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Leonardo Torres: Por que NÃO é absurdo pensar que P!nk copiou Anitta


Sejamos francos: foi natural lembrar de “Essa Mina É Louca” ao assistir ao clipe novo de P!nk, “Beautiful Trauma”. Quase todo ambientado em uma casa de cômodos monocromáticos, o vídeo mostra uma reviravolta no machismo doméstico, com duas mulheres unidas no fim. Similar ao roteiro e à estética do que Anitta fez em janeiro de 2016, com 197 milhões de visualizações no Youtube. A diferença é que a ‘mina louca’ de P!nk toma remédios para encarar a vida e acaba trocando de papel com o marido. Não demorou muito para fãs da Anitta acusarem a popstar americana de copiar a brasileira. A reação da maioria das pessoas? “Ah, pára!”. Uma artista de nível mundial como P!nk plagiando uma artista tupiniquim? “Que absurdo!”.

Bem, vamos com calma. Esse aqui certamente não é um texto para provar por A+B que P!nk copiou Anitta. Eu nem mesmo tenho certeza disso. Mas não vejo por que não admitir essa possibilidade. Julgar de antemão que isso é impossível é um grande equívoco. Traga-me argumentos mais consistentes que indiquem que não, porque os fãs da brasileira levantaram boas evidências de que sim. Descartar o debate por causa de um mero complexo de vira-lata é um posicionamento muito infundado, raso. Nada impede que “Beautiful Trauma” tenha copiado, se inspirado, se influenciado, utilizado Anitta como referência, ou o que quer que seja. Absolutamente nada.

Lembra de “Somebody That I Used To Know”, o hit do Gotye com a Kimbra que ficou oito semanas no topo da Billboard Hot 100 em 2012? No fim das contas, ficou provado que o single multiplatinado mundialmente usava um sample não creditado de “Seville”, música de 1967 do compositor brasileiro Luiz Bonfá. O caso foi levado à Justiça e Gotye teve que pagar mais de US$ 1 milhão à família de Bonfá (já falecido). Esse tipo de situação acontece. Os brasileiros existem para o resto do mundo, acredite.

Além do mais, a equipe de um videoclipe é imensa. Não é como se P!nk estivesse deitada com o tablet no colo vendo o clipe de “Essa Mina É Louca” e pensando: “vou copiar essa menina”. No fim do vídeo, ela dá créditos a todo mundo: os diretores Nick Florez & RJ Durell (Goldenboyz) e a produtora Melissa Larsen Ekholm, por exemplo. Cada um dos envolvidos traz seu próprio repertório para o trabalho. Lembra quando Anitta era acusada de copiar Beyoncé no início da carreira? Seu coreógrafo certamente era mesmo um grande fã da americana (quem não?). Em trabalhos criativos, os profissionais contribuem com o que têm – e a bagagem de referências faz parte disso. Se Anitta não é lá muito conhecida fora do país, o diretor criativo de “Essa Mina É Louca” certamente é. Giovanni Bianco faz trabalhos para grifes, revistas de moda e artistas musicais de renome: ele assinou a arte de várias capas de álbuns da Rainha do Pop Madonna, o que o credencia como alguém que todo artista pop deveria dar atenção. E eles realmente dão.

“Ah, mas Anitta?”. Deixe um pouco de lado o complexo de inferioridade. Assista ao clipe de “Essa Mina É Louca” seguido de “Beautiful Trauma” e tente não sentir que está vendo uma reprise. Você conhece Jane Zhang? Provavelmente não. Eu, certamente não. Mas, em 2013, o nome dela percorreu sites do mundo todo, porque o clipe de “Work Bitch” da Britney Spears (266,9 milhões de acessos) era praticamente uma releitura de um clipe de Jane, “Personal Look”, lançado dois anos antes. Jane é chinesa. Britney pode não conhecê-la, mas fez um clipe igualzinho ao dela: figurinos, locação, coreografia, tudo.

Artistas buscam referências em todo o canto o tempo todo. No geral, ninguém está exposto a uma informação sozinho, então é quase normal termos as mesmas ideias. Quem faz primeiro leva o crédito da originalidade. “Beautiful Trauma” é tudo menos original. Se P!nk e sua equipe de fato copiaram Anitta, é um problema delas. Mas com isso conclui-se que Anitta está na vanguarda. Fez antes. Espero que tenha alguém editando um mash-up dos dois clipes, porque será o “feat.” do ano.