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Nando Reis lança novo álbum “Uma Estrela Misteriosa” e apresenta contraponto ao mercado musical priorizando a mídia física

Foto: Lorena Dini

Nesta semana, Nando Reis entregou ao mundo o trabalho mais ambicioso de sua carreira. “Uma Estrela Misteriosa”, um álbum triplo que se transforma em álbum quádruplo, foi lançado em um lindo box de vinil e teve algumas faixas disponibilizadas nos tocadores de música. Em um bate-papo descontraído, Nando contou ao POPline detalhes desse projeto grandioso, que desafia o mercado musical atual e carrega uma lista de créditos recheada de grandes nomes da música mundial.

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Foto: Lívia Rodrigues

“Uma Estrela Misteriosa”, o álbum triplo de Nando Reis, vem sendo produzido há cerca de dois anos e resgata composições ainda do período de pandemia. Dividido em três discos, “Uma”, “Estrela” e “Misteriosa”, o projeto, em formato físico, ainda conta com um disco bônus, batizado de “Revelará Um Segredo”, que não será disponibilizado na web.

O álbum, no entanto, não nasceu com a pretensão de ser assim, tão robusto, mas, ao poucos, se moldou desta maneira. Com produção de Barrett Martin (Screaming Trees; Mad Season) e co-produção de Felipe Cambraia, o álbum traz em suas faixas a sensibilidade de Nando, um “fazedor de discos” nato, como ele mesmo se descreve.

“Sou da década de 1980, quando todo mundo lançava um álbum novo por ano. O mundo mudou e eu, obviamente, passei a ter um ritmo de lançamentos distinto do que estava acostumado, obedecendo ao mercado. Mas, no fundo, eu sou um compositor de grande produtividade. Hoje, com 61 anos, me sinto muito melhor e mais lúcido. Estou sóbrio, ativo e disposto,” disse Nando.

A disponibilidade de Nando Reis para seu ofício realmente impressiona. Até mesmo seus colegas músicos, entre eles Samuel Rosa, Arnaldo Antunes e Gilberto Gil, que dão depoimentos no documentário originário das gravações de “Uma Estrela Misteriosa”, destacam a alta produtividade do artista. Nando explicou que, apesar de compor em grande quantidade, não se trata apenas de volume:

“Eu tenho um senso de oportunidade, né? Porque são momentos e também é caro fazer um disco. Além disso, dois amigos meus estavam aqui. Barrett mora em Seattle e estava aqui, então eu queria aproveitar e gravar, gravar, gravar, mesmo que não soubesse o que fazer com isso. Eu sou um compositor e gosto de fazer discos e sou ambicioso, mas não é puramente pela quantidade. É que numa quantidade tão grande, as diversidades e possibilidades de combinação e o panorama que aquilo cria é enorme. É como um espectro do meu pensamento e da minha musicalidade, porque é um disco muito diversificado e rico no sentido de músicas com diferentes direções.”

A pluralidade presente em “Um Estrela Misteriosa” também é justificada pela longa lista de músicos envolvidos no projeto. Além de Martin (bateria) e Cambraia (baixo), Nando trabalhou com nomes como Peter Buck (R.E.M.) e Walter Villaça na dobradinha das guitarras e Alex Veley nos teclados. Ele ainda contou com participações luxuosas de Matt Cameron e Mike McCready (Pearl Jam), Krist Novoselic (Nirvana), Duff McKagan (Guns N’ Roses) e seu filho, Sebastião Reis, no violão do 12 cordas.

Sobre a reunião desses grandes nomes e como foram as gravações, Nando disse:

“Peter (Buck) participou dos três discos, ‘Uma’, ‘Estrela’ e ‘Misteriosa’, o disco bônus não, assim como Sebastião, meu filho, participou de grande parte do disco. Ter duas guitarras, especialmente a do Peter Buck, que é um guitarrista muito singular, e a forma como ele e Walter se combinaram foi um elemento de expansão da sonoridade e foi um estimulante para que a gente pudesse perceber que estávamos criando e explorando áreas diferentes. Como se eu tivesse ampliado a minha zona de trânsito. Obviamente as outras participações também são importantes. O Matt Cameron, por exemplo. Ter duas baterias na mesma música é um negócio que sempre me encantou por conta do George Harrison no ‘All Things Must Pass’ e no ‘Bangladesh’, onde Ringo e Jim Keltner tocam juntos.”

Ele continuou:

“O brilhantismo com o qual o Matt fez overdubs, o Duff tocando uma composição dele, do Barrett e do McCready do projeto Levee Walkers… Essas são coisas que são temperos, né? Assim como tem também o Pretinho da Serrinha, o Kainã do Jêje, os arranjos do Ruriá e do Antônio Neves. Essas são contribuições que tornam o disco mais rico e florido.”

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Trabalho ao lado dos filhos, Sebastião e Zoé

Além de Sebastião no violão de 12 cordas, “Uma Estrela Misteriosa” ainda conta com o toque de Zoé Reis, filha de Nando. Ela assina as capas dos álbuns, que trazem fotos do artista ainda na adolescência, em Arembepe, na Bahia, em poses que lembram Caetano Veloso em “Araçá Azul”. Vale destacar que Arembepe era destaque nos anos 1970 por abrigar uma aldeia hippie, que foi visitada por Janis Joplin e Mick Jagger.

As capas dos discos “Uma”, “Estrela” e “Misteriosa”. Foto: Divulgação

Sobre trabalhar com os filhos, Nando disse: “É magnífico! Sebastião é muito talentoso. Óbvio, ele é meu filho e sempre me espanta ver que aquele bebezinho virou um homem tão bonito, talentoso e musical. Ao mesmo tempo, como meu filho, um herdeiro, uma descendência estilística minha, mas criando a sua própria sintaxe. Depois a gente, criando nós dois a nossa trama. Isso, indiretamente, afeta. É um território de linguagem da nossa própria relação. A Zoé fazendo capa também é incrível. Me emociona muito.”

