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Coluna do Leonardo Torres: Manu Gavassi é detonada diariamente pelos homens no “BBB” e esse problema é mais deles do que dela

“Forçada”, “antipática”, “cenário” e “nojo” são alguns dos comentários dos homens enfezados.

“Acho que Manu está meio queimada” – Victor Hugo.
“Manu não fede nem cheira” – Lucas.
“Que mania é essa que ela tem de apontar o dedo, cara?” – Hadson.
“Não acho a postura dela maneira” – Babu.
“Ela é forçada” – Felipe.
“Menina antipática” – Hadson.
“Ela é muito cenário” – Felipe.
“A Manu me incomoda muito” – Hadson.
“Difícil dialogar com quem é perfeito” – Lucas.
“Essa Manu me dá nojo. Não aguento a voz dela” – Hadson.
“Uma menina que mal sabe lavar as roupas dela” – Babu.

Os homens do “Big Brother Brasil” não suportam Manu Gavassi. Por quê?, é a pegunta inevitável. Porque ela é uma fada sensata, grita a Internet. Manu Gavassi é a pessoa certa para o momento certo. Vivemos tempos sombrios – de praticamente desesperança na humanidade, se você costuma ler as notícias, sobretudo as de política. A última edição do “BBB”, no ano passado, foi vencida por uma mulher que passou o programa protagonizando cenas de racismo e intolerância religiosa. É triste, mas é verdade. Era 2019, mas você sabe, parece que estamos na Idade Média já há algum tempo. Até havia algumas pessoas dentro do programa que questionavam as atitudes e falas dela, mas muito timidamente, quase que se desculpando por discordar. Não dá para culpá-los por não “militarem”, pois o mundo faz isso conosco – nos silencia. A gente aprende a ouvir e engolir desaforo quando está em desvantagem. Manu Gavassi, não. É por isso que ela – como foi que Hadson disse? – incomoda.

Em 99% das vezes, quem reclama de mimimi é o opressor e não o oprimido. Lucas, Hadson, Felipe e até Babu, Pyong, Vigor Hugo e eu que vos falo desfrutamos de um papel privilegiado na sociedade: somos homens. A história foi escrita por homens, as religiões mais populares foram criadas e lideradas por homens, os governos até hoje estão, em grande maioria, no poder de homens. Nada disso é mérito. É só que as mulheres foram proibidas e sufocadas – por homens – por muito tempo. O machismo impera em todo o mundo porque eram homens que estavam no comando durante todos esses milênios. Inevitavelmente, isso gera maior ou menor grau de arrogância na maioria dos homens. Esse é o problema no confinamento do “BBB”. Como assim uma patricinha de 27 anos chega aqui, cheia de lucidez, firme em suas convicções, sublinhando todas as bostas que estou fazendo? Forçada! Nojenta! Julgadora! Antipática! (eu adoro esse último, “antipática” haha) O macho se desespera. A mais nova da casa é repetir que “é muito fácil julgar, difícil é ajudar”. Os homens- aqueles que julgam roupas, opiniões e comportamentos femininos desde que mundo é mundo – não estão sabendo lidar com o jogo invertido. E Manu, honra seja feita, ajuda sim.

Ela mostrou para os caras o que estava errado – tudo que disseram e fizeram que era incômodo, para não dizer inadmissível. O problema é que é mesmo muito difícil sair de um lugar de privilégio e aceitar uma crítica. Manu ouviu o que eles tinham a dizer, porque eles achavam que tinham algo a dizer além de “desculpas”. O problema é que o homem se enrola a cada vez que tenta se explicar: fala alto, fica agressivo, não junta a+b. Está acostumado a oprimir, não a discutir / negociar. A culpa não é dela se você, embuste, não se preparou para o confronto, afinal. Manu Gavassi é fruto da quarta onda feminista. É articulada e tem estofo. Conhece seus direitos e seus deveres. Não fica intimidada por voz grossa, alta estatura, alguns músculos e manifestações exacerbadas de masculinidade – não em uma casa filmada 24 horas por dia e transmitida ao vivo para o Brasil inteiro. Ela sabe que as pessoas estão vendo e entenderão o que é certo e o que é errado, porque é tudo muito óbvio.

