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Coluna da Amanda Faia: vem aí um novo movimento na cena pop internacional?

Conversamos com Ruxell e Pablo Bispo sobre um esboço da nova a cena que pode vir a ser mais do que um simples título do novo álbum da Dua Lipa!

Foto: Divulgação

Em uma descrição bem superficial da música pop há dois elementos que saltam aos ouvidos: uma música repetitiva a ponto de grudar na cabeça e ser um caldeirão de estilos. De modo grosseiro a gente pode dizer que a música pop consegue abraçar referências de vários gêneros, a partir do uso de samples ou não, fazendo com que aquele movimento retorne às rádios e, atualmente, também às playlists digitais com um toque contemporâneo.

Não vou voltar muito no tempo, mas de cara a gente pode exemplificar o lado eclético do pop com a aproximação com o R&B na década de 1990 e o casamento perfeito com a música eletrônica no início dos anos 2000. Em 2020 é possível que estejamos testemunhando um “novo movimento”. Quem viveu, sabe reconhece.

Vou propor aqui o desafio que fiz entre seguidores do Twitter: escute “Stupid Love” (Lady Gaga), “Physical” (Dua Lipa) e “Blinding Lights” (The Weeknd) em sequência.

Agora ouça “The Other Side” (SZA e Justin Timberlake), “Say So” (Doja Cat)” e “Don’t Start Now” (Dua Lipa) uma atrás da outra. Será que você consegue identificar similaridades entre essas canções?

Trocando em miúdos, se no primeiro grupo a gente vê um bloco de canções mergulhadas na década de 1980 com bateria de forte bumbo e, claro, a influência dos sintetizadores que caracterizaram nomes como o A-ha e Pet Shop Boys, no segundo a gente tem a predominância do contrabaixo, uma limpa guitarra e chimbal da bateria que claramente identificam a era disco. É bom deixar claro que os artistas citados acima não estão criando uma nova tendência ou são responsáveis pelo “retorno” das eras 1970 e 1980. Eles estão ajudando a fortalecer o que a gente vem assistindo gradualmente (se é que você percebeu) de três anos para cá.

“Funk Wav Bounces Vol. 1”, álbum do Calvin; “God Control”, presente no “Madame X”, da Madonna; “Flerte Revival”, da Letrux; o disco “Late Night Feelings”, do Mark Ronson; vem reforçando aqui e ali que no pop tudo se recria, e isso não é algo negativo. Atualmente, Dua Lipa foi a única a amarrar o resgate da sonoridade de outras décadas em conceito e entregou para gente no título do próximo álbum o que pode até servir como denominação dessa repaginada, o “Future Nostalgia”.

E você deve estar se perguntando ‘por que e como esse movimento está surgindo?’. Busquei dois super produtores do pop nacional para nos guiar: Pablo Bispo e Ruxell – junto com Sérgio Santos, eles assinam como OS DOGZ,  grupo responsável por diversos sucessos do pop nacional. A resposta pode se resumir em duas razões: uma “vida útil” dos tais movimentos e o resgate nostálgico que vemos crescer recentemente.

“Eu particularmente amo [essa nostalgia]. Acho que um dos precursores desse rolê foi o Bruno Mars. Ele foi redirecionando isso aos poucos, mas chegou um momento que ele se tornou aquele personagem. Aquele malandro boa praça, pegando um som que era 1970, 1980 e as demais pessoas foram se encontrando. E agora você vê artistas como a Lizzo também. A Lady Gaga acabou de lançar uma música, a SZA com Justin, todos resgatando suas essências, os artistas que os influenciaram. A Janelle Monáe com uma música super parecida com Prince [“Make Me Feel”], o The Weeknd fazendo coisas bem oitentistas e você vê esse pop abrindo. Ao mesmo tempo que ele é retrô, ele é futurista porque ele usa os synths, os bumbos, as linhas melódicas também, mas com os beats eletrônicos. Então ele se renova. Isso é muito importante pra cena, pra cultura, como um todo”, nos disse.

“A música vive ciclos. Eu não sei se isso ainda se aplica, mas há um tempo se aplicava que a música se renovava de 20 em 20 anos, buscava nas raízes uma nova forma de recolocar estilos que já foram escutados no mercado. E acho que para 2020 em diante a gente pode esperar ouvir bastante coisa dos anos 1980, até por ter sido uma fase de ouro da música mundial não só da música brasileira”, nos contou Ruxell.

