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Profissão de Sincronização: Agência Musical

Patricia Portaro, Head of Music Supervision LATAM da Big Sync Music. Foto: Divulgação.

A série especial dentro do quadro “Guia MM” do POPline.Biz é Mundo da Música, que traz referências em atuação no mercado musical está de volta. Nele, os profissionais explicam como funciona a rotina, os desafios e as oportunidades da sua profissão no setor.

Patricia Portaro tem uma relação longínqua com a música. O seu avô era compositor e maestro e quase todos membros de sua família paterna tocam algum instrumento, inclusive ela.

Na hora de escolher uma profissão, Patricia optou por estudar Direito e, logo no primeiro ano, ingressou em um estágio na área de Direitos Autorais Musicais. Depois, ela foi trabalhar como produtora executiva de discos e business affairs em gravadoras. No decorrer dos anos 2000, ajudou na criação de diversos selos independentes e editoras musicais.

Em 2006, Patricia ganhou uma bolsa de estudos do governo britânico para estudar Music Business, em Londres. Nesse período, ela conheceu a profissão Music Supervisor e decidiu que era isso que ela queria fazer.

“Tive muita sorte porque quando voltei da Inglaterra montei um escritório com um advogado que, além de me ensinar muito sobre Sync, já trabalhava para os produtores audiovisuais. Inclusive, fazendo licenciamentos musicais. Criamos um departamento de clearance que começou a crescer em razão da expansão do mercado audiovisual. Com o tempo começamos naturalmente a fazer supervisão musical porque também existia uma demanda pelo trabalho criativo”, conta Patricia Portaro, Head of Music Supervision LATAM da Big Sync Music.

Patricia Portaro, Head of Music Supervision LATAM da Big Sync Music. Foto: Divulgação.

No ano de 2009, Patricia foi  estudar Music Supervision na UCLA, em Los Angeles. Ela voltou ao Brasil decidida a fazer esse trabalho  e, em 2010,  fez a primeira supervisão musical para um longa-metragem brasileiro.

De lá pra cá, Patricia contabiliza mais de 250 projetos audiovisuais e publicitários, que trabalhou como supervisora musical ou cuidou dos licenciamentos musicais. 

Em entrevista para o POPline.Biz, Patricia Portaro, Head of Music Supervision Latam para a empresa britânica Big Sync Music, do grupo Songtradr, compartilha a sua rotina e experiência profissional no setor. Ela ainda revela que a criação, junto com outros supervisores musicais brasileiros, do GMS Brasil,  o capítulo brasileiro do Guild of Music Supervisors americano, que será lançado em outubro no evento Music Trends no Rio de Janeiro. 

Patricia Portaro, Head of Music Supervision LATAM da Big Sync Music. Foto: Divulgação.

POPline.Biz: Como funciona a sua rotina e quais as principais atividades e funções de um “Sync”?

Patricia Portaro: A rotina de um profissional de Sync que trabalha para produções de filme e TV inclui a pesquisa de titulares, envios de pedidos de autorização, negociações com editoras, gravadoras, artistas, managers, gerenciamento dos pagamentos, gerenciamento dos contratos, preparação de créditos, obtenção de informações para cue-sheet e gerenciamento de planilhas e relatórios. O trabalho de Sync em publicidade é similar, com exceção das três últimas etapas, até porque normalmente o número de músicas é bem menor do que em projetos de filme e TV. 

A minha rotina como supervisora musical passa um pouco por tudo que listei acima, com algumas diferenças. Na Big Sync temos um time criativo, um time de clearance e um departamento jurídico. Minha rotina é gerenciar cada um desses times, trabalhar com o time criativo nas buscas de repertório e artistas, e trabalhar com o time de clearance nas negociações junto às editoras, gravadoras e talentos. Além disso, sou responsável pela leitura dos roteiros dos filmes e séries, pelo gerenciamento do budget musical, acompanhamento das planilhas, relatórios e contratos em andamento, checagens de cortes finais e atendimento às produtoras, canais, agências, marcas e clientes em geral. 