Um homem falar que só não comeu uma mulher (casada, que não te deu essas intimidades) porque não estava com fome = INACEITÁVEL
Um homem passar o dia olhando maliciosamente para uma mulher e fazê-la sentir-se desconfortável com o próprio corpo = INACEITÁVEL
Um homem verbalizar que SE FOR PARA PAGAR UMA BEBIDA (PARA UMA MULHER) MELHOR PAGAR EM OUTRO LUGAR (UM BORDEL) = INACEITÁVEL
Pedir que os caras sejam socialmente respeitosos desperta a ira. Hadson, eliminado com 79% dos votos no paredão, saiu da casa dizendo que não quer ver Manu nem pintada de ouro. Não entende que foi julgado pelo plano que bolou conta Mari e Bianca, revelado para a casa por Marcela e Gisela*. Ficou com aversão à Manu. Por quê? Porque, enquanto ele fazia todo mundo estremecer negando todas as acusações, Manu se manteve firme. Até Gisela achou que estava louca. Manu acreditou nela, mesmo sem ser sua amiga, e não passou a mão na cabeça de Hadson – como a maior parte da casa depois do baque inicial. “Parece só uma piadinha de moleque. ‘Ele foi criado assim’, né? Só que, se a gente parar para pensar, como isso é ofensivo para a gente… (…) Imagina quantas mulheres não apanham, não morrem, não vivem oprimidas a vida inteira por não conseguir se desvencilhar de caras que fazem esse tipo de comentário?”, questionou a cantora.
*Hadson não entende também que Manu não quer vê-lo, do mesmo jeito.

(Foto: Divulgação)

O BBB é um espelho dos conflitos contemporâneos – agora entre aquelas que não aceitam mais ficarem caladas e aqueles que não estão dispostos a ouvir. A quarta onda feminista (e eu falo com muito cuidado sobre o tema, porque sou homem, eu sei) é marcada pela voz possível pelas redes sociais. Tem a ver com esse senso comum de que “hoje em dia todo mundo tem voz, graças a Internet”. Mas a verdade é que não são todos que têm ouvidos. Muita gente não quer ouvir um monte de coisas. Homens como Hadson, Felipe e Lucas ainda não estão abertos à escuta. As mulheres podem estar discursando, teorizando, comprovando e protestando nas redes sociais. Eles simplesmente não leem esse conteúdo. Confinados dentro de uma casa, sem poder sair, não há como fugir. Para não escutar, só gritando. E eles gritam.

Quando o plano de sedução contra as comprometidas vazou**, as mulheres os confrontaram e foram chamadas de loucas, mentirosas, histéricas e “julgadoras”. Questionaram as atitudes machistas e não encontraram escuta. Nada que as surpreendesse, sejamos realistas. Mas, dias depois, Babu falou sobre machismo e feminismo para os “brothers” e eles ouviram calados. Eles o-u-v-i-r-a-m, sem nenhum chilique! E quer mais? Babu foi ovacionado aqui fora, simplesmente por parafrasear o que toda mulher diz há tanto tempo. É muito triste ser homem, gente, porque é muito difícil defender. A mulher fala: ninguém ouve. O homem fala: UHUL, LINDÍSSIMO, FALOU TUDO. God! Esse mesmo Babu, aliás, já mudou completamente seu comportamento e anda sendo grosso com Manu Gavassi também.

**Se você não sabe do que estou falando, procura no Google. Foi o bafo do início do verão.

É claro que essa luta não é só de Manu Gavassi. Ela é aqui uma alegoria, gancho para tratar do tema em um site de música pop. Marcela, Gisela, Thelma, Rafa, Gabi, Ivy, Mari, Flay, Bianca têm todas suas lutas lá dentro. Mas Manu tem mesmo sido muito íntegra. A gente precisa ouvir mais Manu. Literalmente. Além de “fada sensata”, ela ainda canta. Eu tenho dado meus streams. Se algum dia critiquei, desculpa. Tô viciado nessas aqui:

Para continuar o papo, me procure no Instagram: @falaleonardo.

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