Muitas das principais cantoras negras do Brasil estão na luta por seu espaço de direito na indústria da música, principalmente em festivais. O estopim para isso aconteceu quando o Nômade Festival anunciou um show da Erykah Badu. Esta é uma artista dos Estados Unidos que é referência para a música preta mundial. No entanto, foram anunciados shows de apoio Bala Desejo, Céu e Gilsons. Logo apareceram as críticas de que os artistas escolhidos não representam o movimento que a cantora principal se enquadra.
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Bala Desejo e Céu logo emitiram comunicados saindo do line-up, entendendo a problemática. Para deixar o público e os envolvidos ainda mais por dentro do assunto, foi divulgada nesta sexta-feira (25) uma nota sobre o assunto.
A lista das artistas signatárias da nota de observação é grande. Confira: Xênia França, Liniker, Luedji Luna, Mahmundi, Luciane Dom, Ellen Oléria, Gabi Amarantos, Bia Ferreira, Lio, Majur, Larissa Luz, Anelis Assumpção, Tássia Reis, Teresa Cristina, Brisa Flow, Karol Conka, Kaê Guajajara, Marissol Mwaba.
A nota aponta para importantes questões
“Isso revela uma curadoria totalmente desconectada com o momento presente, visto que essa artista dialoga com diversos outros da música preta brasileira atual. O que se observa é um mercado viciado, fazendo as mesmas escolhas de sempre: ignorar artistas negros/indígenas no Brasil, sobretudo mulheres”, afirma.
A carta denuncia um sistemático apagamento de pessoas negras/indígenas, especialmente mulheres negras/indígenas. “Grandes festivais, ainda estão sob domínio da branquitude que insiste em seguir com o plano da exclusão, disfarçado em métodos contemporâneos onde racialidade e gênero serão ignorados como pautas centrais para a construção de quaisquer narrativas de reparo, alternância e redistribuição de oportunidades“, continua.
As artistas fazem questão de ressaltar que não se trata só de entretenimento, mas de uma questão social.
“Arte e cultura, ao contrário do que preguiçosamente se imagina, são pontos centrais no desenvolvimento geopolítico de um sistema”.
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Uma pluralidade disfarçada é parte da denúncia, quando a representatividade aparece de forma diluída.
“Um festival de arte gera renda, promove empregos diretos e indiretos, amplia e estimula o pensamento e tem responsabilidade social como complemento educacional de um sistema ferido. No entanto, o que podemos observar é a manobra do capital a forjar uma pluralidade disfarçada, subjugando tanto o público, quanto as artistas excluídas. Esse movimento corrobora com toda a complexidade vivida pelos corpos objetificados pelo mercado. Pretos, são a excelência nas culturas diaspóricas, garantindo invenção de linguagens, porém estão sempre recebendo menos chances, cachês e atenção“, continua.
Foi feito, então, um importante pedido:
“Se o dinheiro que promove os grandes festivais são de imensas labels brancas, o mínimo que queremos, é que suas curadorias sejam negras, femininas e indígenas, onde a representatividade não seja o Dj Alok usando um cocar ou a Claudia Leite se intitulando nega lôra”.
No final das contas, a ideia é chamar atenção para uma questão maior.
“Vivemos um verdadeiro big bang musical, que não se resume apenas a ‘representatividade’ ou ‘empoderamento’, termos cansativos que o mercado usa e abusa como mote conveniente para continuar estereotipando as pessoas, e tentando deixá-las no mesmo lugar de sempre. Estamos falando de arte“, finaliza.