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Coluna do Leonardo Torres: e quando os impactos culturais estavam nas mãos da música pop?

(Foto: Reprodução)

Thriller. Sutiã de cone. Biquíni de fita isolante. Vestido de carne. Single Ladies. Anaconda. Famous. Oops… I Did It Again. Born This Way. Wrecking Ball. Show das Poderosas. Era Teenage Dream. All I Want For Christmas Is You. I Will Always Love You. Lady Marmalade. Wannabe. Work. Beijo de Madonna, Britney e Christina no VMA. Jelena. Cabeça raspada. “Beyoncé”, o álbum. O peito no Super Bowl. Ragatanga. Uptown Funk. Baby. Bad Blood. Rehab. Hello. Formation. A cobra, o twerk, a performer sangrando, o Gimme More no VMA. Você reconhece todos esses momentos, certamente. São ícones da música e da cultura pop. Agora te dou um tempo para pensar em qual foi o último momento icônico da música pop recente. Tome seu tempo. Eu disse icônico.

São tantos lançamentos e os ciclos de vida das obras são tão efêmeros que é difícil dizer. Eu pensei em “thank u, next”, que ficou sete semanas no topo da Billboard, liderou paradas em 14 países, fez todo mundo repetir o refrão e deixou todos os fãs do gênero em expectativa para a estreia do clipe, que na época quebrou recorde de maior número de acessos nas primeiras 24 horas. Foram 55,4 milhões. Mas isso aconteceu no fim de 2018 e já estamos no início de 2020*.

*Ariana ainda teve “7 Rings” depois, que foi um sucesso avassalador, mas não considero icônico.

De lá para cá, parece que os pontos altos cultura pop não estão mais na mão da música pop necessariamente. “Old Town Road” (Lil Nas X) e “The Box” (Roddy Ricch) são raps catapultados pelo TikTok, app que ainda não conseguiu ajudar a música pop, embora todos os artistas estejam correndo para lá (Justin tentou sem sucesso forçar um viral de “Yummy”, por exemplo). O próprio fenômeno da Cardi B, como um todo, não é exatamente do pop. Billie Eilish explodiu, mas ainda não entregou um momento icônico para que todos comentem no Twitter ou na mesa do bar. Não é todo mundo que sabe quem é ela ou algo que ela tenha feito. Lizzo, idem. Essas pessoas têm seus momentos, mas não protagonizam ainda momentos globais. Não furaram a bolha. Seus pontos altos são importantes apenas para suas próprias carreiras, e não representam parágrafos na História.

No Brasil, o que temos tido de icônico? Não lembro. O viral “Tudo OK” não é pop nem icônico. É só viral, tipo MC Loma. As músicas e o clipes da Anitta há muito tempo não têm mais impacto. É tanto material despejado sucessivamente que ela mesma não tem como caprichar no conteúdo, na inovação e no efeito surpreendente, nem o público tem como prestar atenção em tanta oferta. Não quero criticar Anitta. Ela já fez bastante e já foi muito boa nisso algum dia**. Todo mundo que veio em sua rebarba não parece ter a mesma preocupação ou o mesmo tino para fazer algo “único” – que envolve tanto a qualidade quanto o marketing do lançamento e o impacto cultural. Os artistas pop nacionais, salvo algumas exceções, só estão querendo ter músicas suficientes para montar e/ou reciclar setlist e vender shows. Shows esses que, cá entre nós, estão longe de serem espetaculares. Temos visto músicas descartáveis acompanhadas de clipes que não vão muito além de cumprir tabela. Ou músicas maravilhosas, mas má embaladas e mal aproveitadas. Ninguém está propondo nada impressionante e/ou marcante. O que será lembrado daqui a dez ou 20 anos?

**Acho que teria sido icônico o clipe de “Faz Gostoso” com a Madonna, mas não rolou.

As músicas hoje em dia têm ciclos de vida muito curtos e é compreensível que artistas e suas equipes invistam menos tempo e dinheiro na criação de conteúdos. O buzz dura tão pouco! Nós enquanto público estamos consumindo diferente, todo mundo sabe disso. Mas sinto falta de popstars dispostos a fazer história, mais do que simplesmente lançar singles de vez em quando ou toda hora. Isso não é uma obrigação nem uma meta, é claro. É só um desejo meu, e talvez de alguém que esteja lendo aí também. A gente inegavelmente sabe quando algo nasce icônico aos nossos olhos, e isso é mágico pra caramba! Tudo tem sido tão “ok” ultimamente. Vamos ver o que Lady Gaga vai trazer em “Chromatica”. Estou curioso. Há muita gente com potencial para nos surpreender. Beyoncé é alguém que cuida de cada lançamento minuciosamente como se fosse uma obra-prima. Ainda que não seja. Mesmo que não alcance resultados impressionantes, você percebe o esforço e o investimento criativo dela em cada trabalho. Gosto disso. Acho que Adele, divorciada e repaginada, pode vir com bons momentos também. Ela parou o mundo da última vez só com um “hello”. Rihanna, quem sabe. Bruno Mars também é alguém em quem acredito. Vamos ver. 2020 está começando e o potencial de impacto pode estar nas mãos de alguém que ainda não conhecemos.

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