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Pitty explica o novo projeto “VIDEOTRACKZ” e reflete sobre a indústria do entretenimento durante a quarentena


As cabeças pensantes certamente estão em ebulição durante a quarentena e Pitty é uma delas. Nesta quarta-feira (15), a cantora lança em seu perfil no Instagram a série “VIDEOTRACKZ”, que traz pequenos cortes visuais de cada uma das faixas do primoroso álbum “Matriz”. Lançado há cerca de um ano, o quinto disco de Pitty, que teve sua turnê interrompida pela pandemia de Coronavírus, inspira as produções registradas através da rede social, todas com assinatura da própria artista, e edição de Otavio Sousa, seu parceiro nesta empreitada. No total, a série contará com 13 vídeos, que serão divididos entre abertura, tracklist visual das faixas do “Matriz” e encerramento com créditos. Conversamos com Pitty sobre “VIDEOTRACKZ”, a sobrevida que o projeto traz para o “Matriz”, as produções de diferentes artistas durante a quarentena, as lives musicais e ainda sobre o comportamento da industria do entretenimento durante o período de isolamento social. Confira!

Foto: Divulgação

POPline: Pitty, já vimos e assistimos a muitos trabalhos de “álbum visual”, mas uma tracklist visual, neste formato de 15 a 30 segundos, é algo novo. De onde surgiu esta ideia?

Pitty: A ideia partiu dessa questão do isolamento e de como isso poderia ser usado criativamente. Eu queria falar sobre meu último disco e compartilhar conteúdo com os fãs, mas queria fazer algo que ainda não havia sido feito. Pensei em como nossa relação com a casa em que vivemos, com o ambiente de confinamento, com nosso corpo e objetos que nos cercam estão modificadas e sendo repensadas. O seu sofá continua o mesmo? Pensei também em redescobrir a casa, olhar diferente para cantos e lugares e cômodos. Escrevi mini roteiros caseiros para cada uma das faixas do Matriz, e a ideia era produzir tudo na base do do it yourself, com as ferramentas que estão disponíveis para nós nesse momento. É um jeito de propor arte e música com criatividade e simplicidade, numa linguagem e estética que dialogam com o momento que estamos passando. Ah! A ideia inicial era vídeos de até 30 segundos; mas a coisa foi rendendo, rendendo, e no final tem vídeos de quase 3 minutos.

O que podemos esperar desta série? Além de filmar a si mesma em formato de selfie, o que mais dentro de casa você registrou?

Cada roteiro tem uma proposta diferente que remete a uma track do disco. Por isso, VideoTrackz. Essa tracklist visual usa linguagens diversas, texturas, filtros. Situações, atuações. Escrevi os roteiros pensando em sensações, no cheiro e gosto de cada faixa. E, claro, roteiros simples e possíveis de serem executados “caseiramente”, captados no celular, e principalmente, filmando a si mesma. Em alguns momentos houve dificuldade e necessidade de adaptação, porque filmar a si mesmo nem sempre é tarefa fácil, risos. Fui descobrindo, e dividindo com Otavio Sousa, meu parceiro nesse projeto. Juntos fomos encontrando soluções criativas de edição, cor, recortes. Em casa, registrei tudo.

Usar a plataforma do Instagram de maneira simples, que seja facilmente replicada por outros usuários, parece ter sido algo mandatório neste projeto. Por que?

Porque é um lugar onde temos nos encontrado muito ultimamente. Tem sido uma ferramenta de diálogo e convergência de ideias; e também porque oferece recursos diversos de áudio, vídeo, gifs, boomerangue… A ideia era trazer todas essas estéticas de dentro da rede para um conteúdo editado fora. Como é produzir curtas com esses recursos acessíveis? Tem gente produzindo coisas incríveis com aplicativos gratuitos, acessíveis. Basta criatividade, vontade de se expressar. Eu acho isso incrível, desde sempre, e vai de encontro a uma filosofia de vida que tem a ver com democratização de recursos, autonomia, pensamento crítico. É punk rock. 🙂

Este formato mais simples também permitiu que o projeto saia do papel sem gerar aglomeração de profissionais durante o período da quarentena. Você montou o VIDEOTRACKZ com essa questão em mente?

Completamente. O conceito surgiu justamente pensando nessa condição. O desafio era criar uma obra condizente com o que estamos passando, contemporânea. É uma obra colaborativa, mas à distância. É algo feito explorando as possibilidades do espaço em que se vive. É algo a ser compartilhado, através das redes, com outras pessoas também isoladas para que através disso possamos nos comunicar. Foi algo pensado para ser executado durante a quarentena e por causa dela.

 

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Vejo muitos artistas de diferentes vertentes apostando em lives musicais, shows, e poucos explorando as ferramentas da internet para criar de outras maneiras – como você fez. O que acha disso? O que mais acredita que pode ser feito e o que você gostaria de ver os seus ídolos fazendo?

Acho que tudo é válido, cada um tem um jeito de se expressar. Mas eu também acho que o boom de lives que acabou rolando nos primeiros dias de confinamento deu uma saturada, e me questionei sobre a banalização disso. É massa poder levar arte, alegria e música para as pessoas nesse momento. Penso em fazer alguma coisa nesse sentido em algum momento, mas gostaria de organizar mais, fazer ser especial. Questiono também como atua de forma prática no dia a dia das pessoas o fato da música estar sempre disponível, ao alcance de um clique. Será que alguém pensa em toda cadeia produtiva que deriva daquele trabalho? Será que as pessoas enxergam como um trabalho? Não falo por mim, eu sei que tô numa posição privilegiada. Falo por uma série de músicos independentes e trabalhadores informais que vão de produtores a roadies, técnicos de som e luz, casas de eventos, seguranças, catering de camarim, montadores de palco… Uma indústria que muitas vezes não é vista como tal e que representa 13% do PIB brasileiro, empregando direta e indiretamente por volta de 25 milhões de pessoas. Esse é o mercado de entretenimento. Da minha parte, posso doar meu trabalho e pretendo fazer algo nesse sentido. Uma live, tocar uma viola, de boa. Vou amar esse encontro com as pessoas que curtem meu som. Mas gostaria muito também de conseguir levantar um projeto onde eu ajudasse os profissionais que trabalham comigo e em outros eventos.

“Matriz” é um álbum que já coleciona três videoclipes, um registro ao vivo e um lyric video. Ganhar a série VIDEOTRACKZ pode trazer uma sobrevida ao projeto. Levou isto em consideração?

Levei, sim. Sinto que minha história com esse disco ainda rende um caldo. E, tem um lance especial: nesse mês de Abril faz um ano que ele foi lançado. Achei que seria um jeito massa de comemorar isso também. A turnê foi interrompida por conta da pandemia, então fiquei a fim de continuar contando sobre Matriz. E ainda tem mais por vir…

Nos últimos meses vimos uma série de artistas internacionais e nacionais também gravando videoclipes inteiramente no celular. É algo que você consideraria no futuro?

Super. Especialmente agora! É um momento para exercitarmos e desenvolvermos novas capacidades, ideias, visões e formas. O mundo está diferente, e vamos mudando junto com ele. Que o futuro seja um lugar mais gentil para todxs nós. Beijo grande, cuidem-se e, se puder, fiquem em casa.