O racismo estrutural e institucional vem pautando o noticiário brasileiro. De João Alberto a João Pedro, a resistência a violência policial e os enfrentamentos cotidianos ao racismo invadiram a letra da nova música lançada por Lucas & Orelha, com participação de MIH, para o projeto Felicidade Black.
Com referências aos acontecimentos recentes, “João Ninguém” retrata uma realidade que não é novidade para população negra no Brasil. Com a produção e composição de Jefferson Jr, Umberto Tavares e Romeu R3, o lançamento descreve a rotina do racismo brasileiro.
Ao final do vídeo, um manifesto é lançado, citando nomes e dando um rosto para algumas vítimas do sistema que violenta diretamente e indiretamente pessoas negras no Brasil:
“Este país de muitas formas revela-se como um grande tumulo para nossa gente: precarização do acesso a saúde, encarceramento em massa, violência obstétrica, abuso de toda ordem, falta de políticas públicas e todas as formas que o racismo possui para nos reduzir a ninguém. A cada 23 minutos um nome é adicionado a essa triste lista. Uma lista de milhares e milhares de nomes, desde quando fomos sequestrados”
Confira o vídeo:
A letra de “João Ninguém” traz uma mensagem muito forte:
“João Ninguém”
Era uma vez
João
João Ninguém tinha pele da cor
Considerado, parceiro, tinha família, era trabalhador
Deu um beijo nas crianças e saiu na madruga pra trabalhar
Mas ele lá não chegou, o bicho pegou
E rolou papapa
Pa pá para que tá vindo o caveIrão
Pa pá Que mochila é essa aí negão ?
Pa pá Bota a mão pra trás deita no chão!
Pa pá E lá vai João no camburão
Na delegacia tinha mais de 100
Ele era só mais um João ninguém
E lá na favela geral quer saber
Cadê João, João cadê ?
Em uma semana a justiça entende
Que João ninguém era inocente
É só mais um preto em busca de paz
Que liga pro emprego que já não tem mais
“Pa Pa” não é só na música da Anitta,
paparazo na favela não tem folga
Pa “pacificar” o morro tem polícia,
pa pavimentar a rua falta obra,
Pa palhaço o Joãozinho tá servindo,
Pa patrão o Joãozinho já é bandido,
Pa parar naquela blitz que tá vindo,
Puts e agora? Chora!
Felicidade Black
“O projeto surgiu da necessidade de cantar ao povo preto uma mensagem de esperança e de amor em um ano com tantos fatos tristes envolvendo racismo. ‘I can’t breathe’ (últimas palavras de George Floyd, afro-americano assassinado brutalmente por um policial branco) é a frase do ano. E aquele sonho, lá de 1963, de Martin Luther King, ainda não se realizou. Nós, pretos, ainda sonhamos com igualdade, com oportunidade, com respeito”, diz Umberto Tavares, produtor e idealizador do projeto “Felicidade Black”, ao lado de Jefferson Junior.
Para o futuro, o público pode esperar muitas outras parcerias. Nomes como MC Rebecca e Mumuzinho estão confirmados para participações. “A música sempre foi uma voz mensageira, sempre foi um grito. É uma ferramenta de luta. Para falar sobre racismo ela é grandiosa! E no ‘Felicidade Black’ ela é fundamental para enaltecer a cultura preta”, pontua Lucas.