ricas, que cruzaram meu caminho e me ensinaram coisas que só essas trocas poderiam me proporcionar.”
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Antes de tudo, Debora explica que o Project Manager é a pessoa designada a orquestrar todas as etapas, áreas e times de um projeto. Portanto, é essencial que se tenha intimidade com o planejamento, da concepção até a entrega, sendo ele curto, médio ou de longo prazo.
“É preciso conhecer bem todos os stakeholders, ter clareza das etapas e do objetivo do projeto, contar com uma equipe equilibrada e comprometida com suas entregas são alguns dos principais ativos para um projeto bem-sucedido. Dentro de uma gravadora ou escritório de gestão artística, podemos gerenciar projetos pontuais, com começo, meio e fim pré-determinados, como um festival, um lançamento de álbum, uma ação publicitária, um projeto exclusivo com um parceiro de streaming ou como a gravação de um clipe. Mas também, existem os projetos longevos como a carreira de um artista, que passa a ser um projeto macro recheado de inúmeros outros projetos acontecendo simultaneamente.”
Quanto aos desafios do cargo, a profissional revela que é a organização. Isso porque quando tem muitos projetos acontecendo simultaneamente é necessário organizar as prioridades na rotina e, segundo ela, criar uma consciência descentralizada.
“Cada projeto tem necessidades específicas e times que podem ser em partes ou completamente diferentes para cada um. Desenvolver a autonomia desses times e se manter completamente dentro de tudo que acontece nesses núcleos é também desafiador. No entanto, é essencial para que a cadeia toda funcione. Para isso, são necessárias muitas reuniões de alinhamento, estar presente nos momentos importantes de tomada de decisão, ter um grande foco em inovação, acompanhar de perto as viradas de chave, se aprofundar nas áreas mais críticas, mas acima de tudo estar muito próximo e buscar muita troca com as pessoas e squads que integram os projetos.”
Já no que diz respeito à gestão de carreira, Freitas enfatiza que os pontos de partida na construção do planejamento de projetos são sempre o artista e sua arte. Por isso, é importante estar perto de ambos, para ser ter um direcionamento assertivo com as equipes.
Para desempenhar o cargo, Debora considera importante, antes de tudo, ter a capacidade de organização, boa comunicação, habilidade em resolução de problemas e conflitos, liderança, gestão de tempo e trabalho em equipe.
“Acredito muito em vocação, mas também no desenvolvimento dessas habilidades. Como em qualquer outra profissão, estudar muito, reconhecer suas fraquezas e buscar compensá-las com conhecimento, é essencial. Em diversos cursos de graduação, gerenciamento de projetos já faz parte da grade. Mas você também pode fazer uma pós, MBA ou Mestrado em Gestão de Projetos, além de certificações e especializações em diferentes metodologias agile como Scrum, Lean, Kanban, Smart, entre outros.”
Ainda de acordo com Debora, embora o cargo esteja em crescimento em empresas de diversos setores e pesquisas apontarem um crescimento de mais de 30% da área até 2027, ainda muitos negócios do mercado da música dependem de estruturas enxutas em ecossistemas onde os profissionais executam inúmeras tarefas ao mesmo tempo em processos pouco dinâmicos.
“Muitas vezes os Project Managers já estão inseridos dentro desses frameworks, mas atuam sob nomenclaturas de posições diferentes, justamente por existir um cruzamento dessa área com muitas outras e esses profissionais precisarem trabalhar simultaneamente em diferentes funções. Ainda há os autônomos, outros que encabeçam seus próprios negócios prestando serviço de gerenciamento de projetos para grandes players ou diretamente a artistas e seus escritórios. Mas há um potencial grande para que essa função ganhe cada vez mais espaço e relevância dentro das estruturas organizacionais das empresas que buscam mais assertividade em seus processos e ganho de produtividade. De qualquer maneira, a indústria da música é gigantesca e diversa. Você pode atuar em inúmeras áreas dentro do mercado e algumas delas podem exigir conhecimentos específicos em uma área foco como: marketing, publicidade, direitos autorais, artístico, financeiro, produção de eventos, comercial, logística, ou até mesmo um conhecimento geral de todas elas para atuar dentro de projetos 360 como a gestão de carreira artística, por exemplo.”
Aos que pretendem atuar na área, Debora aconselha a pessoa a ouvir muita música, conversar com as pessoas envolvidas com o projeto, além de estudar o mercado e, também, se envolver com paixão em todas as etapas desse processo.
“Comece a atuar em projetos menores e pontuais, buscando autoavaliar sua capacidade de gestão, capacidade organizacional, entrega e resultados. Com o tempo vá escalonando esses projetos para outros de maiores proporções. Quando o projeto permitir que você selecione o time de atuação, conte sempre com pessoas tão envolvidas quanto você e que possuam skills que se complementem.”
Além disso, Freitas pontua que é importante não ter medo de feedback. Pelo contrário, é necessário entender como os stakeholders enxergam as propostas e direcionamentos para os projetos, uma vez que isso impedirá que possíveis brechas na sua gestão ou problemas de comunicação prejudiquem o bom andamento ou o resultado de um projeto inteiro.
“E, por fim, mas não menos importante, a arte e o artista estão sempre nos primeiros lugares na nossa escala de prioridades. Trabalhar com música acima de tudo é um privilégio, mas desenvolver e gerenciar projetos onde prioritariamente o objetivo é entregar mais música para o mundo, torna nosso trabalho altamente recompensador.”
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