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ENTREVISTA: Matuê reflete sobre a cena do trap, carreira e próximo álbum

Foto: Igor Ethur

Matuê tinha ido dormir às 6 horas da manhã na última quarta-feira, quando conversamos por uma videochamada às 15h40. Ele justificou o horário não convencional de sono dizendo que a sua mente estava “a milhão” naquele dia, assim como o número de reproduções que a faixa “Conexões de Máfia”, lançada dois dias antes, havia recebido no Spotify Brasil. Foram mais de 1,8 milhão de streams nas primeiras 24 horas, número que cresceu no dia seguinte.

Foto: Igor Ethur

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O single do trapper cearense em parceria com o rapper norte-americano Rich The Kid alcançou a 39ª colocação do Top 50 do Spotify Global, competindo com os sucessos de grandes estrelas internacionais. No ranking brasileiro, a música continua em primeiro lugar desde o seu lançamento. Apesar do sucesso nas plataformas de áudio, é no YouTube que a grandiosidade de Matuê é consagrada. Através do audiovisual, ele cativa a atenção de sua fiel base de fãs, impressiona e transmite uma mensagem repleta de easter eggs e referências cinematográficas.

O videoclipe de “Conexões de Máfia“, dirigido por Fernando Haddad, acumula mais de 11 milhões de visualizações em menos de cinco dias. Nas suas produções audiovisuais, Matuê consegue se conectar com a juventude e apresentar a ela seu acervo de filmes, artes e filosofia. Durante nossa conversa, o artista falou com entusiasmo sobre Tarantino e sua paixão pelo cinema.

Com a mesma animação, ele se mostra pronto para entrar em uma fase musicalmente mais madura, pois sabe que terá a companhia dos milhares de jovens que se inspiram em suas canções e no estilo de vida 30PRAUM, nome de sua gravadora. O próximo disco de Matuê, o sucessor do bem sucedido “Máquina do Tempo“, de 2020, está sendo produzido. Segundo o trapper, o álbum tem “60% do caminho andado”. O artista pretende concluir o projeto – até agora, chamado de “333 – Salve Todos” – até o seu aniversário de 30 anos, no próximo dia 11 de outubro.

Foto: Renan Pinheiro

É difícil dizer com exatidão o que torna Matuê um fenômeno da música brasileira, mas é notável a sua inteligência e aguçada percepção do mundo em 2023. Dentro do trap, ele conseguiu desenvolver uma linguagem própria, para muito além da música, e construir uma comunidade gigantesca. Seja falando sobre a vida com mulheres e dinheiro ou espalhando uma valiosa reflexão sobre o ciclo vicioso da vingança, no final do dia, é o Matuê quem consegue ser ouvido. Ele tem toda a nossa atenção.

POPline: Como passou a comemoração do hit do novo hit?

Vou te falar, hoje eu fui dormir às seis horas da manhã, cara. Minha cabeça estava a milhão, sabe? Acho que nem caiu a ficha ainda. E a gente tem um objetivo que, na verdade, é uma coisa que meus fãs me disseram: ‘mano, tem noção que desde 2020 você colocou uma música em número um todo ano?’. Eu falei assim: ‘pô, então eu vou ter que levar até o fim da década aí’, entendeu? E aí, esse ano já entreguei.

POPline: já matou no primeiro semestre.

Já matei no primeiro semestre. Já está feito dentro de casa, e isso é bom porque vou conseguir focar no meu disco agora. Vou passar um tempo para me dedicar a coisas mais aprofundadas, sabe? Músicas, um projeto maior, um projeto mais detalhado e tal. Mas enfim…

POPline: A gente vai falar bastante sobre isso, inclusive. Mas antes eu queria fazer algumas perguntas sobre a música nova. Eu soube que a primeira prévia dela saiu lá em 2021. Eu lembro disso, quando você soltou ali um videozinho. E eu queria saber porque você deixou ela maturando todo esse tempo. Teve algum problema?

