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Por que grandes nomes do pop respeitam ciclos artísticos?

(Foto: Instagram/@beyonce; @jao; @taylorswift)

Se você é um grande fã de música pop e acompanhou o ritmo nas últimas décadas, pôde ver grandes atos que marcaram a história do estilo musical. No entanto, com a intensificação das redes sociais e da internet, se tornou comum ver artistas que se “vendem” para o algoritmo por acreditar que aquele é o melhor caminho para o sucesso. Mas, se isso é verdade, o que faz grandes nomes da música pop seguirem investindo tempo, trabalho e dedicação em ciclos artísticos?

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(Foto: Instagram/@gloriagroove; @ladygaga; @dudabeat)

Antes de tudo, é importante entender que um ciclo artístico é formado por todo o processo em volta de um lançamento. Dentro dele, entram diversos pontos, desde a pesquisa, criação e produção, até a criação de uma identidade visual consolidada e, também, estratégias para gerar interesse.

No Brasil, por exemplo, o mercado se acostumou com lançamentos constantes. Enquanto temos Jão trabalhando com cuidado todas as suas eras e investindo em experiências que surpreendam os fãs, vemos outros artistas explorarem sempre mais do mesmo em planejamentos apressados. Afinal, não há muito tempo para pensar no que é possível entregar para além do ‘básico’.

Esse mesmo cuidado costuma ser visto em trabalhos como o de Duda Beat, Gloria Groove, BK’, entre outros nomes. É comum vermos esses artistas se dedicarem mais ao lado musical e, então, criarem uma estética e um enredo que se mantém e ganha complementos ao longo da era. Isso, inclusive, consolida um público que valoriza não apenas um lançamento, mas também o storytelling que é criado a partir disso.

Isso, no entanto, não é uma possibilidade apenas para artistas abraçados por gravadoras ou por algum selo. Na verdade, vemos estrelas que, mesmo sem ter um grande investimento por trás, trabalham e constroem eras cuidadosamente, como Liniker e MC Tha, por exemplo.

Jaloo, inclusive, é outro exemplo que pode ser dado quando falamos sobre artistas que respeitam ciclos artísticos. Entre o “ft. (pt. 1)”, lançado em 2019, e o “MAU”, de 2023, foram quatro anos de espera. Esse tempo, no entanto, foi fundamental para criar o novo trabalho da cantora, que reforçou sua identidade enquanto artista com um álbum que dialoga e passeia com diferentes sonoridades.

Avalanche de lançamentos não garante sucesso

Os ciclos artísticos se tornam um problema quando batem com uma indústria que, cada vez mais, exige uma quantidade maior de lançamentos, cada vez mais rápidos. Afinal, é nesse movimento que os artistas deixam de enxergar a possibilidade de viver diversos ciclos.

No entanto, é comum vermos estrelas presas em um loop infinito, sem pausas ou um maior tempo para pensar no que importa: a música. Isso, inclusive, gera uma avalanche de lançamentos, que se tornou comum no mercado nacional.

Porém, esse tipo de estratégia precisa ser pensado partindo de dois pontos de vista. Afinal, qual é o impacto uma série de lançamentos, feita com foco em números, tem, de fato, na indústria e no espaço cultural? Esse tipo de “vício” pode colocar artistas dentro de um quadrado onde o trabalho não representa muita coisa além de números e, quem sabe, um viral na rede social.

Música internacional é mais permissiva com ciclos artísticos

Ciclos artísticos bem formulados permitem que os cantores vivam diferentes momentos dentro da sua identidade. Nos anos 2010, por exemplo, era comum ver Lady Gaga apresentar uma estética totalmente diferente ao iniciar a divulgação de um novo álbum. Isso, inclusive, não era apenas um ‘detalhe’ de composição do projeto. Na verdade, se tratava de uma forma de comunicar a essência da ideia para além da música.

Isso é visto, também, na discografia da Taylor Swift. Nós já a vimos investir em uma pegada mais country, um pop mais comercial, assim como músicas que explorem mais o folk e indie. Tudo isso é possível sem que as ideias se atropolem e virem um ciclo perdido, desfocado e sem respiro entre eles.

O bilhete de passagem para o mundo dos ciclos artísticos perfeitos é entender que tudo leva tempo. Tempo esse que pode passar rápido ou pode durar longos anos. Beyoncé é um bom exemplo disso. Entre o “Lemonade” e o seu sucessor, “Renaissance”, por exemplo, foram seis anos.

