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Entrevista: Fernanda Abreu comemora 30 anos de carreira com álbum de remixes

Em entrevista ao POPline, a cantora falou sobre a ideia do projeto, sua relação com os DJs e fez um apanhado de sua carreira até agora

Fernanda Abreu Foto: Murilo Alvesso

“Eu quero fazer um álbum para retribuir o carinho que os DJs tiveram todos esses anos comigo”. Foi com esse objetivo em mente que Fernanda Abreu criou seu novo álbum “Fernanda Abreu: 30 Anos de Baile” e renovou os maiores sucessos de sua carreira pelas mãos de alguns dos DJs mais prestigiados do Brasil.

Lançado na última quarta-feira (15), o disco em comemoração aos 30 anos de carreira solo de Fernanda Abreu é uma síntese das paixões que ela carrega como cantora e bailarina: em 13 faixas, a artista apresentou sua trajetória musical e seu amor pela pista de dança ao convidar 15 DJs/produtores para remixar suas principais músicas e 2 rappers para parcerias.

Dentre os nomes escolhidos estão DJ Meme, Gui Boratto, DJ Zé Pedro, Vintage Culture, Tropkillaz, Corello DJ, Dennis DJ, Projota, Emicida e outros.  “O que eu pedi para o Meme [DJ e diretor artístico do álbum] é que a gente tivesse uma diversidade de linguagem de pista, a gente pudesse ter um Charme, uma House, um Eletro, um Eletrofunk e acho que a gente conseguiu”, explica a cantora.

Fernanda Abreu “30 anos de baile” Foto: Murilo Alvesso

A preocupação da ex-Blitz com a pista de dança está presente desde o lançamento do seu primeiro álbum solo, em 1990, o “SLA Radical Dance Disco Club”, marcado para sempre como “o primeiro de música pop dançante nacional”. Hoje, Fernanda Abreu é considerada por muitos a pioneira da música dançante no Brasil, título que ela também reconhece:

“Eu trouxe para a minha música o funk da periferia, fiz um disco que foi muito percursor dentro da música pop dançante e é por isso que eles me chamam hoje de ‘Mãe do pop dançante brasileiro’ e ‘Madrinha do funk’, porque acabou sendo isso mesmo”.

Como “Madrinha do funk”, a artista faz questão de exaltar o movimento, que recentemente foi considerado música urbana e poderá ser contemplado no Grammy Latino nesta categoria. “O funk é um movimento autêntico, não foi criado por gravadora, por empresário, mas é poderoso, vigoroso e representa sim a música brasileira, mesmo que tenha gente que torce a cara. Quer mudar a letra do funk, muda a realidade do morro”, diz Fernanda.

A relação da cantora com o funk e o morro transcende a música. No último sábado (18), ela inaugurou a “Biblioteca Fernanda Abreu” na Comunidade Faz Quer Quer, em Rocha Miranda, Rio de Janeiro. “Para mim, essa biblioteca é coroar uma relação de anos com a periferia e a favela do Rio de Janeiro. Poder inaugurar esse espaço que eu doei tantos livros e estou tão empenhada pessoalmente em levar para a garotada essa possibilidade de conhecer e ter visão crítica do mundo é demais.”

Aos 60 anos, celebrados no dia 8 de setembro, Fernanda faz um apanhado de sua carreira orgulhosa de seus feitos: “Eu estou bem feliz, eu gosto de dizer que eu tenho 60 anos, talvez porque eu tenha conquistado muita coisa na minha vida. É bacana chegar aos 60 anos com 40 anos de palco. Para mim foi genial ter experimentado um sucesso tão grande com a Blitz e depois ter construído uma carreira tão sólida dentro dessa linguagem, que ninguém imaginava que poderia existir”, diz a cantora, que já planeja o próximo trabalho para 2022; um álbum remixado apenas por DJs e produtoras musicais mulheres.

Fernanda Abreu, a eterna “garota sangue bom, acaba de nos apresentar um novo olhar de clássicos dançantes brasileiros e é um prazer conhecê-lo.

POPline – Como surgiu a ideia de fazer um disco de remixes em comemoração aos seus 30 anos de carreira?

Fernanda Abreu – Essa ideia surgiu no final de 2019 quando eu comecei a projetar o que eu queria fazer para comemorar os 30 anos de carreira, feitos em 2020. A Blitz se dissolveu em 1986, e eu demorei uns 4 anos para lançar o meu primeiro disco solo, exatamente para poder trazer para o mercado a música que eu achava que eu tinha que fazer. Na Blitz eu era mais backing vocal, eu não era compositora, então tinha certo na minha cabeça que eu queria fazer um disco de música pop dançante. Quando eu lancei esse disco em 1990, ele foi tipo o primeiro disco de música pop dançante e essa galera, a cena da pista, os DJs, foram os primeiros a me abraçar com muita força. Eles diziam ‘finalmente uma música cantada em português para a gente tocar nas pistas’ e foi assim os 30 anos da minha carreira. Nos anos 1990, tinha certa implicância com DJ fazer remix, os artistas não curtiram muito, mas eu sempre amei, então eu criei uma relação muito sólida com os DJs e com essa cena. Quando chegou os 30 anos e eu vi que estavam reeditando vinil, a Noize reeditou em vinil o ‘Sla’ [Sla Radical Dance Disco Club] e ele estava tocando em algumas pistas, eu falei ‘quero fazer um disco para retribuir o carinho os DJs tiveram todos esses anos comigo’ e chamei o Meme, que é meu amigo há muitos anos e falei ‘vamos chamar os DJs e perguntar para eles quais músicas eles querem remixar a gente começa a criar esse álbum’. Dito e feito.