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POPline.Biz: O setor da sincronização envolve também o imaginário dos artistas que gostariam de ver as suas obras em uma publicidade, filme, novela ou série. Quais os desafios de conseguir emplacar uma música nesses roteiros?

PP: O desafio é imenso porque a oferta musical hoje é muito grande. Ao mesmo tempo, qualquer música pode ser sincronizada, porque no final das contas tudo depende do que a cena e o filme precisam.

Já aconteceu mais de uma vez de recebermos músicas que achamos que não terão nenhuma chance de serem sincronizadas, até que um dia aparece uma oportunidade. Recentemente, aconteceu com um catálogo de world music inglês que me manda playlists há muitos anos. Finalmente, apareceu uma oportunidade porque precisávamos de músicas antigas de uma determinada região e imediatamente lembrei delas. Isso resultou em vários licenciamentos para o mesmo projeto.

Para artistas e autores que querem ter suas músicas sincronizadas é importante considerar a possibilidade de serem representados por uma editora/gravadora ou até por um Sync Agent, que ainda é uma figura nova no Brasil. Porque quando precisamos de música essas empresas são o nosso primeiro recurso. E elas também nos mandam sugestões de músicas e artistas para as produções que estamos trabalhando, então existe essa troca constante.

Além disso, há sempre uma segurança jurídica maior quando licenciamos obras ou fonogramas de empresas que conhecemos e que sabemos que trabalham corretamente. Claro que também licenciamos diretamente de autores e/ou artistas que não possuem representação. Mas em geral, no dia a dia, quando começamos uma busca por músicas para uma produção, é muito mais provável falarmos com as empresas parceiras do que irmos atrás de artistas e autores diretamente.

Foto: Unsplash

POPline.Biz: Você acredita que as agências de publicidade estão mais abertas a conhecerem novos sons e artistas?

PP: Sim, sem dúvida estão mais abertas a conhecer novos artistas e músicas que não são do mainstream.

Na publicidade, ainda há uma preferência por grandes artistas ou por músicas viralizadas, mas nem toda campanha tem um budget que comporta um artista conhecido. Então, muitas vezes há abertura para o novo sim, se a música funcionar e passar a mensagem certa.

Já em produções para filme e TV é muito comum vermos trilhas com artistas independentes ou menos conhecidos, inclusive muitas delas são feitas só de música indie, então existe bastante abertura.

Sempre que o projeto permite, buscamos sugerir coisas que saem do lugar comum, que abrem perspectivas para o projeto, e sinto que há cada vez mais interesse pelo novo.

POPine.Biz: Você acredita que existe uma “formação ideal” para atuar nessa área? Quais os principais desafios que a sua atuação possui hoje e quais as perspectivas de crescimento que você enxerga? O setor está em crescimento?

PP: Não existe uma formação ideal para atuar em Sync. Mas é fundamental ter familiaridade com direitos e contratos musicais. 

Para ser um profissional nessa área, tem que entender o que é uma obra musical, o que é um fonograma, ter uma noção básica do que é um contrato de licenciamento e qual a diferença de uma cessão de direitos. Enfim, existem conceitos e termos específicos que são importantes para que a pessoa transite nesse ambiente, mesmo que haja um jurídico atuando no projeto. 

Isso não quer dizer que a pessoa tem que estudar direito para atuar nessa área, mas sim que ela deve ter conhecimentos básicos.

Existem alguns cursos no Brasil que contemplam esse assunto na grade, como o MCT – Música, Copyright e Tecnologia, organizado pela Guta Braga. Esse curso tem ênfase jurídica, mas possui módulos de sincronização e supervisão musical. 

Já na área de supervisão musical existem alguns cursos nos Estados Unidos, um deles é o curso de Music Supervision for Film and TV da UCLA, que foi o curso que eu fiz quando comecei, e que pode ser feito online. Também existem cursos online na Berklee College of Music e na New York University.

Há quase 10 anos faço parte do Guild of Music Supervisors americano, que é a entidade que representa a nossa profissão e tem como objetivo principal proporcionar recursos educativos para o setor. 

Guild of Music Supervisors. Foto: Divulgação.

