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Opinião: Content-market fit

Como identificar a necessidade de capital para uma carreira artística atrelado a um nível de risco mensurável; artigo de opinião assinado por Igor Bonatto, para o POPline.Biz é Mundo da Música
Content Market Fit - Igor Bonatto
Content Market Fit - Igor Bonatto. Foto: Unsplash/Divulgação

No universo das startups, existe um conceito muito conhecido chamado de product-market fit         (”PMF”), em inglês. Em estágios mais iniciais de um negócio, esta é a métrica número 1 a se alcançar. Significa que sua empresa criou um produto demandado por um público (que está disposto a pagar por ele) e encontrou um canal de distribuição adequado para oferecer este produto para o respectivo público.

Por que atingir o PMF é tão importante? Primeiro, porque significa que sua empresa encontrou um caminho de prosperar. Segundo, porque é um forte indício de que a injeção de capital no negócio será utilizado para o crescimento e, portanto, tem boas chances de oferecer um retorno sobre o investimento.

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E o que isso tem a ver com a música?

Já falei com centenas de artistas que estão buscando recursos, mas que, na prática, não precisam. Produzir custa, divulgar custa, equipe custa; como assim não precisa de recursos? Aqui me refiro especificamente sobre dinheiro para o desenvolvimento de carreira, não sobre os custos pessoais de cada um (o que, entendo, para muitos isso é indissociável).

Assim como uma empresa precisa se provar para acessar capital de crescimento, eu acredito que o mesmo é válido para carreiras artísticas. Todo aporte de capital tem um custo e, portanto, só deve ser captado para potencializar o crescimento. O ganho deve exceder o custo e isso só acontece crescendo.

Quem está aportando recursos precisa de um indicador para mensurar o risco e o artista, por sua vez, precisa de um indicador que confirme sua necessidade de capital demonstrando a viabilidade sustentável de sua carreira. Entra o que chamo de content-market fit (“CMF”).

Artistas e empresários acreditam na alavancada do mercado, revela relatório

Foto: Unsplash/Leslie del Moral

Eu defino CMF da seguinte forma:

Você criou um conteúdo que é amado por um público disposto a pagar e dominou os canais de distribuição.

Como veremos, este indicador é composto de 3 partes: produto, público e distribuição.

um conteúdo que é amado…

Por conteúdo eu quero dizer os diferentes tipos de produtos gerados por uma carreira. O mercado deixou de ser apenas sobre obra e fonograma e o público demanda tudo o que se pode imaginar. Com a abundância sem precedentes de conteúdo, produzir algo que tenha aceitação e demanda recorrente se tornou um grande desafio. Quem vence esta barreira já tem um terço do caminho andado.

… por um público disposto a pagar…

Artistas comprometidos com uma carreira profissional precisam de público. É o único caminho sustentável de geração de receita e, imagino, um dos grandes objetivos de quem vive da música. Encontrar um público que demanda seu trabalho não impacta apenas suas decisões criativas e de comunicação, como também no tamanho, risco e potencial do seu mercado.

… dominou os canais de distribuição.

Os canais de distribuição estão aí para todo mundo. Mas colocar um produto na rua e dominar estes canais são coisas bem diferentes. O que funciona para um público, não funciona para o outro; o que funciona para um artista, não funciona para o outro. Você não precisa de um único centavo se ainda não dominou seus canais. O dinheiro deve potencializar um alcance que já está em crescimento e não ser a cura mágica para um crescimento que não existe.

A busca por CMF é justamente o processo de validação de uma carreira e não tem a ver com tempo de carreira, com qualidade técnica ou com sorte. CMF também não é necessariamente permanente. A demanda pelo conteúdo varia com o tempo, bem como o público e os canais de distribuição.

Foto: Unsplash/Austin Distel

A busca pelo CMF é feita de ciclos de iterações. Criar, testar, lançar e polir seu conteúdo, seu público e os canais de distribuição utilizados. Os três pilares — conteúdo, público e distribuição — se retroalimentam e mudanças em um interferem no outro. Por exemplo, mudar seu estilo musical, ou seja, produzir um conteúdo diferente do habitual, pode implicar na rejeição do seu público atual, porém, na aceitação de outro público, mas que só é alcançado através de outro canal de distribuição. Tenha em mente que o CMF só é alcançado com a harmonia entre os pilares. Não espere ajustar um item sem notar consequências no(s) outro(s).

Por isso, frequentemente sugiro aos artistas focarem em desenvolver bons produtos, encontrarem seu público-alvo e acertarem o canal para conectar as duas coisas antes de pensar em dinheiro. Ao atingir o CMF, o artista terá acesso a capital. Seja de um edital, de uma gravadora, de uma distribuidora ou de soluções financeiras como noodle. O objetivo de toda fonte financiadora é impulsionar aquilo que já funciona. O CMF pode ser justamente a forma de demonstrar que sua carreira funciona.

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Igor Bonatto (@igorbonatto) é fundador da noodle (noodle.cx), o primeiro banco digital para artistas e empresas musicais. Antes, Igor fundou a produtora audiovisual Claraluz Filmes, a agência de inovação criativa THT, dirigiu e produziu filmes publicitários, videoclipes, curtas e longas.

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