Estratégia de lançamento e priorização da mídia física

“Uma Estrela Misteriosa” é totalmente pensado para o vinil. Quem comprou o box já pode consumir a obra em sua totalidade desde já, com direito ao disco bônus. O lançamento nas plataformas de áudio, no entanto, acontecerá paulatinamente. Evidente que esse é um mecanismo que se contrapõe as práticas atuais do mercado musical, quase que 100% voltado ao consumo de música no ambiente digital. Sobre essa decisão, Nando disse:

“Estamos falando de suportes, né? O suporte físico tem a beleza multissensorial que tem em um disco. O digital é uma porcaria, no sentido de que o som é pobre, não tem informação técnica, não tem nada. Você ainda prescinde da beleza gráfica e dos sentidos que você tem, olfato, tato, visão, e fica com um só, a audição. Eu acho que é um empobrecimento. Eu venho de uma formação não apenas como ouvinte, mas eu produzi discos. Tudo isso pra mim são elementos importantes que dialogam e que nos quais eu consigo não ficar restrito a uma única fórmula. Não há como se combater isso, mas há como se contrapor. Essa contraposição é no sentido de ser relutante contra o esmagamento e o encolhimento das formas de consumo – não só de música, mas também de atenção, de texturas, dos sentidos e tudo mais. Isso é assustador.”

Foto: Lívia Rodrigues

Nando ainda comentou a ausência de créditos aparentes nas plataformas de áudio:

“Não se credita os músicos. Dificilmente alguém vai checar os créditos (no digital) e aquilo é um trabalho coletivo. Eu sou o artista, a voz, o compositor da maioria das coisas, mas não deixa de ser um trabalho coletivo. É como se a música surgisse espontaneamente ou por inteligência artificial. Não! São pessoas! São pessoas com talento, com experiências emocionais, histórias, brilhantismo! Então eu me recuso a prescindir disso.”

Lançamento grandioso após turnê dos Titãs

Há quem opte por descansar e tirar férias após uma longa turnê, como foi a de reencontro dos Titãs que aconteceu entre 2023 e 2024. Para Nando Reis, essa não era uma opção. O trabalho de “Uma Estrela Misteriosa” já havia sido iniciado antes mesmo da tour com Branco Mello, Tony Belloto, Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Charles Gavin.

Sobre emendar um trabalho grandioso no outro, Nando contou que não gosta de perder grandes oportunidades e que isso se tornou um mantra em sua vida após as mortes dos amigos Cássia Eller e Marcelo Fromer: “As coisas surgem, as oportunidades surgem. É do meu feitio ser intenso e workaholic e na pandemia a minha área ficou privada, eu trabalho com aglomeração. Fiquei impedido de trabalhar, né? Então tenho esse senso, esse alerta de que tudo por acontecer de novo.”

Ele continuou:

“Isso também é uma coisa inerente da vida, porque as perdas do Marcelo e da Cássia me alertaram, a custa de muito sofrimento, de que nada está garantido. Então a minha decisão de sair dos Titãs também foi um pouco assim, de fazer na vida as coisas que tenho vontade e não ficar apenas no desejo. Então assim, surgiu a oportunidade de gravar esse disco, os músicos estavam ali, todos felizes, então vamos fazer sim. Eu aproveito. Assim como entrou a turnê dos Titãs e eu também aproveitei e foi incrível. O Branco teve um câncer e sarou, então eu quero estar com ele, viver e aproveitar.”

“Uma Estrela Misteriosa”: a turnê

A música de Nando Reis atravessa gerações e assim ele segue sua jornada de estrada, se apresentando ao vivo para seu público. Com o novo álbum, não poderia ser diferente, ele vai embarcar em uma turnê que já tem datas confirmadas em todo o Brasil. A preocupação com o meio ambiente é uma das principais bandeiras levantadas pelo músico e, por isso, a turnê respeitará protocolos e indicadores alinhados aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. “Queremos seguir pelo menos 5 objetivos, dentre os 17 ODS da ONU, em cada cidade pelas quais passarmos”, contou ele.

Confira a agenda completa da turnê “Uma Estrela Misteriosa”:

20/09 – Macapá, local a ser divulgado
21/09 – Belém, na Assembleia Paraense
22/09 – Manaus, no Teatro Amazonas
28/09 – Belo Horizonte, no Palácio das Artes
04/10 – Fortaleza, na Arena Iguatemi
05/10 – Teresina, no Theresina Hall
12/10 – São Paulo, no Espaço Unimed
19/10 – Natal, no Teatro Riachuelo
20/10 – Salvador, na Concha Acústica
24/10 – Recife, no Teatro Guararapés
26/10 – Aracaju, no Salles Multi Eventos
02/11 – Ribeirão Preto, no Theatro Dom Pedro
08/11 – Vitória, no Espaço Patrick Ribeiro
23/11 – Curitiba, no Teatro Guaíra
30/11 – Rio de Janeiro, na Farmasi Arena
03/12 – Caxias do Sul, no Teatro UCS
04/12 – Novo Hamburgo, no Teatro FeeVale
05/12 – Pelotas, no Teatro Guarany
06/12 – Porto Alegre, no Auditório Araújo Viana
07/12 – Chapecó, no Centro de Eventos Camino 110
08/12 – Passo Fundo, no Gran Palazzo
13/12 – Brasília, no Ulisses
15/12 – Goiânia, no Teatro da PUC
22/12 – Campinas, no Royal

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