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Entrevista: ‘O treinamento entrega ferramentas para que o artista construa a sua própria identidade’, diz Karina Pachiega

Karina Pachiega. Foto: Divulgação.

Você sabia que existe um profissional que ajuda na preparação de uma pessoa para lidar com entrevistas e situações durante o contato com canais de mídia, como TV, podcasts ou  até redes sociais?

O quadro “Guia MM” desta semana traz curiosidades e dicas sobre o dia a dia e a atuação de um profissional de Media Training.  Para isso, o POPline.Biz é Mundo da Música entrevistou nesta semana Karina Pachiega, que conta sobre a sua atuação na profissão e, também,  explica a importância da profissão na carreira de um artista.

Com 23 anos de experiência, Karina é jornalista. Desde 2018, ela se dedica ao treinamento de oratória, Media Training e projetos de comunicação no mercado corporativo, compartilhando conhecimentos e dicas práticas para uma comunicação eficaz. 

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POPline.Biz: Karina, hoje o diálogo sobre “Comunicação Não-Violenta” tem sido mais comum, sobretudo em ambientes empresariais também no entretenimento. Mas, na verdade, o que é esse termo? E como aplicá-lo no dia a dia?

Karina Pachiega: A CNV é um conceito criado pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg. É um tipo de manual prático que nos mostra um caminho para a resolução de conflitos e melhoria constante da nossa comunicação. Ela consiste em seguir quatro passos numa conversa que tem o objetivo de resolver um conflito: observação, sentimento, necessidade e pedido. 

Nessas quatro etapas não há juízo de valor, sempre deixamos claro o que a ação do outro nos causa de ruim e acaba com um pedido prático de atitude para resolver o problema em questão. Isso pode ser aplicado na nossa vida pessoal e profissional. 

POPline.Biz: O WhatsApp é uma ferramenta de trabalho na maioria dos ambientes, na música, não é diferente. O tom da linguagem escrita, também deve ser observado. Como você daria dicas para amenizar ruídos nesse tipo de comunicação? Você acredita que determinadas conversas podem ser evitadas nesse meio?

KP: O Whatsapp realmente dá muita margem para ruídos na comunicação. A linguagem escrita não tem entonação, pausa, ênfase, velocidade, volume… Por isso muitas vezes ficamos em dúvida se a pessoa está brava, satisfeita, apenas ocupada, triste, etc. Quando vamos para o áudio fica bem mais fácil perceber essas nuances porque as modulações da voz nos respondem essas perguntas. Quando vamos para a chamada de vídeo, temos elementos muito mais ricos para entender a mensagem: expressão facial, expressão corporal, gestos, olhar.

Diante de tudo isso, cada tipo de situação demanda um canal de comunicação. Informações mais práticas como passar o horário de uma gravação, a confirmação de presença, o endereço, podem ser feitas por texto. Quando é muito relevante por alguma razão, deixar claro seus sentimentos, sensações e percepções em relação a algum tema (que você ficou super feliz com algo ou muito decepcionado) sugiro usar o áudio.

Agora, quando o tema for realmente importante como fechar um contrato ou desfazer um contrato, entender detalhes de um projeto, ou qualquer outra tomada de decisão importante sugiro uma conversa por vídeo que será mais esclarecedora e assertiva.

Karina Pachiega. Foto: Divulgação.

POPline.Biz: Nas redes sociais, algumas pessoas que conseguem organizar pensamentos de forma muito rápida, são elogiadas. Mas, na realidade, qual a diferença entre boa dicção e boa oratória? Como é possível impulsionar os dois? Existem dicas?

KP: Na maioria das vezes, quem tem uma boa oratória, tem uma boa dicção. Uma coisa está muito ligada a outra. Quando uma pessoa articula bem as palavras, ela passa clareza de ideias, confiança, credibilidade, autoridade, bom vocabulário. Elementos essenciais de uma boa comunicação. Um exercício simples para melhorar a dicção é falar com uma caneta na boca, você fala uns dois minutos com ela e depois tira. É chato, desconfortável, você sente todos os músculos da região da boca e garganta trabalhando, mas na hora que você tira a caneta e fala o mesmo texto, a melhora é imediata. 

Exercícios de aquecimento vocal também ajudam. Claro que apenas estes exercícios não bastam. Quando o problema na dicção é mais complexo, uma fonoaudióloga deve ser procurada. 

POPline.Biz: Para artistas, o Media Training é fundamental. Seja com o tratamento com a imprensa, como com os fãs. Quais dicas você acredita que todos os artistas, principalmente no início da carreira, podem ter em mente?

