Há tempos, quero analisar a estratégia adotada por algumas cantoras internacionais de conceder poucas ou até mesmo apenas uma entrevista durante a divulgação de seus álbuns. Essa abordagem tem se mostrado eficaz para criar expectativa, gerar interesse e manter o controle da narrativa em um mercado altamente competitivo. Nesta coluna, discutiremos como essa estratégia tem sido implementada por artistas pop de renome, explorando suas motivações, os benefícios e desafios envolvidos.
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O mercado está sendo impactado por profundas transformações, mas a divulgação de um álbum novo ainda é um momento crucial na carreira de uma cantora pop (e, claro, também em outros gêneros musicais). É o período de apresentar seu novo trabalho ao público, conquistar novos fãs e reafirmar sua posição no cenário musical. No entanto, nos últimos meses, temos observado uma tendência interessante: alguns artistas têm optado por dar poucas ou até mesmo apenas uma entrevista na fase promocional.
Existem diversas motivações por trás da escolha de conceder poucas entrevistas. Uma delas é a criação de expectativa. Ao restringir o acesso à sua persona e ao conteúdo do álbum, as cantoras pop conseguem gerar um maior interesse e curiosidade por parte do público e da imprensa. Além disso, também permite que elas mantenham o controle sobre a narrativa, evitando interpretações errôneas.
Outro benefício é a possibilidade de focar a atenção na qualidade do conteúdo divulgado. O artista pode concentrar-se em uma única oportunidade de promover seu trabalho de forma mais aprofundada e a exclusividade da entrevista pode gerar maior cobertura midiática. É neste passo tão importante que a assessoria de comunicação é fundamental: a escolha do veículo de imprensa e do jornalista deve ser certeira para cumprir o objetivo da estratégia. Um erro pode ser fatal e prejudicar todo o planejamento de divulgação.
Um dos maiores exemplos desse tipo de comunicação ainda é o lendário Michael Jackson, que pouquíssimas vezes deu entrevistas para comunicar um novo álbum. No Brasil, o mesmo ocorre com outro rei, Roberto Carlos — que raramente aparece e, quando o faz, normalmente prioriza apenas um veículo para fazer alguma divulgação de imprensa. Pelo visto, funciona, vide esses dois exemplos.
No entanto, essa estratégia também apresenta desafios. O artista precisa ter certeza de que será eficaz na transmissão de sua mensagem durante a entrevista escolhida. O risco de uma única entrevista dar errado ou ser mal recebida pode ser maior, uma vez que ela carrega todo o peso da divulgação do álbum.
Agora, falando em divas do pop, como há anos não fazia, Beyoncé anunciou previamente, em junho de 2022, que iria lançar um álbum de inéditas – seis anos após o último — e deu apenas uma entrevista sendo esta, para Vogue americana. “Renaissance” chegou um mês depois, mas sem clipes e visuais do álbum — que eram sua marca registrada até então. Mesmo assim: sucesso absoluto! O single “Break My Soul” e o álbum atingiram a primeira posição da Billboard. Outros dois fatores predominantes para a manutenção do disco foi “Cuff It” ter se tornado um hit (orgânico) do TikTok e a “Renaissance Tour”, que estreou na Suécia, ter tido uma multiplicação de vídeos nas redes sociais. Porém, esses últimos passos não envolveram aparições da diva na imprensa.
Quem também atuou de forma tímida foi Miley Cyrus, com apenas uma entrevista prévia no The Tonight Show do Jimmy Fallon. Em março deste ano, ela entregou aos fãs o “Endless Summer Vacation”, oitavo álbum de estúdio. O primeiro single, “Flowers”, bateu vários recordes, como o de atingir um bilhão de streams mais rapidamente na história do Spotify. Durante o lançamento, Miley não falou com a imprensa, mas “conversou” com os fãs e ao público através do seu clipe feminista e apresentações ao vivo em seu canal no YouTube. E mesmo assim, a americana continua sendo (organicamente) pauta três meses depois do lançamento.
Outro forte e bom exemplo é Lady Gaga, onde seu último trabalho, “Chromatica”, obteve pouquíssimas entrevistas e o trabalho de manutenção foi feito com a turnê “The Chromatica Ball”.
Eu preciso ressaltar que existe algo comum entre essas mulheres: todas elas têm um legado na música e carreiras solidificadas.
No entanto, também é necessário mencionar a contrapartida feita por cantoras como Dua Lipa (Future Nostalgia), Madonna (Madame X), Anitta (Version On Me), SZA (SOS) e Taylor Swift (Midnights). Elas preferiram dar muitas entrevistas e divulgaram massivamente os seus álbuns. Sendo assim, obtiveram resultados nas paradas até mais expressivos. A título de exemplo, “SOS” e “Midnights” ainda permanecem no Top 200 da Billboard em posições mais vantajosas que “Renaissance”. Não faço aqui uma comparação, mas uma análise “clínica”; e ressalto que todos os álbuns pop’s mencionados aqui são de enorme sucesso.
Por fim, vale lembrar que todos os lançamentos mencionados foram escritos e comunicados para imprensa com os seus respectivos releases — obviamente todos feitos por jornalistas/ assessores de imprensa.