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Opinião: Washington Olivetto – o maior criativo da publicidade brasileira de todos os tempos

Marcelo Castello Branco ao lado de Washington Olivetto. Foto: Divulgação

Nizan Guanaes, uma de suas crias mais geniais e também definitivas em seu legado, o definiu com um frase digna de ambos : “Washington Olivetto era o João Gilberto da publicidade brasileira !”.

Washington era muito mais que um publicitário. Era um tsunami de ideias. Era um gênio que não era refém de lâmpadas esporádicas. Era justificadamente vaidoso mas não economizava mentoria, improvisadas de conversas com timing perfeito, nem mais, nem menos.

Era preciso no que dizia, inclusive quando se excedia. Generoso, não media ninguém pelo cargo ou função, mas pela ousadia. Ousadia de querer mais, da ambição positiva da construção, da empatia, da telepatia de conversar ou antecipar outros mundos em cada travessia.

Falar de suas campanhas antológicas é chover no molhado, mas, sua chuva criativa era torrencial e chovia pra todos os lados. Para o comportamento, as marcas, o futebol, e claro, no nosso caso aqui, a música!

Washington foi o publicitário brasileiro que mais entendeu o valor da música na sua relação com marcas e produtos. Aqui, foi um mestre raro, que tratava a música como um bem caro. Pensava como um co-criador musical, conhecia o status da música atual e antiga. Só se acomodava no novo, insaciável que era pelo ainda invisível. Pela tendência que ainda ninguém descobria. Mas, era mago no trato do já consolidado, no transe e trânsitos de linguagem.

Marcelo Castello Branco ao lado de Washington Olivetto e Ronaldo Bastos. Foto: Divulgação

Quando acessava um repertório para suas campanhas, partia de uma posição de respeito, mas também, transgredia. Ciente do poder amplificador da propaganda, principalmente em tempos de verbas escassas na indústria do disco, sabia como seduzir, mas também, como ouvir os argumentos do outro lado.

Foi um grande aliado da música em geral, e da brasileira em especial. Aproximação esta turbinada com outro gigante, André Midani, seu melhor interlocutor no setor e amigo mais próximo. Washington era generoso em tudo e com todos.

Nos conhecemos quando literalmente eu era ainda um jovem inepto mas, cheio de sonhos na gerência de serviços criativos da Sony, apresentado por Sergio Lopes, outro grande criativo a quem substituí na companhia. Me tratou com carinho, me respeitou desde o encontro inicial e me deu corda desde o primeiro instante. Ligava, discutia e propunha campanhas de forma serial e sucessiva, buscava sempre a aproximação com a música em seus trabalhos.

Eu, do meu lado, me agarrava àqueles briefings como um diabo na cruz, tinha insônia criativa consecutivas, mas sempre voltava com um arsenal de propostas e ideias que ele ouvia, acatava ou descartava sem cerimônia ou protocolo. Este exercício criativo me seguiu durante toda minha carreira, mesmo ascendendo e enquanto Presidente.

Marcelo Castello Branco e Washington Olivetto. Foto: Divulgação

Quando Washington ligava, eu parava tudo para atender e principalmente para responder. Uma das muitas virtudes de Washington era sua capacidade de retornar um telefonema, e-mail ou WhatsApp em tempo absolutamente recorde, como um Usain Bolt corintiano. Eu sempre pensava e ainda penso: “se o Washington Olivetto pode responder por que eu não?”.

Esta humildade desconcertante de Washington me persegue em todos momentos mais complexos de administração de tempo na minha vida. E me faz pensar quando alguém me deixa no vácuo ou vazio sem resposta em tempo hábil. No sábado passado, fui testemunhar um painel sobre esta relação de música e marcas em um evento do Festival do Clube da Criação em São Paulo, habilmente moderado por Simoninha e com participação brilhante de especialistas da área de sincronização das editoras Warner, BMG, Universal e Sony.

No dia seguinte, numa coincidência triste, recebi a notícia de seu falecimento. O mundo da música no Brasil tem muito a agradecer a Washington Olivetto, um fervoroso e ativo promotor de suas qualidades, delírios e originalidade.

Vai deixar saudades e desmentir a falácia leviana que todos são substituíveis. Washington não.

Marcelo Castello Branco.

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Marcelo Castello Branco é CEO da União Brasileira de Compositores, Board Member da CISAC e

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