Nesse meio tempo, a cantora trabalhou em diversos projetos paralelos, como a On The Run Tour II e o Black Is King, com o lançamento do The Gift. No entanto, esse período também possibilitou o início de um novo ciclo artístico consolidado para o projeto que, até o momento, só conhecemos dois atos em dois anos desde o seu início.

Vale lembrar que a cantora, que popularizou os álbuns visuais, com o “BEYONCÉ” e o “Lemonade”, surpreendeu a trabalhar uma era completa sem, sequer, um clipe. Além disso, a divulgação do álbum se resumiu a uma turnê, que passou pela Europa e América do Norte. Mesmo asssim, o “Renaissance” foi um sucesso global e atingiu recordes para a artista.

Artistas precisam descansar, mas os fãs também

A imagem de um artista precisa descansar, e isso acaba não acontecendo por diversos motivos. O primeiro é o medo. Do lado de lá, a indústria teme os impactos de uma ausência numa geração de consumidores que passam a tela de um celular com a maior facilidade do mundo.

Enquanto isso, os fãs clamam por conteúdo o tempo todo. A prova disso é quando um artista lança algo e já é perguntado sobre o próximo passo. Beyoncé, por exemplo, lança um novo álbum já sendo questionada pelos visuais ou por uma turnê. O mesmo acontece no Brasil com diversos artistas, como Jão, Luísa Sonza ou IZA. Parece que a música, na verdade, ficou de escanteio e o que o público passou a se interessar mais por estreias e ineditismo que envolve esses lançamentos.

Depois disso, vem a pressão. Afinal, por trás de um artista, existe uma multidão de pessoas dispostas a investir muito dinheiro em busca de lucro. Dessa forma, o excesso de lançamentos faz sentido quando o único objetivo é alcançar mais e mais resultados. Enquanto isso, diante de uma voz do pop, também há uma legião de fãs, que clama por novidades.

Por isso, é bem difícil resistir à pressão do público e da indústria em criar cada vez mais conteúdo. Além disso, as redes sociais também incentivam esse excesso. Afinal, os artistas precisam da internet para divulgar seus trabalhos. No entanto, esse mesmo espaço pressiona para que não exista um “momento off”, com a possibilidade de uma queda brusca no engajamento.

Outro desafio para o artista é lidar com o ego. No entanto, é preciso entender que o excesso não é o melhor amigo de um bom planejamento. Ou seja, por mais que você tenha sucesso com um lançamento, isso não quer dizer que o seguinte terá o mesmo resultado. Ainda mais se for feito de forma rápida, para aproveitar um bom momento.

Distância gera saudade e ansiedade por novidades nos fãs

Os artistas precisam entender que podem tirar um tempo para focar em sua música. Afinal, não só eles, mas os fãs precisam disso. A distância para um momento de produção, nos bastidores, possibilita ansiedade pelo o que está por vir. Um interesse claro do público em novidades, alimentado por uma rede de expectativas bem gerida, é fundamental para um bom planejamento e, sem dúvidas, gera bons resultados no futuro.

Rihanna, por exemplo, está distante da música desde o seu último álbum, lançado em 2016. Desde então, a cantora não perdeu fãs ou seguidores, pelo contrário. Atualmente, a artista possui mais de 86 milhões de ouvintes mensais somente no Spotify e tem um dos retornos mais aguardados da indústria atualmente. A expectativa por novos lançamentos é tão grande que qualquer entrevista ou movimento mínimo já deixa os fãs ansiosos pelo o que pode estar por vir.

Em suma, os ciclos artísticos desempenham um papel crucial na capacidade dos artistas de explorar plenamente suas habilidades e expressões criativas. Ao permitir pausas estratégicas entre os lançamentos, esses ciclos possibilitam que os artistas se reinventem, experimentem novas direções musicais e desenvolvam projetos que transcendam as expectativas do público.

Essa abordagem não apenas fortalece a integridade artística dos músicos, mas também enriquece a experiência dos fãs, proporcionando-lhes uma jornada emocionante e gratificante através da música. Assim, ao reconhecer a importância dos ciclos artísticos, tanto os artistas quanto seus admiradores podem desfrutar de um panorama musical mais diversificado, autêntico e memorável.

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