As jornalistas especializadas em música Chris Fuscaldo e Kamille Viola iniciaram uma coleta de dados para descobrir “Quem são as pesquisadoras musicais brasileiras?” hoje no país. O objetivo da pesquisa é mapear quem são as mulheres que pesquisam, escrevem ou falam sobre música em seu dia a dia profissional.
Leia mais:
- Biógrafos de Elis Regina e Belchior contam bastidores em podcast
- Ubook lança audiobook da biografia de Janis Joplin na voz de Carol Fazu
- Autobiografia de Dave Grohl ganha versão em português em janeiro
Premiadas autoras de biografias musicais, Chris e Kamille desenvolveram um formulário em que as mulheres deverão dizer onde estão e quais são os seus trabalhos no cenário jornalístico, acadêmico e musical. “Tais informações ajudarão a, em breve, consolidar dados e criar um banco de fontes para dar visibilidade às mulheres que buscam viver de suas pesquisas”, destacam as jornalistas.
“O objetivo principal desse mapeamento é criar uma rede de apoio, com o intuito de desinvisibilizar as pesquisadoras musicais no mercado. Queremos avançar a fronteira do eixo Rio-São Paulo, onde por muito tempo estiveram os pesquisadores mais famosos, porque aqui estiveram os grandes jornais e emissoras de TV e rádio do país. Com a internet, isso mudou e a gente sabe que os pesquisadores estão pelo Brasil todo”, diz Chris Fuscaldo.
E completa: “A ideia é democratizar, jogando luz principalmente sobre as mulheres, que trilham caminhos muito mais longos do que os homens tanto no mercado jornalístico quanto acadêmico. A gente não quer que os homens percam espaço, mas não queremos mais que sejam sempre eles falando, publicando, criando projetos sobre música, ainda recebendo melhores pagamentos”.
Foto: Divulgação
Kamille Viola revela que elas querem que o trabalho reflita a diversidade que existe no Brasil, mapeando pesquisadoras negras, indígenas, trans. “Sabemos que, se nós, que somos duas mulheres brancas do Rio de Janeiro, já encontramos muitos obstáculos ao longo de nossas carreiras, existem mulheres que enfrentam dificuldades ainda maiores”.
“A receptividade à pesquisa foi muito boa, recebemos muitas mensagens de mulheres felizes com a existência dela, sinal de que havia essa necessidade de jogar luz sobre o trabalho dessas mulheres. Por enquanto, nosso trabalho é totalmente independente, mas esperamos encontrar empresas interessadas em patrocinar a pesquisa e seus desdobramentos. Porque, se tudo der certo, a pesquisa vai dar origem a um projeto transmídia, com e-book, podcast, lives, vídeos etc. A sociedade precisa entender que ter mais diversidade nos espaços não é um favor que se faz. Todo nós ganhamos quando há pluralidade de olhares”, finaliza.
As jornalistas ainda destacam que para que o projeto ganhe vida e se consolide como um produto, elas estão em busca de patrocínio de empresas interessadas em reverberar a voz feminina na pesquisa musical do país.
Sobre as pesquisadoras
A Chris é autora de “Discobiografia Legionária” (2016), o bilíngue “Discobiografia Mutante” (2018) e “Viver é melhor que sonhar – Os Últimos Caminhos de Belchior”. Também é coordenadora do curso “História da Música Brasileira”, do Music Rio Academy, e a tese de doutorado dela (em Letras) foi sobre “cantautoras” brasileiras, mostrando as dificuldades nas trajetórias de sete mulheres por conta do machismo, em alguns casos racismo, lesbofobia etc.
Kamille Viola é autora do “África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver” (2020), finalista do Prêmio Jabuti em 2021, e professora do curso também. Foi curadora de alguns júris de música e cultura em geral (Petrobras, Oi Futuro, festival Se Rasgum etc.). Hoje, trabalha na Veja Rio.
Tanto Chris Fuscaldo quanto Kamille Viola fazem parte do Women in Music e foram indicadas ao Prêmio Women’s Music Event (WME) 2021 na categoria Jornalismo Musical, junto com Pérola Mathias, Isabela Yu e Fabiane Pereira (vencedora).