Sim, Douglas, tivemos várias dificuldades, na verdade, no desenvolvimento desse som, né? Inicialmente, a gente teve problema com o beat. Depois, a gente resolveu e conseguiu entrar em acordo com o beatmaker. Depois, tivemos problema com o visto, problema com quem ia fazer e tal, enfim. Resumo da ópera: não era a hora. E Deus sabe muito bem das coisas, né, cara? Então, quando Ele fala que não é pra ser e não é na hora, Ele sabe muito bem. É interessante ver que, mesmo depois de todo esse tempo, em dado momento tudo se alinhou e a gente encontrou a galera certa da produção, que escolhemos a dedo. Todos que participaram desse projeto foram escolhidos cuidadosamente, e todos são profissionais incríveis. O pessoal responsável pelo audiovisual, as ideias e referências que trouxemos, tudo foi muito bem planejado e curado. E, na hora certa, as coisas se uniram para resultar no que vimos ontem.

POPline: Sobre as referências que você citou, é você quem leva essas referências cinematográficas para sua equipe ou vocês tem algum tipo de brainstorm? Como é que funciona o seu processo criativo em relação ao audiovisual?

Bom, em relação aos meus projetos, eu sempre lidero na parte das ideias audiovisuais. Então, sou eu quem dita o tema e trago as referências visuais para o clipe. Na hora da gravação, gosto muito de estar presente ao lado da direção, direcionando os takes. Esse filme – falo como se fosse um filme – teve várias referências de filmes e, em alguns momentos, eu queria copiar o take exatamente igual, assim como Tarantino faz em vários de seus filmes, com referências a filmes anteriores e filmes antigos, takes e elementos que ele incorpora em suas histórias e consegue criar algo incrível. O cara é o Tarantino, simplesmente. Então, não tem nem o que dizer mais. Eu meio que absorvo um pouco dessa abordagem, mano. Gosto muito dos filmes dele. Assisto muito às suas entrevistas, saca? Então, peguei o take do barbeador de ‘Intocáveis’, o take do taco de beisebol também de ‘Intocáveis’, tem a escadaria de ‘Scarface’, tem o escritório de ‘O Poderoso Chefão’ e, realmente, tentei pegar e fazer uma homenagem a esses filmes. Mano, eu sou cinéfilo. Amo filmes, esses filmes premiados, filmes icônicos que temos. Já assisti praticamente todos, não tem um que eu não tenha visto. Já que o clipe é uma expressão visual ilimitada, você não tem limites para as ideias que deseja criar. E existem mil e uma maneiras de se fazer um take, até mesmo takes caros podem ser adaptados para algo mais acessível, dependendo da sua mentalidade e criatividade. Já vi vários diretores fazendo isso. Então, é uma parte que também amo participar e realizar. É uma extensão da minha arte, e sou alguém que consome diversos tipos de arte. Gosto de design, arquitetura, moda, artes plásticas, de tudo, entendeu? E tudo isso também me inspira muito. Trago tudo isso para o meu trabalho.

POPline: Falando em filmes e referências cinematográficas, acho que é uma referência que pouca gente falou porque ela é mais discreta, é V de Vingança, mas ela está bem explícita na capa do single e eu vi uns manos falando no Twitter de como você coloca a letra V em destaque no nos versos. Isso foi proposital mesmo? 

A forma como eu componho, Douglas, é muito natural, né? Eu não chego a escrever a letra, já estou com o microfone ligado, e o que me vem em termos de frases e melodias, eu já vou gravando. Parte de um princípio, de uma ideia simples. Então, naquele momento da gravação mesmo, eu estava querendo fazer uma brincadeira com o “V”, só isso. É a partir de um ponto super simples, entendeu? Vamos fazer uma brincadeira com o “V” agora. Então, surgiram várias rimas com “V” e nesse dia eu estava ouvindo a trilha sonora de ‘O Poderoso Chefão’. Aí você vê, né? Uma coisa meio que se junta com a outra. Temos o tema de gangster, já com essa brincadeira do “V”, e aí a gente vai criando a parada a partir disso. Mas, em relação ao clipe, cara, eu insisti muito nessa questão do “V”, e isso foi meio que de última hora. Eu falei assim: ‘Pô, mano, tem que ter na rima. A gente precisa trazer isso para o visual, e o clipe tem que ter vários “Vs”‘. O próprio sangue quando o cara está com a cabeça na mesa é um “V” se você observar. Eu mesmo fui lá e falei: ‘Pô, esse sangue aqui não está certo, mano. O sangue tem que ser um “V”‘. Fizemos. O pessoal que trabalhou nesse clipe, o Fernando Haddad, que é o diretor, esse cara foi para mim uma junção perfeita. Porque tudo o que eu falava para ele, ele traduzia da melhor forma, ampliava, trazia novas referências. Eu e ele conseguimos ter uma troca de ideias muito boa. E já tive certa dificuldade com diretores, de não conseguir executar minhas ideias. Ele foi um cara que não só executou as minhas ideias, mas também conseguiu aprimorá-las e melhorá-las. Foi algo muito incrível.

