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Opinião: Como prosperar em mais um ano maluco (sobrevivendo a 2022)

Artigo de opinião assinado por Igor Bonatto, colunista do POPline.Biz é Mundo da Música
Igor Bonatto, fundador da noodle e colunista do POPline.Biz é Mundo da Música
Igor Bonatto | Foto: Acervo Pessoal

O ano de 2022 é promissor, mas não deixemos o otimismo engolir a prudência. As lições duras que aprendemos na marra nos últimos 2 anos não podem ser ofuscadas pelo sentimento de que a bonanza está chegando e de que está tudo resolvido.

Também não é hora de pânico. Nunca é.

Este será um ano atípico, de volatilidade e incertezas. Janeiro é a prova disso. O que não quer dizer ruim. Mais importante do que tentar prever o futuro é saber como reagir ao acontecimentos.

Se a crise ou a oportunidade bater em sua porta, esteja preparado. Veja como:

Cuide de seu público e de seu produto

Na música, o que existe de mais precioso são: público e produto. Público é sinônimo de alcance, engajamento e, consequentemente, receita. Produto é o que seu público irá consumir de você: sua música, por exemplo.

Não adianta ter um bom produto e não ter público; tampouco ter público sem um bom produto serve para alguma coisa duradoura. Hoje, basta um celular e conexão à internet para se conquistar os dois. Ter público significa ter um canal de distribuição para seu produto. Some as duas coisas e receita é a consequência. Crise alguma é justificativa para ignorar público e produto.

Diversifique suas receitas

A máxima presente no universo de investimentos, “nunca coloque todos os ovos na mesma cesta” é igualmente válido para a indústria da música. Para a maioria dos artistas, shows são a principal fonte de receita.

O problema é que para muitos é a única fonte de receita. Quando a pandemia começou e passou a se alastrar por meses e meses, impossibilitando shows de todos os portes de acontecerem, milhares de artistas ficaram sem chão. Os que conseguiram atravessar esse período de quase 2 anos minimamente bem? Aqueles que já diversificavam suas receitas.

O streaming, com tantas críticas que recebe, pagou as contas de muita gente. Alguns conseguiram monetizar suas redes sociais. Outros, aproveitaram a fase das lives. Parcerias com marcas. Merchandising. Licenciamento. Colabs. Plataformas alternativas. E não estou me referindo às grandes estrelas. Foram artistas com público infinitamente menor, mas que entenderam o poder da diversificação.

Com a retomada dos shows, que voltará a ser a maior fonte de receita para muitos, não se pode voltar atrás. O artista precisa se ver como um canal de distribuição e não apenas alguém que sobe no palco. Diversificar suas fontes de receita é se proteger contra incertezas e crises.

Sem extravaganza, por favor

Muitos se privaram de certos consumos durantes os últimos 22 meses. Em sua grande maioria, por falta de recursos, realmente. Outros, por pura cautela. Nos primeiros indícios de que suas receitas voltaram ou superaram um patamar pré-pandemia, é natural querer matar a vontade daquilo que estava reprimido. Mas em períodos de volatilidade, não se pode tomar decisões baseadas nas altas. Segure o consumo até atingir uma real estabilidade. As reviravoltas atuais são excessivamente repentinas e você não quer ser pego de surpresa.

Foto: Joshua Mayo/Unsplash

Tenha reservas

Uma das primeiras coisas que se aprende em finanças pessoais é criar uma reserva para emergências. Não custa repetir. Muitos dos que a tinham, esgotaram essa reserva durante a pandemia. Se ela foi importante para você, não se esqueça de reabastecê-la. Se você nunca a teve, pense em como ela poderia ter sido importante durante as baixas dos últimos meses e para futuros ciclos de crise.

Crie ativos

Ativo é sinônimo de entrada de dinheiro. Caixa, bens, crédito ou direito de recebimentos. Suas músicas, obras e fonogramas, são os ativos mais conhecidos do mercado. Nunca pare de produzir e buscar formas de gerar valor para estes ativos. A construção de um catálogo sólido é um importante patrimônio de um artista.

