Quem vê Grag Queen arrasando no palco do Queen of the Universe, nova competição de drag queens produzida por RuPaul, mas só com queens cantoras, talvez não imagina que Gregory, nome de batismo da artista brasileira, já está na estrada profissional da música há bastante tempo.
Claro, essa é talvez o maior passo que Grag Queen está fazendo em sua carreira, vivenciando uma exposição global em um programa com grandes nomes da indústria do entretenimento.
E olha, ela está representando muito bem!
“As manas tudo passada, lá no Twitter as mana tudo chocada, todo mundo apavorada com a bixa cheia de pena na gringa! Eu avisei, eu avisei que a mamãe tava vindo”, brincou Grag Queen ao iniciarmos nossa conversa no dia da estreia global de Queen of the Universe.
Oficialmente, a competição de canto de drag queens estreou no Brasil, no serviço de streaming Paramount+, somente nesta quinta, dia 9, mas nas redes sociais do programa já dava pra ver que a Grag Queen estava arrasando em sua performance.
Passando por musicais e tantos outros projetos com sua voz poderosa e grande talento e carisma, tudo antes de assumir a sua persona drag, Gregory tem muita história pra contar, mas… Como que nasceu a Grag Queen? Quem acompanha o universo drag sabe que, muitas vezes, as drag queens nascem meio que “acidentalmente”, com uma montação de “bricadeira” que acaba virando coisa séria.
E assim foi com Grag.
“A Grag Queen foi como os melhores nascimentos, né… Foi um acidente! (risos) Eu tava numa época super tipo… Tinha saído de um musical, estava extremamente frustrado musicalmente, artisticamente. E eu tinha um amigo e a gente resolveu fazer uma dupla, muito louca, chamada Armário de Saia, quem conhece conhece… E a gente nunca quis ser drag, a gente quis fazer uma homenagem, um medley drag Brasil, uma homenagem pras drags Pabllo, Gloria, Lia, que hoje são nossas amigas, chocante né! E a gente se vestiu de drag, por que não se vestir de drag, né? E o vídeo viralizou! E a gente foi ler os comentários e ‘essas drags lindas!’ E eu não sabia me maquiar, mona! Eu não sabia passar um lápis de olho na cara! E daí foi isso, agora somos drags lindas.
E eu só precisei aceitar isso, pra depois entender que a minha vida inteira me fez passar por todas as coisas pra que eu fosse a Grag Queen, pra que ela resgatasse muita coisa no Gregory, que sou eu sem peruca, e hoje ela é minha maior arma, meu maior escudo e eu sou muito grato por essa doida que está aqui.”
Enquanto a Grag Queen tem apenas 5 anos de vida, a carreira musical de Gregory, nascido em Canela, no Rio Grande do Sul, tem mais cerca de 15 anos e como quase todo grande vocalista, começou na igreja.
“[Comecei] Muito novinha, na igreja! Piquituxa! Cantar um louvor.. Daí ela ia, cantar o louvor dela, assim bem alto… Daí deu o que deu, ela saiu da igreja e virou drag! (risos)”
E quais foram suas maiores inspirações, tanto em drag como na música?
Esteticamente, com certeza o nosso país nos limita um babado (risos). Nosso país meio que nos pede pra gente mostrar o corpão, mostrar o bundão, o pernão, sabe? Porque imagina, a gente tá sempre fazendo carnaval, sempre fazendo parada [LGBTQIA+] e não tem como subir de padding [enchimento], toda assim inchada e tal. Lá na gringa, as mana bota uma almofada, bixa! Elas botam um peitão! Imagina subir lá na Paulista, bixa, com todos esses adereços, mona… Eu derreto!
Não tem como não olhar pra Pabllo e não dizer.. Ela é linda! É uma das coisas mais lindas que eu já vi na vida! Eu fico olhando pra make da Pabllo, pro corpo, pro rosto dela e digo.. Eu quero ser ela, sabe? Ela é uma das grandes inspirações de quando eu comecei a fazer drag.
E artisticamente, vocalmente, musicalmente, eu amo, sempre fui muito fã da Liniker, que é perfeita, um timbre diferente, uma potência incrível. A Gloria Groove, que é incrível também, extremamente foda compondo.. Eu amo as diversidades! A Ludmilla, é perfeita demais, canta muito! E no Brasil não falta gente incrível, né? Eu acho que o que eu mais amo no Brasil é essa função de não querer parecer ninguém, sabe? O Brasil é dono de várias musicalidades que se formaram aqui, vieram daqui e eu acho isso muito legal, que faz a gente ser artistas irreverentes, sabe? E eu amo ser brasileira por causa disso!
Falando em GG, queremos essa parceria, hein? A gente sonha!
Vai bombar, hein? E olha que somos da mesma gravadora! Quando ver, a gente conversa, a gente arma e a gente se vê.. Uma coisa é certa: vai parar o mundo no dia que isso sair!
Grag Queen no Queen of the Universe
Como brasileira, apesar do Queen of the Universe ter sido, desde o princípio, uma competição mundial, Grag Queen poderia encontrar algumas dificuldades, que vão além de seu próprio “inner saboteur” em sua cabeça. Mas, como ela mesmo afirmou, o universo abriu todas as portas rapidamente para que ela pudesse participar da competição.
