“Oooh, Gurl!”, grita RuPaul em vídeo para suas competidoras do bem sucedido e amplamente bem criticado reality show “RuPaul’s Drag Race”, onde várias drag queens competem pelo título de “America’s Next Drag Superstar” (uma clara alusão a outro reality show, o de Tyra Banks, que busca a “America’s Next Supermodel”).
Talvez nem a própria RuPaul, provavelmente a maior drag queen dos Estados Unidos (para aqueles que ainda estão se perguntando quem é ela), sendo a primeira a aparecer no Top 10 da Billboard com uma de suas músicas, tenha imaginado o tamanho sucesso que o “Drag Race” iria fazer, não somente em seu país, mas no mundo todo, reacendendo a cultura drag e dando visibilidade e respeito a essa arte muitas vezes marginalizada até mesmo dentro da própria comunidade LGBT.
Para se ter uma ideia, o “Drag Race” fez tanto sucesso que hoje já está em sua sétima temporada, já teve uma temporada especial “All Stars”, só com as melhores competidoras das primeiras quatro temporadas, e gerou até um “spin-off”: o “Drag U”, outro reality show, mas dessa vez focado no que seria uma Universidade de Drag Queens, onde as professoras transformavam mulheres em suas “filhas drag”.
Como uma drag queen que ficou famosa pela sua música – hits como “Supermodel of the World”, “Cover Girl” e a mais recente “Sissy That Walk”, eleveram RuPaul a um status máximo entre as drag queens – nada mais justo de inserir muita música em sua competição. E claro, isso gerou frutos. Alguns não tão bons, mas outros que valem a pena dar uma olhada mais aprofundada.
DWV
E um desses destaques musicais do “RuPaul’s Drag Race” é o trio DWV, composto por Detox Icunt (que já participou até de videoclipe da Kesha), Willam Belli e Vicky Fox (a única aqui que não participou – ainda – do “Drag Race”).
Em meio a tantas outras drag queens ex-competidoras do “Drag Race” que se lançavam como cantoras, apostando em “batidões” dignos dos clubes noturnos mais famosos do mundo e músicas com composições originais (não necessariamente feitas pelas próprias drags), o trio DWV apostou no bom humor e irreverência das paródias de sucessos radiofônicos (algo meio Banda Uó no início da carreira – mas sem a batida tecnobrega).
Seus dois maiores destaques ficam para as faixas “Boy Is A Bottom” (paródia de “Girl On Fire” da Alicia Keys) e “Blurred Bynes” (paródia de “Blurred Lines” do Robin Thicke e Pharrell Williams).
Eventualmente, mesmo com o sucesso, o trio acabou por se dissolver, mas Willam não desistiu e lançou uma versão solo e em espanhol para a música “Boy Is A Bottom”, que ficou com o título “És Una Pasiva” – com direito a um lyric video extremamente hilário.
American e Australian Idols
Mas foi somente na temporada de número seis (depois de muita gongação, “shade”, “fish”) que o “RuPaul’s Drag Race” se tornou realmente musical, com a participação de Adore Delano, que ainda como Danny Noriega participou do “American Idol” em 2008, e Courtney Act, que foi uma das semi-finalistas do “Australian Idol” em 2003 (sim, como drag queen mesmo).
Aí a p**ra ficou séria, musicalmente falando. Entre desafios de teatro musical e até de rap, tanto Adore como Courtney galgaram seu espaço até a final do programa, perdendo a coroa para a hilária Bianca Del Rio, que, merecidamente, ganhou o título em 2014.
Adore Delano
Mas foi realmente Adore Delano que se destacou no mercado musical após o final da sexta temporada do “Drag Race”. Ela lançou seu primeiro álbum, “Til Death Do Us Party”, que se destacou não só no iTunes mas também na Billboard, estreando na 59ª posição da parada de álbuns norte-americana, dando a Adore o título de drag queen com a melhor posição na Billboard entre todas as competidoras do “Drag Race”, incluindo a própria RuPaul.
O sucesso de Adore foi tão grande, que a drag estilo “trash chic” já percorreu grande parte do planeta, fazendo shows na Austrália, Europa, e até aqui no Brasil, onde ela encerra sua turnê brasileira, que passou por várias cidades, em Recife, no próximo dia 30 de abril.
Fora dos EUA
Artistas LGBT que fazem sucesso na música não é exclusividade dos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, em 1998, uma transexual chamada Dana International ganhava o maior concurso musical do planeta, o Eurovision, representando seu país, Israel. A música apresentada chama-se “Diva”, que já embalou muitos shows de drag queens pelo mundo afora.
Outro nome, que também se aproveitou desse “renascimento” da cultura drag, é o de Conchita Wurst, outra campeã do Eurovision. A drag, que faz questão de manter sua barba, venceu o concurso em 2014 representando a Áustria e ganhou uma imensa visibilidade internacional, levantando a bandeira da igualdade social entre gêneros, casamento igualitário, entre outros assuntos apoiados pela comunidade LGBT internacional.
No Brasil
No Brasil tem drag também. E cantora também. O imenso sucesso do “Rupaul’s Drag Race” em nosso país trouxe nossas drags de volta aos holofotes e abriu espaço para novos nomes surgirem, incluindo o do trio As Baphônicas, que lança hoje (28) seu primeiro single, intitulado “Close Baby”.
Com muito bom humor e uma clara inspiração no “Drag Race” e suas participantes, as meninas do trio As Baphônicas já tem shows agendados em várias partes do país e o videoclipe de “Close Baby” será gravado já no próximo mês de maio.
Novatas
Nem só de dublagem vive uma drag queen, por isso podemos esperar alguns novos nomes drags a aparecer no mercado musical nos próximos meses, com o fim da atual temporada do “Drag Race”. Entre esses nomes está o de Miss Fame (“serving beauty, face and fashion”), que já lançou seu primeiro single, intitulado “Rubber Doll”.
Para concluir, deixo vocês com uma lista de alguns videoclipes das drag queens do “RuPaul’s Drag Race” (incluindo alguns da própria RuPaul).
Agora.. “sashay, away”.