No Dia Internacional da Mulher, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) lançou o primeiro relatório “O que o Brasil ouve” com uma edição especial que analisa a participação de mulheres na execução pública em todo o Brasil no ano de 2020.
Divulgar esse relatório é um desejo de longa data e posso afirmar, como coordenadora de Comunicação e Relacionamento da instituição, que estamos felizes por publicar esses dados como uma análise e um alerta para todo o mercado nacional da música: podemos afirmar, categoricamente, que a música consumida no Brasil é essencialmente composta, interpretada, tocada, produzida e editada essencialmente por homens.
De todos os valores que o Ecad distribuiu para pessoas físicas em 2020, somente 7% foram destinados a mulheres (temos, no entanto, uma boa notícia aqui: quase 70% desses valores remuneraram profissionais brasileiras). Além disso, se considerarmos os rankings dos “100 compositores com maior rendimento” dos últimos cinco anos, a média da presença de mulheres se resume a meros 5%.
Ao analisarmos o banco de dados, temos uma perspectiva mais animadora: na última década, houve um aumento de 1.200% de cadastros de mulheres em todas as categorias representadas pelas sete associações de música que administram o Ecad (Abramus, Amar, Assim, Sbacem, Sicam, Socinpro e UBC) e a quantidade de mulheres remuneradas também saltou de 6 mil em 2010 para 22 mil no ano passado. A realidade de hoje é que 85% das pessoas cadastradas são homens.
O relatório completo pode ser acessado aqui.
Essa realidade, por mais alarmante que seja, não é restrita à execução pública – tampouco ao universo da música, vale reforçar. Na pesquisa “A mulher na indústria da música”, que defendi recentemente como minha dissertação de mestrado, investiguei o conceito de paridade de gênero entre lideranças corporativas e, para avaliar o real poder de comando das mulheres na indústria da música atual, fiz um levantamento dos nomes de profissionais que ocupam os cargos mais altos das principais empresas do ramo no Brasil e no mundo.
Como resultado, entre as 40 empresas avaliadas em escala global, somente cinco são lideradas por mulheres, o que equivale a 12,5% do universo estudado. O cenário nacional se mostra um pouco menos acachapante para as profissionais em cargos de liderança: se consideradas somente as empresas em operação no Brasil, o percentual é de 16,6%, enquanto a liderança de mulheres das empresas com sede fora do país cai para 6,2%.
Esta análise considerou as principais companhias (gravadoras, editoras, plataformas de streaming, agregadoras e distribuidoras e a gestão coletiva de direitos autorais), definidas a partir dos principais relatórios anuais da indústria da música do Brasil e do mundo. Em conjunto, elas são detentoras de enorme fatia do mercado nacional e global da música, e a discrepância observada evidencia que as mulheres ainda têm um longo caminho a percorrer até terem, de fato, o poder de participar das decisões dos rumos da indústria na qual atuam e da qual sobrevivem.
Embora todos esses números não nos concedam muitos motivos para comemorar, hoje eu celebro a publicação de todos esses dados como um convite à reflexão. Identificar um problema e conhecê-lo de perto são os primeiros passos para que o mercado pense sobre a inserção das mulheres em todas as etapas – desde a perspectiva técnica até a criativa, da administrativa à executiva –, para que nosso universo da música seja cada vez mais igualitário e justo, refletindo a diversidade brasileira.