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Profissão: Gamer. Flakes conta como é “viver de videogame”

“Era muito difícil para meu pai entender como eu ia ganhar dinheiro com videogame, se eu joguei a vida inteira sem ganhar nada”, diz Flakes.
Profissão: Gamer. Flakes conta como é "viver de videogame"
(Foto: Divulgação)

Os números são impressionantes. A indústria de games faturou US$ 159,3 bilhões só em 2020, segundo o Newzoo. São mais de 2,7 bilhões de gamers no mundo atualmente. Isso possibilita um contrato de cinco dígitos para um menino de oito anos, e um contrato de exclusividade entre US$ 20 e 30 milhões para o streamer mais conhecido do mundo. É tentador, não é?

Ser um gamer profissional, no entanto, não é apenas “ser pago para jogar videogame”. No Dia do Gamer, comemorado neste domingo (29/8), o POPline conversa com Flakes, gamer de 24 anos, com mais de seis milhões de inscritos no YouTube, e fundador da equipe Hero Base, atualmente focada em Fortnite.

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(Foto: Divulgação)

“No primeiro ano de canal, ficava em casa o dia inteiro. Eu me trancava no quarto para aproveitar o boom que o canal estava tendo. Respirava videogame todos os dias, para fazer o canal crescer o máximo possível”, diz ao POPline.

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Hoje em dia, ele não está mais trancado no quarto, mas admite que trabalha o dia inteiro. O canal cresceu e se profissionalizou. São mais de 40 funcionários na empresa, entre editores de vídeo, design, área comercial, criadores de mapa e desenvolvedores web. A Hero Base também conta com uma produtora completa. Além disso, Flakes lançou suas próprias marcas de periférico gamer e polivitamínicos. A pergunta é: como ele chegou lá?

“Sempre fui uma pessoa extremamente tímida. Era o nerd da escola, com pouquíssimos amigos. Não sabia me comunicar com ninguém. Era fechado na minha. Comecei a trabalhar esse lado em mim, e melhorei muito. Se eu consegui, todo mundo consegue”, conta.

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(Foto: Divulgação)

Leia os melhores momentos da entrevista!

POPline – Como é a rotina de um gamer profissional?

FLAKES – Hoje eu já não tenho o canal como meu foco principal. Tenho marcas próprias, meu time de e-Sports, e estou muito envolvido na parte comercial dessas empresas. Acabo tendo muito menos tempo para jogar. Mas, de forma geral, eu separo umas quatro ou cinco horas à tarde para jogar e tentar ter ideia de conteúdo novo para gravar. Trabalhando, é praticamente o dia inteiro. É o dia inteiro na função, sabe? Por mais que não esteja no escritório, se estou no barzinho, estou com o celular na mão resolvendo coisa. É o famoso “minha vida é meu trabalho, e meu trabalho é minha vida”. Por quase quatro anos, gravava todos os dias. Por contra dos outros projetos, que tomam uma boa parte do meu tempo, eu acabo não gravando todos os dias. Estou gravando umas três vezes por semana. Mas não é o ideal. O ideal é postar todos os dias. Como estou ocupado com outros projetos, acabo não tendo tempo para gravar os vídeos.

POPline – Como você começou no mundo dos games?

FLAKES – Eu sempre fui apaixonado por videogame, desde criança. Desde que essa coisa de fazer live e vídeo para o YouTube começou a surgir, eu tive o sonho de fazer. Comecei a investir em equipamentos: comprei uma câmera legal, um microfone legal, muito antes de começar meu canal de fato. Eu ficava naquelas de esperar uma oportunidade para, “quando achar que tô pronto”, começar a fazer vídeo. Comecei a jogar o jogo Clash Royale, um jogo de celular, quando tinha 19 anos. Comecei a perceber que estava jogando muito bem, e tinha muitas pessoas com dúvidas de como progredir no jogo, principalmente sem gastar dinheiro, porque ele tinha fama de ser pay-to-win. Ou seja, precisava gastar dinheiro para se dar bem. E eu falei: “pô, não precisa, tô me dando bem sem gastar nada”. Comecei a dar dicas de como progredir no jogo sem gastar dinheiro, e o canal explodiu. Em um ano, já estava com um milhão de inscritos, e aí comecei a profissionalizar o negócio. Até um ano, eu gravava, editava, respondia e-mail. Hoje, o canal já tem uma equipe de quase 40 pessoas.

