Surfando em uma onda que começou há mais de dez anos, hoje o K-Pop se consolida no mainstrem como um dos gêneros mais populares da indústria internacional. Mesmo sem cantar (e, na maioria das vezes, sem falar) em inglês, artistas sul-coreanos já são presença garantida nos maiores eventos da música e ocupam posições de destaque nas paradas e streaming. Essa força também pode ser vista no Brasil, mas digamos que a passos lentos.
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O Brasil é o único país da América Latina que participa do top 10 mundial em streams de K-Pop do Spotify. Em 2020, fomos listados como o 5º maior consumidor de K-Pop no mundo, com um crescimento de quase 50% naquele ano. Além disso, conforme revelado pelo X, antigo Twitter, os internautas brasileiros estão entre os que mais conversam sobre o assunto.
Um reflexo desse consumo é o esgotamento quase que imediato dos shows solos de grupos e artista sul-coreanos. O BTS, por exemplo, conseguiu esgotar duas datas no Allianz Parque em sua quarta vinda ao Brasil em 2019, assim como o ATEEZ em agosto de 2023 e TWICE em fevereiro deste ano. O estádio tem capacidade para mais de 45 mil pessoas dependendo de sua configuração.
Existe demanda no Brasil, mas então por que ainda não vimos nenhum festival de grande porte incluir o K-Pop em seu lineup?
Nos Estados Unidos, o Coachella, um dos mais famosos entre os festivais internacionais, já abre espaço para o K-Pop. Em 2023, por exemplo, o BLACKPINK se tornou o primeiro ato asiático a se tornar headliner do festival e sua performance contou com um público presencial de 125 mil pessoas e cerca de 250 milhões de espectadores simultâneos na transmissão online. Além das meninas, grupos como aespa, Red Velvet, Tomorrow X Together e NewJeans, Jackson Wang e 2NE1, entre outros, já se apresentaram.
Pensando no Brasil, nós temos festivais muito semelhantes, como o Lollapalooza, The Town e o Rock in Rio — todos abrangem vários públicos e não possuem nenhuma restrição quanto a estilo e gênero musical. Não é muito difícil imaginar grupos já consolidados, como o próprio BLACKPINK ou quem sabe o BTS, quando todos os membros estiverem fora do exército, se apresentando. Mas até agora não vimos essa movimentação.
Em entrevista ao POPline, Didi Wagner deu sua opinião sobre o assunto. A jornalista e apresentadora está há 25 anos trabalhando com cultura e sua experiência com artistas e festivais é muito extensa. Para ela, os grandes eventos de música no Brasil comportam tudo.
“Eu acho que os festivais hoje já comportam tudo, essa que é a verdade. Eu acho que eles têm um público cativo que garantiria a animação do show. Eles têm um público grande e fiel, e é isso, a gente viu aqui, né? Shows solo de grupos de K-pop em que os jovens acamparam dias antes na frente de um estádio e estava lotado”.
Mas Didi tem uma ressalva: “Me dá a sensação de que é uma coisa entre aspas, entre aspas, nichada. Não nichada em termos de tamanho de público, mas em quem eles alcançam”.
É verdade que os festivais têm diversificado cada vez mais nos últimos anos, principalmente quando falamos de gêneros mais marginalizados como rap, funk e trap. Além disso, também existe um resgate de bandas e artistas que não necessariamente da geração Z, uma prova disso foi a vinda do blink-182. Ou seja, digamos que pode sim ser uma questão de tempo até que o K-Pop fure a bolha.
“A gente tem uma percepção muito clara dos movimentos musicais que vão se desenhando a cada temporada, né? Então, no começo o Lolla tinha uma pegada bem hipster, bem de um som indie, rock. Depois foi ficando até um pouco mais eclético, uma seleção de bandas e artistas nacionais e internacionais que abrangem diferentes estilos musicais”.
“E o público também foi evoluindo. Um festival que abraça o público jovem, mas também tem espaço para os pais desses jovens, né, e bandas dessas épocas assim mais passadas. Então, eu acho que é legal esses cenários que foram assim se adaptando ao longo do tempo“, finalizou Didi.