Ney Matogrosso acaba de lançar o livro “Vira-lata de Raça” no qual conta sua história como transgressor à frente do seu tempo, com o olhar de quem faz uma reflexão sobre o passado ancorado no presente, sem tirar seus olhos de farol firmes no futuro. O poeta e escritor Ramon Nunes Mello fez a pesquisa e organização do volume, destacando como, dos anos 1970 até hoje, as palavras de Ney Matogrosso combatem a hipocrisia e o preconceito.
Em um dos capítulos mais marcantes – Pro Dia Nascer Feliz – Ney detalha seu relacionamento com Cazuza contando detalhes curiosos desse amor que dura até hoje.
Confira abaixo trechos do livro sobre a relação com Cazuza narrada por Ney Matogrosso:
“…Nós namoramos três meses, mas o amor ficou para a vida toda. Dura até hoje. Eu não tenho essa coisa da pessoa morrer e deixar de amar, o amor pelo Cazuza permanece até hoje”, assume Ney Matogrosso em um trecho.
Já em outro o cantor revela as brigas vivenciadas pelo casal: “Nosso relacionamento só acabou por pura insegurança dele e também porque a loucura estava demais. Ele tinha muito medo do rumo que a nossa história poderia tomar, exigindo mais dedicação e compromisso. Na verdade, acredito que ele tivesse muito medo de se machucar. A gota d’agua foi que, após sumir por alguns dias, Cazuza reapareceu com outro cara, um traficante – e nós discutimos. Eu disse que não queria ele sujo, fedorento, acompanhado de um traficante em minha casa. Cazuza cuspiu em mim e eu bati na cara dele, o expulsei, e a história de amor acabou. Mas uma semana depois fizemos as pazes e estávamos entrando de mãos dadas num restaurante, como velhos amigos”.
Ainda na publicação Ney Matogrosso também relata sobre o ciúmes existente nas relações dos dois: “Quando comecei a relação com o Marco de Maria, Cazuza ficou enciumado, morto de ciúmes, e disse que iria transar com o meu namorado. Eu falei que podia, a relação era aberta e não tinha problemas, inclusive avisei meu namorado que o Cazuza ia procurá-lo para transar. Um dia Marco me contou que ele foi à praia com Cazuza e depois para a casa dele transar. Em seguida, Cazuza me encontrou e disse que tinha transado com Marco. Ficou tudo bem, só perguntei: “Foi gostoso?” Ele disse que sim. Respondi: “Pensa que eu estaria com alguém se não fosse bom? Depois desse episódio continuamos amigos, transamos algumas vezes. E também dormimos juntos sem transar, era gostoso dormir com ele simplesmente para desfrutar da sua companhia. Não tínhamos problemas de posse em relação ao outro, ninguém tinha problemas, havia muita liberdade. Até que chegou a AIDS e nos fez regredir em nossos comportamentos de liberdade sexual, trazendo a morte e o medo como um fantasma a pairar sobre nossas vidas”.