“Aconteceu que a inscrição foi liberada pra todo mundo e chegou até mim, óbvio, todo mundo começou a me marcar! E daí, eu lembro que minha produtora me mandou… E daí eu disse, ‘ai gente, é que eu não sou boa de look’. Se você me ver no TikTok, eu tô sempre de camisetinha, de moletonzinho, tranquila em casa, pandemia, tranquilona.. Imagina, Michele Visage vai me olhar de moletom.. Para, gente! Daí, eu fiquei pensando, mas mona.. Vamo falar de limitação: é falar inglês, é cantar, na época não tinha nem vacina, não tinha chegado nem vacina no Brasil, ou seja, impossível viajar! Eu não tinha passaporte, sabe? E eu disse: não tem como!
Mas aí eu disse ‘e se eu tentar? E se eu quiser tentar fazer dar certo?’. E daí, foi babado! Por isso que eu digo, é Queen of the Universe, porque o Universe tava do lado dela! O passaporte já se abriu, já se fez, a vacina chegou em outra cidade e eu já conseguir fazer a vacina! A gente conseguiu fazer os looks, eu amei, a gente montou uma equipe incrível! Eu devo muito a minha equipe também, sabe? Que tava sempre me ajudando quando eu dizia ‘gente, eu não vou!’, eles diziam ‘vai, é tu! É cantar, é ser bonita e é representar o Brasil, quem mais vai fazer isso no Brasil?’ Eu disse, ‘gente, então é isso! Eu sou o Neymar de peruca agora e vamos atrás do nosso título’ (risos)”.
E qual foi sua reação ao receber a confirmação de que você estava no elenco do Queen of the Universe?
Perplexa. Eu fiquei perplexa. Primeiramente, eu fiquei toda c**ada, né? Porque tipo, imagina.. quer dizer, beleza, vai acontecer, eu vou ter que ir lá! Porque não é uma coisa que tu conquista, tu conquistou um pepino pra descascar, entendeu? (risos) Daí fui pra lá, mana… Levei 10 malas daqui do Brasil, foi uma grande jornada! Tudo o que eu usei lá, eu levei tudo daqui do Brasil, a gente fez tudo! E eu disse, se eu não fizer isso por mim e pelo meu país, que inclusive, me deu muito gás saber que todas as limitações brasileiras são limitações porque ninguém quebrou isso, sabe? Então eu meio que tipo, vamos acabar com essas limitações, com essas fronteiras! Beleza que nosso país tem muita gente olhando com muito descaso, pessoas que deviam estar muito preocupadas com a gente, estão olhando com descaso… Eu vou dizer ‘se vocês não vão fazer, eu vou fazer alguma coisa!’ E vai ser com arte, com amor e vai ser pela nossa comunidade!
E se não houvesse o Queen of the Universe, você tentaria participar do RuPaul’s Drag Race, caso abrisse para outras pessoas do mundo, você gostaria de participar?
Não! (Risos)
Ó, faria! Não vou dizer que não faria. Hoje pensando e conhecendo, eu digo ‘ah, vamos lá!’. Eu conversei com a Jujubee… Quando conversei com a Jujubee, eu disse ‘manda, de novo?’. Ela me disse, ‘amiga, é tempo de câmera, é TV, tamo aí!’ E é isso, mona! Ela tá sempre ali, ninguém esquece ela, é a Juju!
Eu ia pro Drag Race.. Eu ia ser aquela mona que cola sacolinha rosa, eu ia ser! Mas eu ia estar lá!
Mas ia servir no runway!
Brasileira, amor, brasileira!
Com tantas queens de culturas diferentes, foi difícil a convivência? Teve drama nos bastidores?
Drama teve, óbvio, né? Botar 15 viado de peruca junta, tá doida? Um de casa país… Drama teve. Mas comigo não, porque eu sou o que? Brasileira! Tu acha que eu vim lá do Brasil pra brigar contigo, mona? Não! Eu não vou brigar! Eu fiquei amiga de todo mundo! Sabe a menina legal do rolê? Essa era eu! Eu abraçava todo mundo! Quer chorar, chora aqui com a mãe. Quer rir, rir aqui com a mãe… Eu tava sempre participando de tudo.
E quem foi a queen que você ficou mais amiga?
Eu fiquei muito muito muito amiga da Rani, que é uma queen indiana. Imagina, Índia e Brasil: Brazindian! Imagina o peso, quanta gente nas costas delas! E a gente conversa todo dia! Eu sou muito amiga de todas, mas a Rani é a minha sister.
Vai levar pra vida, né?
Com certeza! E tô doida pra fazer um feat com ela, imagina um feat brasileiro e indiano…
E o prêmio? 250 mil dólares… qual seria a primeira coisa que você compraria com esse dinheiro?
Nossa, não tenho noção! Eu quero muita peruca, muita coisa diferente, quero comer, quero vinhos, quero mar, quero muita coisa… Quero hidratantes, skincare, quero tudo! (risos)
Com o título de Miss Simpatia já garantido, agora o Brasil torce para que Grag Queen traga o título de Queen of the Universe para nosso país. E para o mundo todo, um recado: Welcome to the Brazilian fantasy!