Aumente sua liquidez

Liquidez é capacidade de transformar ativos em dinheiro (e poder gastar com alguma coisa). Existe uma escala de liquidez. Por exemplo, uma conta bancária com aplicação automática é muito líquida, pois você pode, em teoria, sacar esse saldo em dinheiro a qualquer momento. Um imóvel é pouco líquido, pois para usar o seu valor é preciso vendê-lo, e isso demora.

Os ativos de uma carreira musical tendem a ter pouca liquidez. A entrada recente de fundos para compra de catálogos mudaram um pouco esse cenário, mas ainda é algo muito restrito. No entanto, existem alguns hacks que podem tornar seus ativos mais líquidos para o caso de precisar de recursos no curto-prazo:

  1. Prepare seu catálogo: existem várias formas de liquidar seu catálogo, através de venda, licenciamento, financiamento e por aí vai. Porém, você sabe quanto ele vale? Você tem o histórico organizado? Está tudo registrado e cadastrado? Seus contratos são sólidos? Ter tudo preparado certamente te ajudará em qualquer negociação.
  2. Negocie seus contratos de shows: receber “por fora” ou realizar shows sem contrato, por exemplo, é perder a oportunidade de transformar shows futuros em ativos. No entanto, para aumentar a liquidez desses contratos, fique atento a cláusulas de cancelamento e condições de pagamento, pois elas podem facilmente transformar este contratos em algo sem valor de mercado.
  3. Negocie seus contratos com marcas: muitos contratos com marcas possuem cláusulas que proíbem a cessão e isso te impede de liquidá-lo antecipadamente. Negociar maneiras de aumentar a flexibilização decorrente de possíveis restrições sanitárias ou cancelamentos é importante. Por fim, buscar contratos com fluxos de pagamentos recorrentes (mensal, por exemplo) ao invés de grandes boladas pontuais é o ideal.

*consulte sempre seu jurídico

Aposte só aquilo que pode perder

No mercado financeiro, há correlação entre risco e retorno. Regrinha básica: maior o risco, maior o potencial de retorno. Em uma carreira, projetos tendem a se comportar de maneira análoga. Quanto maior o investimento necessário para viabilizar uma iniciativa, maior o risco e, portanto, maior potencial de retorno (deveria, pelo menos).

Em períodos de incerteza, no entanto, é preciso se proteger dos tantos riscos envolvidos. E uma das estratégias é focar não em maximizar o potencial de ganhos (exposição a mais risco), mas em minimizar as chances de perda. Ganhar um pouco a mais é bom, mas não perder tudo é melhor. Ao escolher os projetos em que irá apostar, até ter um excesso de reservas, prefira focar naqueles que, se tudo der errado, não vão te quebrar. Ir para o tudo-ou-nada em 2022 é abraçar a sorte. Neste caso, aposte na loteria que é mais barato.

Não dependa de governo

Como eu disse em meu texto “O problema do dinheiro público”, vejo dinheiro público como bônus, não como modelo de negócios. A dependência excessiva dele é perigosa e frágil.

As medidas públicas de combate à pandemia precisam, sim, estarem amparadas em alívio financeiro. Não se pode impedir milhares de famílias de trabalharem sem amparo. O que eu quero dizer é que reduzir ou eliminar essa dependência é preferível e possível. Trabalhe e se planeje como se esse dinheiro não existisse.

Das centenas de artistas que passaram pela minha empresa, noodle, boa parte buscava recursos para apagar incêndios decorrentes da pandemia. Uma pequena parcela chegava pelo caminho oposto, buscando recursos para crescer ainda mais. Sem exceção, os que estavam se saindo melhor tinham as regras acima como mantra.

Não existe um caminho único, nem um caminho fácil. Mas a simples busca por estes objetivos já te coloca em um patamar melhor do que o comodismo. A pandemia apenas acelerou mudanças iminentes no comportamento do mercado. Ter controle, prudência e planejamento com suas finanças é o único caminho de vencer em um mercado ainda mais dinâmico em um ano sabidamente diferente.

Não fique à mercê das loucuras do mundo. Prepare-se para o que der e vier. É possível prosperar em 2022.

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Igor Bonatto (@igorbonatto) é fundador da noodle (noodle.cx), o primeiro banco digital para artistas e empresas musicais. Antes, Igor fundou a produtora audiovisual Claraluz Filmes, a agência de inovação criativa THT, dirigiu e produziu filmes publicitários, videoclipes, curtas e longas.

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