POPline – Você convidou 13 DJs para remixar 13 grandes sucessos seus. Como você designou qual música seria trabalhada por cada artista?

Fernanda Abreu – Eu falei ‘Meme vamos perguntar o que eles querem remixar’ e não teve ninguém que bateu com ninguém. Eu regravei todas as vozes, mas para o Millos em especial eu regravei todo o texto e por aí foi, a gente foi criando junto. Eles tiveram toda a liberdade para fazer o que quisessem. O que eu pedi para o Meme é a gente tivesse uma diversidade de linguagem de pista, a gente pudesse ter um charme, uma house, um eletro, um eletrofunk e acho que a gente conseguiu.

POPline – Você sentiu alguma insegurança por modificar seus maiores sucessos?

Fernanda Abreu – Não, são de DJs muito bons e eu tinha certeza que eles iam fazer um trabalho legal. Eu acho que esse disco é de 14 artistas, eu e mais 13 DJs, então para mim é muito claro o respeito que eu tenho que ter com a linguagem estética de cada um. A única coisa que eu fiz foi masterizar para dar uma unidade, porque eu acho importante em um álbum, mas eles tiveram toda a liberdade para criar. Só teve uma situação que ninguém quis fazer o remix de ‘Rio 40°’, falaram ‘a não, essa música é muita responsabilidade’. O Meme chamou um amigo DJ de Miami, mandou a música para ver se ele curtia e ele não entendia nada de português e aquela letra gigante não ajudou, mas eu falei ‘Meme, avisa que não precisa ser respeitoso com a letra’ e isso eu falei para todos os DJs: ‘não precisa respeitar, pode pegar só trechos da letra, repetir 3 vezes, faz o que você quiser, faz a sua versão dessa música’ e ele fez o reggaeton que eu achei super bacana.

Fernanda Abreu “Fernanda Abreu: 30 anos de baile” Foto: Murilo Alvesso

POPline – Você comentou que seu próximo projeto já está em andamento, mas que esse será um trabalho remixado só por mulheres. Você pode adiantar mais alguma coisa sobre ele? 

Fernanda Abreu – O que eu posso falar é a Meme do álbum será a Claudia Assef, que é DJ e jornalista, e a gente tem batido muita bola. Ela tem me mostrado algumas DJs mulheres porque é importante eu conhecer o trabalho delas dentro de estúdio, não só tocando, mas a estética delas, eu preciso entender um pouco a assinatura musical delas para a gente começar a formatar. Eu estou tendo todo esse cuidado de primeiro conhecer as DJs para depois entrar em contato com elas para a gente começar a trabalhar, mas eu estou super animada porque eu sinto que essa cena ainda é muito masculina, então acho que está na hora da mulherada vir eu quero muito estar junto.

POPline – Você já trabalhou com o DJ Meme em praticamente em todos os seus projetos. Por que você acha que essa parceria funciona tão bem?

Fernanda Abreu – Primeiro que a gente tem em comum uma paixão pela Disco, que eu acho que foi o que juntou a gente lá atrás. Segundo porque eu acho que o Meme ele foi do cara que tocava na pista para um grande produtor. Meme produziu muita gente do Pop e ganhou muito experiência. Ele agora domina completamente o estúdio, ao mesmo tempo que continua com a mesma essência do DJ, trazendo aquilo que eu acho mais legal: músicas novas. Meme continua trazendo coisas novas e a gente trabalha bem juntos, é uma parceria bacana.

Confira a setlist do álbum:

1 – JORGE DA CAPADÓCIA (GUI BORATTO REVISITA)

2 – KÁTIA FLÁVIA, A GODIVA DE IRAJÁ (BRUNO BE REMIX)

3 – A NOITE (DJ ZÉ PEDRO & DJ MEME NIGHTLIFE MIX)

4 – BIDOLIBIDO (VINTAGE CULTURE & SHAPELESS REMIX)

5 – RIO 40 GRAUS FEAT.DJ SOUL’AMOUR (ANI PHEARCE REMIX)

6 – VENENO DA LATA (TROPKILLAZ REMIX)

7 – VOCÊ PRA MIM FEAT. PROJOTA (DENNIS DJ REMIX)

8 – SABER CHEGAR (CORELLO DJ & DOUGLAS MARQUES REMIX)

9 – DELICIOSAMENTE (DJ MEME SHORT REMIX)

10 – TORCER PELA PISTA (FANCY INC REMIX)

11 – TAMBOR (DANNY DEE 808IES REMIX)

12 – OUTRO SIM FEAT. EMICIDA (RUXELL REMIX)

13 – SPACE SOUND TO DANCE (MILLOS KAISER MIX)

 

O álbum também deu origem a outro disco com 8 faixas de extended versions. Confira:

1 – JORGE DA CAPADÓCIA (GUI BORATTO REVISITA EXTENDED)

2 – KÁTIA FLÁVIA, A GODIVA DE IRAJÁ (BRUNO BE EXTENDED MIX)

3 – A NOITE (DJ ZÉ PEDRO & DJ MEME NIGHTLIFE CLUB MIX)

4 – SABER CHEGAR (CORELLO DJ & DOUGLAS MARQUES EXTENDED MIX)

5 – DELICIOSAMENTE (DJ MEME CLUB MIX)

6 – TORCER PELA PISTA (FANCY INC EXTENDED MIX)

7 – TAMBOR (DANNY DEE 808IES LONG MIX)

8 – SPACE SOUND TO DANCE (MILLOS KAISER EXTENDED MIX)