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Entrevista: Criadoras da série “Encantado’s”, Thais Pontes e Renata Andrade falam sobre inspiração e representatividade

Responsáveis pela bem sucedida série de comédia “Encantado’s”, do Globoplay, Thais e Renata conversaram com o POPline sobre suas carreiras.

Foto: Instagram @thaisinhapontes

Representatividade no audiovisual é importante e Thais Pontes e Renata Andrade sabem bem disso. Criadoras da série “Encantado’s”, sucesso do Globoplay que estreará na TV Globo na terça, dia 2 de maio, ambas são mulheres criativas pretas que utilizam de sua criatividade para entregar novos imaginários para o povo brasileiro.

Encantado's Globoplay
Foto: Globoplay

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Amigas há bastante tempo, Thais e Renata são formadas em Publicidade e Propaganda, mas foi mesmo na escrita de ficção, seja para a dramaturgia ou para a literatura, onde elas encontraram o terreno mais fértil para suas criatividades.

Ao POPline, Thais Pontes contou como foi parar no mundo dos roteiros de dramaturgia: “Quando eu era jovem, eu nunca tinha me imaginado como roteirista profissional, mas de alguma forma eu acho que eu sempre soube que era isso que eu queria. Eu sempre escrevi muito. Extravasava minhas emoções nos meus diários quando era criança e adolescente. Sempre gostei muito de observar as pessoas e os universos ao meu redor e recontava isso da minha maneira e com meu olhar, desde sempre.”

“Eu fui uma criança e uma adolescente que encontrou na leitura um hábito prazeroso e na escrita também”, contou Renata. “Sempre fui muito observadora, sempre gostei de relatar tudo o que via e vivia. Entendi que era esse o meu barato, queria trabalhar escrevendo, mas achava praticamente impossível realizar. Negra, de origem simples, sem contatos… a chance de trabalhar como roteirista era muito remota e durante um bom tempo eu escanteei esse sonho. Fiz alguns cursos com profissionais que mais tarde se tornariam meus colegas e a certeza de que era isso que eu queria fazer se confirmou mais uma vez”, completou.

Renata Andrade Thais Pontes Encantado's
Foto: Harper’s Bazaar Brasil

Como surgiu “Encantado’s”

“Encantado’s”, projeto criado por Thais e Renata, mostra personagens pretos em situações que fogem do estereótipo já enraizado na dramaturgia brasileira.

“O ‘Encantado´s’ foi o projeto final da Oficinal da Globo para autores negros e/ou periféricos. Eu e Renata somos amiga há mais de 25 anos e fizemos a oficina juntas”, contou Thais.

“Saímos de uma aula com a encomenda de apresentar algum projeto de humor na etapa final do curso. Fomos para um bar e decidimos ali a história que queríamos contar e para quem queríamos contar. Nós a apresentamos em um pitching e a receptividade da empresa e dos colegas foi bastante animadora. De lá para cá, tudo aconteceu bem rápido”, completou Renata.

Algum desses personagens é inspirado em alguma pessoa real, seja ela parte de sua vida cotidiana ou não?

“Ah, todos. Eu conheço cada uma daquelas pessoas. Todos os personagens têm um pouco de nós e das pessoas que os quatro da sala de roteiro já cruzaram pela vida. Eu digo sempre que você conhece ou é alguém do ‘Encantado’s’. Todo mundo ali é fruto das nossas vivências e observações”, afirmou Thais.

Encantado's
Foto: Globoplay

Vocês puderam dar opiniões na escolha dos atores do elenco? Algum personagem já foi escrito pensando especificamente em algum ator ou atriz para interpretá-lo?

“Sim. Eu, Thais, os redatores finais Antonio Prata e Chico Mattoso e o diretor artístico Henrique Sauer participamos juntos dessa escolha. Foi muito gostoso o processo de descobrir, a cada teste, que tínhamos achado a atriz e o ator que dariam vida àqueles personagens. A Dandara Mariana também fez teste, mas eu e a Thais já tínhamos ela em mente desde 2018, quando criamos a
série. No pitching que fizemos para empresa na época, produzimos um encarte de supermercado para apresentarmos a história e os nossos personagens. Desde aquele tempo, Dandara já era a nossa Pandora”, contou Renata.

“Hoje, olho para esse elenco formado e sinto que rolou um grande encontro. Era muito bom assistir os testes e ter certeza de que aquele ator era perfeito para aquele personagem. Deu match. Sem dúvida, é um elenco dos sonhos”, completou Thais.

A segunda temporada

Com o sucesso da primeira temporada no Globoplay e a chegada da série na TV aberta, “Encantado’s” já está mais do que confirmado para uma segunda temporada. E a expectativa não poderia ser maior.

“Já entregamos todos os episódios da segunda temporada. Teremos um episódio a mais (serão 12) e tivemos a entrada de mais uma roteirista na sala, a Hela Santana”, contou Thais. “Estou bem feliz com o resultado do que entregamos. Temos muita coisa para contar e esperamos que o futuro nos reserve mais temporadas.”

“Na nova temporada, todos eles têm ainda mais espaço para viver suas loucuras e para serem quem são. O que se pode esperar é isso: mais uma temporada divertida, com muito afeto, amor e aquela leveza que só o humor traz”, afirmou Renata.

Encantado's
Foto: Globoplay

Representatividade é importante

Contar histórias de pessoas pretas que fogem do que já é visto na dramaturgia brasileira é representatividade. E com “Encantado’s”, Thais e Renata trouxeram exatamente isso como uma das missões da série, que além de divertir é também de mostrar realidades que podem parecer novas para muitos, mas não são.

“Eu acho que é muito importante criar novos imaginários. É muito importante mostrar que não somos só dor. Claro que é importante falar dos nossos problemas e mazelas, mas é fundamental mostrar que não somos só isso e acho que a série cumpre isso. Nos colocar no lugar de agentes de felicidade é cada vez mais necessário até para mostrar que somos plurais e diferentes entre nós mesmos”, contou Thais.

“Pessoas negras querem se ver em outros lugares, querem ver novas representações que não as de sempre. Fugir do lugar-comum tão explorado ao longo dos anos pelo audiovisual é o melhor e é
o que esse público, ávido em se reconhecer e em se ver em outros perfis, espera”, contou Renata, que completou:

“O fato de termos um elenco predominantemente negro nos deu também a oportunidade de falar sobre o aspecto racial, ainda que não tenhamos necessariamente feito disso uma pauta. São questões que estão no dia a dia de pessoas negras, vivências que eu e Thais conhecemos muito bem e que não queríamos deixar de fora. Acredito que quanto mais produções encabeçadas por
pessoas negras surgirem, mais longe dos estereótipos estaremos.”