POPline: Falando da parceria, como aconteceu essa conexão com Rich The Kid?

O Rich entrou em contato comigo alguns dias depois do lançamento de ‘Quer Voar’. A gente também conseguiu o número um e aí eu lembro que ele estava numa festa em Dubai, a música tocou num rolê, e aí ele fez o vídeo e me marcou. Falei, nossa mano, isso aí é novidade, porque Rap BR chegar lá na gringa e impressionar os cara que é do pico, que nasceu a parada, né? Os caras vivem o negócio. Isso aí é novidade. Ele então entrou em contato comigo e eu já mandei a guia pra ele na tora, assim, na lata. Ele falou comigo um dia e, no dia seguinte, eu falei está aqui, mano. O que tu acha de tu pular nessa música? E ele não demorou dois dias pra me devolver a música. Fiquei bem surpreso mesmo. E ele mandou um puta verso, tirou onda, pá! Entregou o bagulho rapidão. Já era. Eu falei, caraca, mano, agora tem que botar o bagulho pra andar mesmo.

POPline: E você tem alguma pretensão em uma carreira internacional ou é algo que você só deixa acontecer naturalmente?

Então, Douglas, eu deixo acontecer naturalmente, porque o mercado de lá é super bem posicionado. Você tem os maiores artistas do mundo, eles já fazem essas megaproduções visuais há tempos, já são gerações fazendo isso e extremamente conectados com a arte e com público deles. Eu tenho o maior respeito, mano. Até porque eu consumo muito a música dos Estados Unidos mesmo, rap gringo. Mas se me couber cair pra dentro de um rolê internacional eu vou, com certeza. E o inglês é uma língua que eu domino, eu falo inglês igual falo português, então não é nada que eu não poderia dizer ‘beleza, vou ficar aqui no estúdio agora e eu vou desenvolver a minha caneta em inglês e fé’

POPline: Eu vi, quando você lançou o pré-save da música e liberou aquele mini-doc, a música parecia ter um significado muito especial pra você, ser algo muito simbólico para sua carreira. Porque ela é tão especial pra você?

Essa música pra mim, Douglas, marca uma nova fase na minha carreira em termos de minha criação. Eu tenho, de fato, uma missão e um propósito. Eu busco, realmente. passar uma mensagem e trazer uma reflexão por parte de quem escuta pro tema que eu estou abordando. Antes, eu sempre fui muito bom acrobata com melodias, com métricas diferentes, com flows diferentes e em trazer temas e frases que chocam, que impactam e tal. Isso, pra mim, sempre foi uma coisa que eu, estando dentro do estúdio praticando e tal, é de boa. Mas você passar uma mensagem que pode mexer com alguém que está com sentimento de vingança e e pode, de repente, acalentar o coração da pessoa, trazer uma resolução pra ela entender que esse sentimento é um sentimento negativo, que causa a autodestruição…Está entendendo o que eu estou querendo dizer? Só esse sentimento [de vingança] já é autossabotador. Já é uma parada que mexe com o interno emocional da pessoa. Então, eu estou querendo trabalhar emoções agora. As vezes emoções complexas. Emoções difíceis de passar, de transparecer e, nessa música, eu consegui atingir esse objetivo, de passar essa mensagem com o tema da vingança.

A vingança sendo um sentimento que, quando ele é posto em prática, ele só é passado de mão em mão. Ele é como se fosse uma doença que contamina, um vírus que vai de uma mão pra outra e que sempre acaba retornando de forma cíclica e só causa destruição. Era meio que esse o propósito da mensagem que eu queria passar. E, ali, no final do clipe, na hora que eu coloco o anel no dedo da minha esposa no clipe e tal, eu coloco, justamente, no dedo de casamento mesmo – que é como se fosse um ato de amor, falar assim ‘olha, a gente vai finalizar esse ciclo de vingança agora, você vai executar a sua vingança e vai seguir a sua vida e acabou e eu te perdoo, eu te amo do mesmo jeito’.

