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Por que “Say My Name”, das Destiny’s Child, é um hino feminista atemporal?

Em sentido horário: Kelly Rowland, Michelle Williams, Farrah Franklin e Beyoncé: formação que durou apenas 5 meses (Foto: Reprodução/YouTube)

Vitória dupla para as Destiny’s Child na enquete do POPline. Além de “Independent Woman Pt.1” ter abocanhado o 2º lugar, vocês elegeram “Say My Name” como o melhor single #1 lançado em 2000 [clique aqui e veja o resultado completo da enquete].

Admita: em algum momento, nas últimas duas décadas, você assistiu ao clipe e cantou com as meninas, certo? Beyoncé balançava orgulhosamente suas micro-tranças, Kelly Rowland interpretava cada nota com uma pose de moda e a recém-admitida no grupo Michelle Williams ainda aparecia de um jeito pouco convincente. Mas espere: quem é essa outra?

Mesmo que houvesse fumaças, espelhos e dançarinos contorcionistas, nada poderia distrair os telespectadores de que havia uma filha “postiça” do destino: Farrah Franklin, que esteve no grupo por cinco meses, é apenas uma lembrança chocante do começo tumultuado do grupo. Como as integrantes originais LaTavia Roberson e LeToya Luckett foram expulsas, sem cerimônia, o drama girava em torno da possibilidade do segundo álbum das Destiny’s Child ser ofuscado.

Mas, apesar dos melhores esforços dos tabloides, o “The Writing’s On The Wall” saiu ileso, cheio de hits e destinado a se tornar um dos álbuns de r&b mais vendidos de todos os tempos.

Os dez mandamentos do feminismo

Da esq. p/ dir: LeToya Luckett, Beyoncé, Kelly Rowland e LaTavia Roberson: a formação original que gravou os vocais de “Say My Name” (Foto: Nicky J. Sims/Redferns)

Se nos anos 1960 Aretha Franklin impôs “respeito” e nos 80 Janet Jackson assumiu o “controle” de sua vida, as Destiny’s Child cultivaram mensagens feministas que se destacaram em meio a muitas girl bands com canções dançantes e baladas sobre coração partido dos anos 90. Muito antes de Dua Lipa criar suas próprias “regras”, elas já ditavam uma espécie de “dez mandamentos feministas” e gravavam canções sobre liberdade financeira, relacionamentos tóxicos e expressão sexual.

Para artistas tão jovens e com pouco tempo de carreira, elas conseguiram capturar uma imagem impressionantemente completa do que significava ser uma mulher. “Bills, Bills, Bills” alertava sobre um cara explorador. “So Good” é uma faixa arrogante, que ri na cara de quem duvidou delas. “Jumpin’ Jumpin'” é uma ode à diversão entre amigas (e sem seus parceiros). “Bug A Boo” era um alerta sobre relacionamentos obsessivos e claustrofóbicos. E jamais ignore os sinais de um trapaceiro – esta era a mensagem de “Say My Name”.

Todas as músicas validaram as experiências românticas de muitas mulheres e deram permissão para que apontassem os dedos e acenassem com a cabeça em reconhecimento. E não é por acaso que, nos 20 anos que viriam, Beyoncé transformaria essa mágica poderosa em uma marca pessoal: desde “Single Ladies (Put a Ring on It)”, passando por “Run The World (Girls)” e chegando a “Sorry”. Com créditos de composição em 11 das 16 faixas de “The Writing’s On The Wall” e a maior parte dos vocais, é justo dizer que este foi um bom aquecimento para o estrelato solo que viria anos depois.

Um hino sobre a influência que uma grande mulher exerce sobre um homem

“Say My Name” passa por vários elementos sonoros, indo de um baixo lento e sexy para cordas sincopadas, pesadas em sintetizadores e scratchs feitos por um DJ. Ao longo de mais de quatro minutos, Beyoncé, Kelly, LaTavia e LeToya harmonizam como pássaros sobrevoando o céu do Texas. “Se ninguém está perto de você, diga ‘baby, eu te amo’, se você não estiver brincando comigo”, elas pedem aos companheiros, seguidos da afirmação: “Você está agindo estranho, não me chama de ‘baby’, por que a mudança repentina?”

A história de “Say My Name” foi inspirada em um relacionamento vivido por LaShawn Daniels, morto no início deste mês em um acidente de carro na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Compositor de hits que alcançaram o Top 10 como “Telephone” (Lady Gaga e Beyoncé), “You Rock My World” (Michael Jackson), “The Boy is Mine” (Brandy e Monica) e “If You Had My Love” (Jennifer Lopez), LaShawn escreveu a letra ao lado das quatro integrantes originais, além Fred Jerkins III e do produtor Rodney “Darkchild” Jerkins.