Estou criando junto com outros supervisores musicais brasileiros o GMS Brasil, o capítulo brasileiro do Guild of Music Supervisors americano, e será lançado em outubro no evento Music Trends no Rio de Janeiro. Nossa intenção com o GMS Brasil é proporcionar educação sobre sincronização e supervisão musical, através de eventos próprios e também participar de eventos na área de entretenimento, publicidade e games. Então, logo mais teremos mais oportunidades de aprendizado nessas áreas através do GMS BR.

A área de supervisão musical ainda enfrenta muitos desafios no Brasil porque é uma profissão nova e existe uma grande confusão com outras funções da área musical, especialmente na área de filme e TV. Além disso, muitos produtores não sabem da existência desse profissional, então estamos num estágio inicial, onde ainda é necessário esclarecer o que é o nosso trabalho e mostrar o quanto um supervisor musical pode ajudar nas produções, inclusive na administração do budget musical.

A área de Sync eu considero bem mais ampla porque há mais possibilidades de trabalho, como por exemplo dentro de uma editora ou de uma gravadora, em canais de TV, empresas de games, etc. Normalmente, os departamentos de Sync são enxutos, mas nos últimos anos estão crescendo e algumas editoras e gravadoras no Brasil estão muito mais ativas na parte de pitching musical, o que pode gerar mais demanda de profissionais. Também existem advogados que prestam serviços de licenciamento musical, então para quem possui interesse nessa parte jurídica essa é mais uma possibilidade.

As perspectivas dessas profissões no Brasil são boas por várias razões, entre elas a mudança que ocorreu com a chegada dos canais de streaming no país, pois essas empresas entendem a importância de ter um profissional dedicado à parte musical nas produções. Com essa chegada também houve um aumento significativo no número de produções nacionais, o que gera mais trabalho para profissionais dessas áreas.

Além disso, neste ano está havendo uma retomada do setor audiovisual no Brasil e já estamos sentindo a volta das produções incentivadas pelo governo. Existe uma quantidade enorme de conteúdo sendo produzido e se continuarmos nesse ritmo nos próximos anos, cada vez mais a indústria musical irá precisar de profissionais de Sync e a indústria audiovisual de supervisores musicais e serviços de licenciamento.

Foto: Unsplash.

POPline.Biz: Por fim, quais dicas você daria para quem deseja fazer uma transição de carreira ou investir na profissionalização para atuar neste setor?

PP: Na área de Sync, como falei acima, busque entender de contratos musicais e negociações pois isso é fundamental para que se faça um bom trabalho, e o estudo é sempre importante em qualquer área. 

Enquanto ainda não temos cursos específicos sobre Sync no Brasil, uma alternativa é começar buscando informações online, ir estudando por conta própria, participar de cursos onde haja o assunto na grade e também de eventos e workshops sobre o assunto. Fiz isso por alguns anos e me ajudou demais.

Conhecer pessoas do mercado musical também é importante, então construa um network com os profissionais da área. 

E para quem pretende ser supervisor musical, além da mesma dica acima, do lado criativo: pesquise, vá a shows, procure saber tudo que está rolando, quais as tendências musicais, conheça o trabalho dos artistas, conheça os managers desses artistas. Conheça o trabalho de outros supervisores musicais no Brasil e no exterior, escute muita música e, acima de tudo, assista os filmes, as séries e os comerciais que te interessam e também os que estão fazendo sucesso, e preste atenção na música. 

Além disso, veja como a música original é usada para causar emoção ou transmitir a energia de uma cena. Note como as músicas comerciais são usadas para definir um personagem ou uma época, e como isso impacta aquelas imagens. Assista tudo com o Shazam na mão! A parte mais legal desse trabalho é exatamente essa junção da imagem com a música, então tenha esse novo olhar quando assistir um filme ou série. É possível aprender muito dessa forma.

Foto: Divulgação/Shazam.

E minha dica do lado prático é: procure um estágio com alguém que já atue nessa área. Mesmo que você comece de um lugar diferente do que você espera, estar perto de profissionais que atuam será uma escola tão importante quanto qualquer outra forma de aprendizado.

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