POPline: Por que você convidou algumas pessoas da velha guarda do hip hop para participar do videoclipe?

Na verdade, foi uma surpresa, sabia? Pra você ver como as coisas são. Quando a gente está conectado ali, está seguindo o propósito e tal, parece que as coisas começam a acontecer de forma natural e, de fato, tudo foi muito natural nesse clipe. As pessoas que participaram chegaram pra mim como uma surpresa. Na hora que eu vi falei assim ‘porra, esse mano aqui, esse cara é familiar’. E aí, depois, o cara foi dar uma palavra e era família RZO, vários manos que já tinham uma caminhada e tal. E eu fiquei bem surpreso também com o feedback que eles me deram a respeito do projeto. Eles não sabiam a história inteira. Eu passei a mensagem falei assim ‘ó a gente vai fazer um projeto sobre vingança e a mensagem é tal tal tal, vamos passar um recado massa pra rapaziada e tal’ e aquele já foi o feedback que eu recebi, eu acredito que muito pela energia. Dá pra sentir a energia dentro do clipe. A energia que estava ali no momento mesmo. A coisa foi muito real, mano.

POPline: Recentemente, você disse numa entrevista que estava longe do seu auge mesmo colocando várias músicas em primeiro lugar, mesmo tendo esses todos esses recordes no seu currículo. Quando você acha que você vai atingir o seu auge? Qual vai ser o fator determinante pra isso?

É uma ótima pergunta, porque eu acho que isso não é necessariamente quantizável em números. A questão do número é irado, porra, é uma uma resposta em relação ao que a gente faz e tal, mas eu diria que o meu auge tem a ver com o meu propósito. Eu, realmente, encontrei um novo propósito de dois anos pra cá em termos de arte. Eu passei um tempo enxergando minha arte muito como um trabalho. E eu ia no estúdio e entregava, conseguia entregar hits e tal, mas eu não necessariamente sentia que eu estava seguindo a minha missão, ali, de passar uma mensagem pra rapaziada, de abrir a mente da rapaziada, que eu acho que isso, de verdade, o que eu quero fazer agora, é o que eu tenho feito agora, tá ligado? Eu acredito, respondendo a sua pergunta, que em termos de auge mesmo, quando eu sentir que eu promovi uma mudança verdadeira na vida das pessoas que me acompanham, talvez eu sinta que eu estou no meu auge.

POPline: Sobre o álbum novo, quando o pessoal vai ter um álbum novo do Matuê?

Bom, não tenho como dar uma data específica porque eu estou ao longo do processo aqui. Estou sempre que possível dentro do estúdio, criando, fazendo tudo, experimentando com mil e uma coisas, não só com trap, não só necessariamente dentro da bolha do rap – nem do que entorna o rap, porque tem outros gêneros também que são anexados ali -, mas experimentando mesmo. Tipo, tentando escrever, tentando partir de um freestyle, tentando partir de um som, de uma sonoridade, buscando uma sonoridade específica ou então eu estou com algo no meu peito que é uma mensagem que eu quero passar…Então, eu estou ainda nesse processo de experimentar mil e uma coisas, triar isso, e no fim tudo vai fazer sentido. Porque, quando eu estou aberto para falar das minhas emoções, das minhas vivências, de tudo, as coisas inevitavelmente se encaixam e começam a fazer sentido. A música começa a ligar na outra, a mensagem começa a ligar na outra e eu estou, eu diria, mais ou menos, uns sessenta por cento do caminho andado pra fazer isso acontecer.

POPline: Até o fim do ano tá 100%?

Eu acho sim. Eu não quero que passe do meu aniversário, assim, estou fazendo de tudo. Inclusive, eu parei até de vender show, travei a minha agenda. Estou pegando nomes, fazendo que nem a Rolex, quem quiser um show do Matuê, agora, deixe o seu nome na lista que a gente entra em contato. Mas isso é porque eu quero priorizar a minha arte. Eu acho que pro meu fã é muito mais valioso. Até porque a maioria não tem acesso ao show, então é muito mais valioso ele ter um artista que lança mais músicas, que lança mais projetos, projetos mais significativos, que tem uma mensagem massa, do que necessariamente eu ficar fazendo milhares de shows, martelando, porque aquilo ali, pra mim, é como se fosse o código do GTA, entendeu? Infinito, irmão. Se eu quiser eu faço quantos show eu quiser aí no mês, a demanda existe. Tá tudo aí. O valor massa, tudo massa, e vai ser dinheiro na minha conta. Mas, dado o momento, eu vi que com toda a estrutura do mundo, com toda o apoio, corre bem desenvolvido, com tudo massa, com o lado financeiro massa, tudo massa, eu não estava me sentindo bem e não era aquilo que me completava. Eu fui em busca de um significado maior pra minha arte, pro meu trabalho. É isso que eu venho buscando agora.