“Se eu estivesse em qualquer lugar, até no trabalho, e se minha namorada ligasse e ouvisse a voz de alguém no fundo, ela perguntaria quem é e pediria para dizer seu nome e que eu a amava”, disse LaShawn em uma antiga entrevista. “A música nasceu desta premissa constrangedora e eu lembro de ter tido essa conversa com Beyoncé, que à época namorava e entendia a situação”, completou o compositor, que também afirmou o quanto a contribuição criativa de Beyoncé era inegável dentro do quarteto.

Então, de onde “Say My Name” angaria este fascínio? Com uma longa história ao escrever hits de r&b sobre empoderamento como “He Wasn’t Man Enough”, da Toni Braxton, LaShawn dizia que sua missão era inspirar os ouvintes a criar uma mudança. O compositor apontava para a associação universal da letra e uma conceituação bem elaborada a uma situação corriqueira na vida das pessoas. A liberdade sonora, a instrumentação autêntica e as progressões de acordes que evocam emoções ajudam a classificar a faixa como uma boa amostra musical do final dos anos 1990.

“‘Say My Name’ foi mais íntima e detalhada no que diz respeito às Destiny’s Child não tolerarem a tolice dos homens. Sou um cara que acredita que as mulheres são extremamente mais espertas que os homens. Eu acho que se você capacita uma mulher, você capacita o mundo. Até a influência de uma grande mulher pode fazer um grande homem”, finalizou.

A consagração definitiva

Kelly, Beyoncé e Michelle na 43ª edição do Grammy, em 2001 (Foto: Getty Images/Uso autorizado POPline)

No início de 2000, as Destiny’s Child já tinham deixado para trás outras girl bands norte-americanas contemporâneas como o 702 e Blaque. E no dia 18 de março, “Say My Name” alcançava o topo da Billboard Hot 100, onde ficou por três semanas. A América (e por que não, o mundo) escutava uma mulher confrontando um cara inútil que ela suspeitava estar brincando com seus sentimentos. Além de impulsionar as vendas de “The Writing’s On The Wall” (que alcançou novo pico, o 5º lugar), foi a segunda música do grupo a alcançar o número 1 depois de “Bills, Bills, Bills”, e consagrou-se como o sexto maior single de 2000.

Naquele ano, o clipe dirigido pelo conceituadíssimo Joseph Kahn faturou o VMA de Melhor Vídeo de r&b. Em 2001, a música garantiu os dois primeiros Grammys do grupo: Melhor Canção de r&b e Melhor Performance de r&b por Duo ou Grupo com Vocais, além de ter sido indicada nas categorias de Gravação do Ano e Canção do Ano. Sem dúvidas, um capítulo monumental na história dessas jovens e talentosas mulheres.

O legado para outras gerações

Ainda que “Say My Name” esteja completando duas décadas, ela continua a inspirar os fãs de r&b, que por sua vez a tem como uma das grandes referências da música pop dos últimos 20 anos. O cantor e compositor James Fauntleroy cantou o refrão do hit durante sua participação em “Girls Love Beyoncé”, lançada por Drake em 2014. O clipe de Kehlani para seu single “Distraction” traz referências ao colorido usado pelas Destiny’s Child em seu vídeo. Até mesmo Cardi B fez referência à faixa no single “Clout”, lançado pelo marido Offset.

Ninguém poderia prever o legado que a música carregaria. O produtor Darkchild se diz satisfeito com os resultados obtidos. “Você olha 20 anos depois e é como pensar: ‘Uau, eu fazia parte dessa história e nem sabia disso’. O que sabíamos é que tínhamos a oportunidade de estar no estúdio com as Destiny’s Child, e não foi nada fácil. Ficamos dias pensando e tentando montar as coisas. Fizemos tudo o que podíamos para garantir o sucesso. E eis que, 20 anos depois, estou fazendo uma entrevista sobre uma música que fizemos. Acho que a missão foi cumprida”, disse ao site Consequence of Sound.

“Say My Name” foi o anúncio oficial de que algumas estrelas tinham despontado no universo pop – e inegavelmente a maior delas, Beyoncé. Um clássico seminal que nos deu um gostinho do orgulhoso e alegre feminismo que muitos de nós tivemos a sorte de acompanhar nessas últimas duas décadas.

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