Você não sabe quem é Now United, não entende o que o BTS tem demais, não se interessa pela esquisitice de Billie Eilish e sente saudade de ídolos do passado. Os grupos que você gostava estão fazendo turnês de reunião – ou você está torcendo para que isso aconteça – e suas cantoras favoritas não são mais competitivas nas paradas. A maioria delas, na verdade, leva uma vida reclusa concentrada na maternidade. Parabéns, você chegou aos 30 anos.
Bem, eu pelo menos cheguei. Não foi exatamente agora, já faz alguns meses, mas ultimamente comecei a pensar no significado disso musicalmente. São três décadas de música pop, que podem ser divididas em etapas muito claras: infância / adolescência / início da vida adulta. De zero a dez anos, entrei em contato com Xuxa, Chiquititas, Sandy & Junior, Spice Girls e Backstreet Boys. Doz 11 aos 20, conheci Britney Spears, JoJo, RBD, McFly, mais ou menos isso. Você deve ter conhecido também os produtos da Disney neste período (Miley, Demi, Selena, Jonas…), mas eu nunca fui um menino Disney. Dos 21 aos 30, vieram Amy Winehouse, Adele, Bruno Mars, Justin Bieber (me rendi), Ariana Grande e Taylor Swift. E agora qualquer novidade pop parece teen demais para adentrar alguma playlist minha. Eu não posso dizer nem que realmente fico empolgado com o dia de lançamentos.
Tenho que admitir para você, leitor: não há nada que realmente me empolgue no Top 40 global do Spotify. Tá, “Señorita” é bem legal, mas sério, quem ainda aguenta escutar a mesma música depois de tantos meses? Fui ver o Top 40 mundial do iTunes. Salvo “Shallow” (meu Deus, quem são as pessoas que ainda estão baixando essa música?) e “The Man”, nada que me interesse de verdade ali. Uma pesquisa da Deezer em 2018 concluiu que as pessoas param de descobrir novos artistas, em média, em torno dos 27 anos e acho que isso explica muito.
Eu trabalho no POPline e isso me obriga a estar antenado e a par de tudo que está acontecendo, mas eu tenho certeza que seria muito mais fechado musicalmente caso não estivesse aqui. Simplesmente já sei do que gosto. Não preciso de mais, por mais ranzinza que isso soe. OMG, eu tenho certeza que essa coluna está soando como um tio velho. Eu ainda prefiro ouvir, neste exato momento, “Skyfall” a “No Time To Die”. Sou capaz de trabalhar ouvindo “Overprotected”, “Big Girls Don’t Cry” e “Hate That I Love You”. Tipo, isso aconteceu anteontem. Não é “ON”, “My Oh My” e nem mesmo “Don’t Start Now” que eu vou botar para tocar. Digo “nem mesmo”, porque muitos amigos curtem Dua Lipa. Ela conseguiu conquistar ouvintes acima dos 30. Ponto pra Dua.
Não tem jeito: o pop é jovem e a gente fica velho. Minha psicóloga diz que eu ainda sou “superjovem” e tenho mania de dizer que estou velho. Pode ser. Mas o pop sim é “superjovem”, mais jovem do que eu, sem dúvidas. Pessoas de 30 anos não levantam hashtags, não votam em premiações e, embora tenham o poder aquisitivo para comprar ingressos dos shows, pensam duas vezes, por conta dos boletos a pagar. Francamente, a gente movimenta muito pouco o mercado pop. Não dá nem para reclamar por falta de representatividade (contém ironia). Faz todo sentido Rihanna focar em lingeries e maquiagem. É o que vende. Lady Gaga, por exemplo, foi fazer jazz, rock, folk. Seu público cresceu, ela também, e é natural dialogar mais com outros estilos musicais. Veja bem, até estrela de cinema a “Mother Monster” virou. É mais fácil arrastar adultos para o cinema do que para mutirões no Spotify, é óbvio. Aí ela volta ao pop com “Stupid Love” e a gente mais acha estranho do que adora toda aquela estética de heroína de anime. Ela obviamente está tentando se comunicar com um público mais jovem (tentando conquistá-lo), aquele que movimenta a indústria. Os little monsters das antigas já estão conquistados e são fiéis.
Eu vejo muito dos meus pares reclamando que “o Grammy não é mais ou mesmo” ou que “a Billboard já não é mais tão boa”. Eu conto ou você conta? As premiações e as paradas estão repletas de músicas para adolescentes e jovens adultos… como sempre foram! Só que antes nós éramos essa galera. Hoje são os fãs do BTS que reinam, antes foram os do One Direction e antes os dos Backstreet Boys. A roda gira. Meio que sempre foi assim, sabe? A gente continua ouvindo as músicas que amamos da Britney, da Christina, da P!nk, mas há uma diferença absurda entre o consumo de um adolescente e o de um adulto. Um garoto “vive para a música” e aquilo ocupa um espaço enorme em sua vida. Um adulto, com tantas responsabilidades e afazeres, consome menos e, com isso, seus ídolos consequentemente se tornam menos relevantes comercialmente. O “Witness” da Katy Perry era mesmo ruim ou seus fãs apenas cresceram e não estavam repercutindo o trabalho dela? É um ponto. Não é à toa que, há décadas, Madonna sempre se associa a um artista bastante jovem para seus lançamentos: além de se manter sempre atualizada, ela sabe que precisa dessa audiência jovem para promover seu trabalho. Os fãs de 50 anos não são bons nisso. Vou chegar lá. Sei.
Estou em um processo de reflexão e autocrítica, porque não quero me tornar essas pessoas que dizem “bom mesmo era na minha época”. Não era nada. Tenho plena consciência de que enquanto eu adorava Sandy & Junior e RBD, as pessoas acima dos 30 anos achavam essas músicas uma grande bosta. Então cada um cumpre seu papel, em cada etapa da vida. O pop para maiores de 30 anos raramente estará no Top 10 da Billboard ou nos trending topics. E não será pior ou menos importante por não ser popular. Nós, já não garotinhos, sempre teremos Las Vegas e suas residências para assistir.
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