POPline – Quando começou a ganhar dinheiro?

FLAKES – Mais ou menos uns seis meses depois, começou a entrar uma grana legal. O canal explodiu muito rápido por causa do sucesso do jogo. Como era 100% focado em Clash Royale, acabou surfando na onda. Com seis meses de canal, estava entrando um dinheiro bem legal para me manter e comprar equipamentos.

POPline – No início, a família apoiou?

FLAKES – Meus pais sempre apoiaram, mas me incentivavam a parar de fazer vídeo e ter um trabalho normal. Meu pai é dono de empresa, então para ele era muito difícil entender como eu ia ganhar dinheiro com videogame, se eu joguei a vida inteira sem ganhar nada. Eles não conseguiam entender a diferença entre jogar por diversão e jogar para criar conteúdo. Para eles, eu estava fazendo exatamente a mesma coisa. A medida que o negócio foi crescendo, eles foram entendendo, mas sempre receosos de eu gastar tanto tempo em vez de fazer um estágio na área que eu estava na faculdade [engenharia de software] ou trabalhar na empresa que eles possuem.

POPline – Quais são as fontes de renda? Patrocínios?

FLAKES – Hoje em dia, meu maior foco são minhas empresas próprias. Por muito tempo, a fonte foram os patrocínios, mas hoje são empresas próprias. Percebi que “opa, se tem empresa investindo em mim, é porque dou lucro para elas”, então por que não abrir minhas próprias marcas e divulgá-las no canal? Aí começou a explodir bastante. Normalmente, os gamers começam com o padrão – camiseta, boné – e eu já comecei fazendo periférico gamer. Foi um sucesso gigantesco no Brasil inteiro e até hoje é.

POPline – Qual o lado ruim da profissão?

FLAKES – Quando a gente diz que vive de videogame, muitas pessoas acham que somos pagos para jogar. Isso não é verdade. Não sou pago para jogar videogame. Meu trabalho é criar conteúdo em cima do videogame, e isso é completamente diferente. Quando você cria conteúdo, é muito diferente de quando joga por diversão. Você não consegue aproveitar o jogo como aproveitaria. É um trabalho. Tem pressão de criar o conteúdo. Não é jogar por jogar. A maioria da galera que trabalha com videogame tem o problema de misturar a vida pessoal com a profissional. Tem que separar as coisas. O cara tem o computador no quarto, naturalmente joga muito, então fica o dia inteiro nessa rotina que acaba não sendo saudável. Por três ou quatro anos, eu ficava trancado no quarto por 24 horas gravando. E eu gostava de fazer isso. Não foi um sacrifício. Eu adorava e juntei o útil ao agradável. Mas hoje em dia separo bastante tempo para a vida pessoal – academia, minhas coisas fora do canal para manter a sanidade.

POPline – Quais são as barreiras de entrada para um gamer iniciante?

FLAKES – Tem uma diferença muito grande de live para vídeo. Para vídeo, tem que estudar a plataforma e entender como ela funciona. Você não precisa ter o melhor equipamento para começar, é super possível. O maior erro é não entender como a plataforma funciona e acaba postando vídeos que não são interessantes para o público. Acabam esquecendo partes importantes e o vídeo performa mal por causa disso.

POPline – O que um gamer precisa ter para você contratar para sua equipe?

FLAKES – Varia muito do foco do momento. Nossa equipe trabalha tanto no competitivo quanto na criação de conteúdo. Quando a gente procura para criação de conteúdo, são pessoas carismáticas, com o perfil que a gente está buscando no momento – alguém mais velho, mais jovem, depende… Quando fala do lado competitivo da coisa, é gente que joga bem e tem bons resultados em campeonatos. A gente olha nos campeonatos. E pessoas que fazem tudo direitinho – ter redes sociais bem ativas, saber fazer o mínimo.

POPline – O que mais quer conquistar?

FLAKES – A ideia é expandir o time. Hoje a gente é focado em Fornite, e a gente quer expandir para outros jogos sim. Eu não sei ainda, muita gente pergunta para que jogo eu vou, mas a gente está em um momento de esperar jogos novos serem lançados. Por mais que existam jogos bem consolidados, já existe um cenário montado, panelas… A gente queria pegar um cenário novo para investir.

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