POPline: Muitas pessoas destacaram o fato de “Conexões de Mafia”, diferente de outras músicas, tanto suas quantos de outros trappers, não falar tanto sobre mulheres e dinheiro como é de praxe no gênero. Você acha que há uma mudança de paradigma no gênero em relação a isso? E, para você, qual o futuro do trap no Brasil a partir de agora?

Bom, eu não posso dizer, necessariamente, que é uma mudança de paradigma. Eu acho que cada artista faz a arte da forma que quer e toca nos assuntos que querem. Da minha parte, com certeza. Não dizendo que eu não vou mais tocar nesses assuntos absolutamente, mas que isso venha com um simbolismo, um significado. Se for pra falar sobre ostentação, sobre mulher, que traga alguma reflexão a respeito disso, porque a gente vive uma vida de artista, que é muito das aparências, resumidamente falando. E essas coisas, às vezes, chamam muito mais atenção do que quem a gente é de verdade, qual é a nossa essência e tudo mais, mas isso também gera uma reflexão interessante que pode ser abordada, pode ser estudado dentro de uma música. Eu acho que o interessante é como você aborda e o trap é um gênero ilimitado em termos de assuntos que você pode tocar. A gente não tem limites pro tipo de beat que a gente está fazendo, os compassos e o ritmo de BPM, linha de bateria…Isso tem mudado ao longo dos anos pra caramba e cada artista vem trazendo a sua essência também. Você vê uma galera que tem uma pegada mais de rock, pessoas que se inspiram mais numa pegada funk e você vê como isso se mistura com vários temas e o próprio Teto que lançou o Afrobeat, “Minha vida é um filme”. O trap dialoga muito bem com a língua da juventude. Eu diria que o jovem, ele, apesar de muitas vezes ele não ser levado a sério, ele não é uma coisa unidimensional. O jovem tem várias emoções, ele passa por várias barras, várias dificuldades consigo mesmo. Agora a gente vive a era da tecnologia e aí isso vem trazendo coisas que o ser humano não está pronto pra lidar, de ter aquela maquininha roubadora de tempo.É o próprio diabo roubando o tempo do cara o dia inteiro. E aquilo foi feito com uma inteligência muito maior do que a nossa pra chegar logo na essência da dopamina e a cada like te entregar uma pequena dopamina, assim, como se fosse uma droguinha está que você precisa. Então, tipo, isso tudo, pra mim, são temas que eu quero ter nas minhas paradas. É a mente do jovem, da juventude brasileira.

E o que o Criolo estava fazendo no estúdio [durante a comemoração do lançamento de “Conexões de Máfia”, como mostra um vídeo publicado nas redes sociais]?

O Criolo simplesmente estava lá no dia do lançamento. A gente estava em São Tomé das Letras. Pra você ver, né, mano, no dia do lançamento de ‘Conexões de Máfia’, logo um dia tão importante, a gente estava em São Tomé das Letras, que é uma cidade meio mística, meio mágica e tal e o Criolo estava lá, que também é uma figura mágica. Eu acho que isso tudo é um uma coincidência do universo, que não existe coincidência na verdade…Mas é tudo para trazer um axé pra situação mesmo para esse dia importante. E ele é um cara muito massa, mano. Ele me deu mó vibe lá, aprovou o projeto, viu em primeira mão e tal. Ele falou também ‘pô, Tuê, se você quiser, eu tenho uns contatos muito massas aqui pra você engrandecer a sua arte ainda mais’. Ele é um cara muito pra frente artisticamente falando, traz a parte audiovisual e áudio, tanto ele trazendo a essência e o lado mais tradicional do rap, mas também trazendo coisas extremamente pra frente, inovadoras, futuristas, é uma mistura muito foda. Pago maior pau.

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