Tecnicamente falando, Ruxell explica que essa vida cíclica da música pop transforma o BPM (Batida Por Minuto) e dita a cara da nova próxima cena. “A gente está numa fase que o BPM vai aumentar. A gente viveu de 2012 até agora uma era de BPM dentro da música pop que foi quando o Major Lazer revolucionou trazendo a pegada do reggaeton, das influências do afrobeat que são os midtempo, de 90 a 110 BPM. E pelo o que eu tenho sentido, de acordo com esse ciclo, as coisas estão aumentando. E quando a gente fala de BPM mais acelerados, a gente fala de mais energia, mais dança que é algo muito característico da disco music, do funk norte-americano. Aqui no Brasil o próprio Tim Maia tinha muito disso. A disco music já trabalha de 115 a 120 BPM e acho que é exatamente esse ciclo que a gente vai viver a partir de agora. As músicas vão voltar a ser mais pra cima, mais aceleradas e podemos esperar isso não só da música internacional, mas aqui do Brasil também”.

“Hoje se você parar para pensar, as músicas que estão em alta na gringa, do trap e tudo mais, são melodias do rock, que há 20 anos, nos anos 2000, era algo que dominava. O Post Malone fez um álbum de rock, mas a galera não entende como rock porque tá vendo um cara com outra atitude”, exemplifica Bispo.

A “segunda justificativa”, a da nostalgia, é Bispo quem explica. “Todos os artistas que estão lançando músicas inspiradas em coisas antigas estão mantendo essa essência porque é também a essência deles. Não só dos anos 1970, 1980, mas dos anos 1990 e 2000 também. Todas as décadas estão em alta porque a nostalgia está sempre em alta. Por quê? Porque quando você traz um artista novo que fez algo nostálgico, pro adolescente de hoje aquilo é algo novo, mas quem viveu consegue engajar também já que remete a algo que ele viveu, lembranças normalmente boas. Uma parada que está no subconsciente”.

Se o artista é muito novo, não viveu a tal época em si, a equipe por trás dá aquela ajudinha: em “Stupid Love”, Lady Gaga trabalha pela primeira vez com Max Martin que também assina a produção de “Blinding Lights” e a co-composição de “The Other Side”. Por mais que Max seja conhecido por ser um dos maiores responsáveis do estouro da música pop nos Estados Unidos, o compositor e produtor é sueco – quase o berço da música setentista e oitentista. Europe, Ace of Base, Roxette, a cantora Robyn e, claro, ABBA saíram de lá. Ludwig Goransson, que está nos créditos de “The Other Side”, e Oscar Holter de “Blinding Lights” também são suecos. Pode ser apenas uma “coincidência”, mas eu não acredito.

E como fica o Brasil neste movimento? Para Ruxell, a hora de se mexer é agora. “A gente tem grandes exemplos da música brasileira que tem essa raiz e eu acredito que se a gente não começar a olhar para essa nova tendência aqui, vamos novamente demorar [a engajar] porque o movimento é mundial. Foi assim com o reggaeton, com o trap há pouco tempo. Os artistas brasileiros que vierem nessa onda, provavelmente vão encontrar dentro de casa muito mais do que necessariamente se espelhar 100% nessa fonte americana. Hoje em dia o brasileiro tem uma pegada autossuficiente, a gente consegue sobreviver da nossa música, com as nossas raízes, nossas influências, alimentando o nosso público com o que a gente sabe fazer. Dentro do Brasil a gente vai trabalhando com misturas. Acredito que daqui pra frente a gente consiga pegar essa nova tendência musical e transformar em algo único nosso”, explicou.

O primeiro passo deve ser dado em breve com uma artista que tem o “selo DOGZ de qualidade”. “A gente tem produzido uma artista do nosso selo, do Inbraza, que possui essas características, que já eram dela. Não é porque a galera tá fazendo isso. Ela veio com esse berço e ela queria fazer disso um rolê novo, então a gente tem que estudar, estudar todo o cenário para saber quem é você. Cada hora o artista é um pouco diferente porque em cada momento da sua vida você foi de um jeito. Acho que quando outros artistas avistarem outros sendo autênticos, com [uso de] contrabaixo, com chimbal, guitarra, a galera vai começar tipo, ‘vamos voltar com isso, algo orgânico’. A gente estava numa onda 100% eletrônico. Agora a gente vê que dá para ser algo orgânico, tocado, dá uma vibe diferente, sabe?”, explica Bispo.

Então que venha a próxima era!

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