KP: Eu recomendo fortemente que os artistas façam o Media Training. É um treinamento para lidar da melhor forma possível com a imprensa nas mais diversas situações: entrevistas para a TV, rádio, jornal impresso, blogs, podcasts, etc. Como eu já estive do outro lado do balcão por muitos anos, conheço a dinâmica, os bastidores, então posso contribuir de forma efetiva com dicas práticas e aplicáveis no dia a dia. 

Os artistas precisam ter em mente que é fundamental entender como funciona cada canal de comunicação para aproveitar ao máximo as oportunidades. Em um programa ao vivo, por exemplo, as respostas devem ser curtas, é preciso ter poder de síntese sem deixar de passar a mensagem, e saber também que ele pode ser surpreendido com uma pergunta ligada a um fato do dia, na verdade ele terá que dar a sua opinião sobre um tema que pode ser delicado, polêmico…  Tudo isso pode ser treinado. 

Já em um podcast de duas horas, o artista precisa se preparar com muito conteúdo porque a entrevista será bem mais analítica e completa. O Media Training dá um panorama completo de como lidar com cada situação.

Karina Pachiega. Foto: Divulgação.

POPline.Biz: Em uma das suas falas, você diz que “comunicação é tudo, até o que não é dito”. O seu trabalho também é correlacionado com profissionais, como stylist, e/ou estrategistas digitais, por exemplo? Como funciona o seu dia a dia de trabalho, de fato? É um trabalho mais pontual ou contínuo? Se for uma atividade contínua, em média, os resultados podem ser vistos em quanto tempo?

KP: Tudo comunica. Absolutamente tudo. Roupa. Maquiagem. Estilo. Cenário. Cores.

Porém o foco do meu trabalho é ensinar ferramentas de Oratória que vão tornar a comunicação mais assertiva, que vão trazer mais segurança nos mais diversos contextos. Meu objetivo é fazer com que o meu aluno ou mentorado até sinta aquele frio na barriga antes de subir em um palco para dar uma palestra, ou antes de dar uma entrevista ao vivo, mas que ele sinta que está no controle, saiba quais recursos acessar – intencionalmente  – para aproveitar aquele momento a favor dele. Os resultados vêm rápido. 

Essa semana eu dei um mentoria de quatro horas para uma pessoa que precisava melhorar a performance na gravação de vídeos para as redes. Encerramos a aula com três excelentes vídeos gravados já aplicando todas as técnicas que tínhamos acabados de estudar juntas. Se a pessoa estiver disposta a exercitar, e tiver oportunidades de colocar em prática as ferramentas o resultado chega logo. Em alguns casos o trabalho é pontual. 

Exemplo: preparar alguém para uma palestra em um determinado evento. Mas pode ser contínuo também: alguém que queira de 15 em 15 dias simular situações para quando o pedido de entrevista chegar, ela já se sinta pronta e preparada. Depende muito do perfil e do momento de cada um.

Karina Pachiega. Foto: Divulgação.

POPline.Biz: Um dos pontos cruciais para artistas e, infelizmente, comuns, é a prática da gestão de crise. O processo da comunicação também é acompanhado de controle emocional, para saber como agir em situações sob pressão. Quais os caminhos que você indicaria, para amenizar a crise nessas situações?

KP: Em um primeiro instante não se faz nada. É até estranho dizer isso, mas é preciso esperar um pouco para saber qual a proporção tal fato vai tomar antes de tomar as medidas mais assertivas.

Em um segundo momento, analise os fatos com base na verdade, chame as pessoas envolvidas: o empresário, o próprio artista, as pessoas que cuidam das redes sociais para aí sim, em um terceiro momento, vocês decidirem o que será feito de concreto, como colocar pra fora o que aconteceu da forma mais adequada dentro da verdade dos fatos, seja a convocação de uma coletiva, a publicação de uma nota ou a gravação de um vídeo nas redes sociais.

POPline.Biz: Karina, por fim, alguns artistas acreditam que o “Media Training pode tirar a naturalidade deles” e tornar uma conversa mais robotizada. O que você diria para artistas que reiteram esse discurso? E quais as oportunidades que você enxerga aos novos artistas?

KP: O Media Training é uma oportunidade do artista compreender a dinâmica do veículo de comunicação, oferecer um conteúdo naquela entrevista que seja pertinente e ao mesmo tempo intencional e assertivo. 

O treinamento entrega ferramentas para que o artista construa a sua própria identidade dentro de uma dinâmica de mercado. Apresenta o processo para que ele crie o seu próprio repertório e sua própria narrativa com o seu tom e a sua essência.

Karina Pachiega. Foto: Divulgação.

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