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Leonardo Torres: E quando fãs são tóxicos?

“As pessoas me chamaram de tudo quanto é palavrão na Internet”, lembra Lu Andrade do Rouge.

(Foto: Divulgação)

Se haters podem ser cruéis ao falarem do corpo, da voz ou da atitude de quaisquer artistas, o mesmo acontece com fãs. Frequentemente, querendo até ajudar. Fãs podem ser tóxicos sem perceber. No caso de girlgroups, tema desta coluna, é comum ver seguidores reclamando dos figurinos, penteados, cortes de cabelo, maquiagem, coreografias, músicas, clipes, agenda de divulgação – todas escolhas artísticas ou estratégias que, em geral, estão fora do alcance das integrantes.

“Junto com admiração e afetos dos fãs, e não podemos negar que também existem muitos privilégios, poder e acessos que a fama traz para os indivíduos em evidência, também se constrói uma noção de que estas pessoas públicas são como produtos, sempre à disposição para serem consumidos, apreciados, criticados e julgados, que é o modus operandi do capitalismo”, destaca a psicóloga Marina Carino, co-criadora do grupo terapêutico feminino (Com)versando Com Afeto.

(Foto: Divulgação)

Exemplos, não faltam. Quando o Rouge estreou uma turnê, fãs compararam os figurinos aos Cavaleiros do Zodíaco. Virou até notícia. Também reclamaram da maioria dos lançamentos, marcando o @ das cantoras para que elas lessem. A insatisfação era constante. “Com o Rouge, a gente fez tudo que tinha para fazer. Aceitamos uma volta para quatro shows e fizemos música, clipe, disco, turnê. Fizemos mais do que prometemos”, pondera Lu Andrade, em entrevista ao POPline.

“Tento me afastar das redes sociais, fico out, vivo a vida real, para ter controle da minha própria vida. Nas redes, você não tem controle: sua vida é do outro”, completa.

Críticas diretas à aparência – “para ajudar”

O mesmo aconteceu com o Girls e o Ravena, outras empreitadas do produtor Rick Bonadio no segmento de girlgroups. O Ravena, desde o primeiro dia, tinha que ler comparações com o Fifth Harmony e sentenças de “flop”. No Girls, as meninas liam críticas às roupas, aos cabelos, aos dentes e às músicas, na maioria das vezes mascaradas de boas intenções. Como se tivesse sido ideia delas gravarem algo como “Monkey See Monkey Do”.

(Foto: Divulgação)

“Acho que tem muito a ver com o perfil do público desse tipo de grupo! Normalmente são adolescentes que estão se descobrindo, ainda naquela fase onde não são mais crianças mas também não são vistos como adultos. Isso causa uma certa frustração quando a gente quer ser ouvido e isso se reflete não só nas relações mais próximas com familiares e amigos como relações que criamos com nosso ídolos… Acho que esse é um comportamento bem característico do público teen”, observa Li Martins, do Rouge, em entrevista ao POPline.

Bruna Rocha, do Girls, concorda. Quando o grupo estreou, ela tinha 19 anos e os fãs, em geral, eram mais novos do que isso. Muitos acabavam magoando-as sem intenção ou sem perceber. As cantoras passaram por uma mudança de visual para o “debut” e algumas não gostaram do resultado. Já não achavam que estavam bonitas, e tinham que lidar com a opinião pública.

“A gente mesma não se sentia muito bem, e lia comentários piores ainda. Fãs próximos acabavam fazendo piadas, sem maldade, mas que inflavam ainda mais nossa baixa autoestima”, lembra a cantora, “mas ao mesmo tempo, consigo entender que a gente acaba sendo uma inspiração. Eles querem, de alguma forma, ser a gente, quando somos tão expostas”.

(Foto: Divulgação)

Idealização leva à decepção

Ídolos são idealizados no imaginário do fã. Pouco a pouco, o ideal se descontrói diante da realidade, com maior ou menor grau de descontentamento. Lu Andrade, do Rouge, viveu isso claramente em dois momentos. Quando decidiu abandonar o grupo, imediatamente virou “a traidora” para o público infanto-juvenil. Afinal, os fãs tinham acompanhado o programa “Popstars” e torcido para ela ser escolhida. Não aceitaram que ela quisesse viver outra coisa. Luciana se isolou e saiu de cena… por anos.

A situação mais marcante para ela, no entanto, foi quando o produtor Rick Bonadio a convidou para a reunião do grupo no programa “Fábrica de Estrelas” em 2012. Ela não aceitou e os fãs – que queriam vê-la de volta no Rouge – se revoltaram e se comportaram como haters. Ali, ela entendeu na pele o que era o ciberbullying. Foi massacrada.

Reunião do Rouge sem Luciana (Foto: Divulgação)

“Aquilo me marcou. Eu não aceitei porque as meninas não vieram falar comigo. Foi o Bonadio que veio falar, e eu achei que não seria bom voltar sem uma conversa, como aconteceu nessa última volta. As pessoas me chamaram de tudo quanto é palavrão na Internet. Aquela época foi muito pesada para mim. Aquilo me machucou”, conta ao POPline.

Cobranças incompreensíveis

O Ravena não chegou a estourar e ser assunto na grande mídia, então grande parte das críticas vinham dos próprios fãs, com teorias mil sobre como fazer o grupo emplacar. Lais Bianchessi, uma das integrantes, lembra que havia uma cobrança para que elas fossem visualmente harmônicas, embora cada uma tivesse sido elencada por suas especificidades.

“É muito difícil quando as pessoas não entendem que cada pessoa é única e especial do seu jeito, que cada um tem a sua personalidade, atitude e o seu estilo próprio. Não acho que isso deveria ser um problema, mas infelizmente é o que acontece”, conta.

(Foto: Divulgação)

Como elas reagem?

Lu Andrade busca não se consumir por esse tipo de cobrança e comentário. “Acho que as pessoas estão cobrando muito umas das outras. Se você posta uma foto, sempre vai ter alguém para falar que você deveria fazer diferente. Tento não levar para o pessoal”, pontua.

Li Martins, dependendo do humor, reage de diferentes maneiras. Pode ignorar as críticas ou bloquear os autores. “Raramente, quando eu tô com muita paciência, respondo”, explica. Já Lu, apesar de não se consumir, prefere responder. Ficou calada por muito tempo.

“Não [era de responder], porque não achava que responder me levaria a algum lugar. Achava que era mais elegante e mais negócio ficar quieta. Hoje em dia, se não estou feliz, respondo mesmo. Já mudei de opinião (risos). Eu penso ‘não vou deixar uma pessoa falar o que pensa sobre mim sem me defender, sendo que estou aqui de boa’. Mas eu acho que tem que ser um meio caminho”, conta.

(Foto: Reprodução / Instagram @luandradereal)

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