Às vésperas da eleição presidencial, o casal Fernando Grostein Andrade e Fernando Siqueira lança o documentário político “Quebrando Mitos”. O filme, disponibilizado gratuitamente na Internet, aponta as problemáticas envolvidas na ascensão de Jair Bolsonaro em pautas como homofobia, misoginia, racismo, meio ambiente e corrupção. “Muita gente fala ‘ah, mas o Bolsonaro venceu de maneira legítima’. Não venceu. Mentir não é legítimo, fake news não é legítimo. Isso é trapaça. Não tem outro nome”, Fernando Grostein diz ao POPline.
“Eu acredito que a gente tem muita chance de conseguir ver nessa eleição o restabelecimento da ordem democrática no Brasil, que foi abalada. Não dá para dizer que a última eleição foi legítima. O presidente Lula era o primeiro colocado nas pesquisas. A gente viu um juiz prendê-lo para depois virar ministro do Bolsonaro e depois tentar se candidatar a presidente, dizendo que a luta histórica dele é contra o PT. Independente de você gostar do PT, do PSBD, do PDT, não importa. Como um juiz pode dizer que historicamente é contra um partido? Está escancarado que a ultima eleição não foi legítima”, argumenta o cineasta.
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Fernando Grostein é o mesmo diretor do filme “Quebrando o Tabu” (2011), premiado documentário que propôs o debate sobre a descriminalização das drogas no Brasil. No filme novo, ele se coloca com um personagem, traçando sua própria história em paralelo à de Bolsonaro. “Foi natural, como homem gay, que eu estivesse mais sensível ao risco do Bolsonaro”, ele diz na entrevista. Por se posicionar contra o político desde a última eleição, Fernando recebeu muitas ameaças e escolheu se mudar para a Califórnia, nos Estados Unidos.
“Quebrando Mitos” aponta luz também para resistência
Ele encara o filme como sua contribuição para o debate político. Por isso, decidiu lançá-lo de forma gratuita. “Vamos tentar contribuir para elevar a qualidade da discussão, nesse momento que as famílias estão partidas e que os grupos familiares de Whatsapp estão infernais”, pontua. Fernando torce para que professores mostrem para alunos, famílias se reúnam para assistir e líderes religiosos proponham reflexões em suas congregações.
“A gente está comprometido com a transformação social. Esse filme é uma contribuição para debates nas famílias. Quase todo LGBTQ tem uma família conservadora e quase toda família conservadora tem um LGBTQ. Esse diálogo é muito intoxicado”, comenta.
Durante o desenvolvimento do documentário, Fernando Grostein se sentiu esgotado. “Quebrando Mitos” olha para Bolsonaro sob a ótima da “masculinidade catastrófica”. Para isso, temas com estupro, suicídio, machismo e chacinas são levantados. O diretor não aguentou, pausou o processo, conversou com outras pessoas, pediu ajuda do marido para continuar, e os dois reeditaram o material, destacando os movimentos de resistência presentes no país.
“Jean Wyllys, que eu acredito ser um herói, ficou anos falando no Congresso sem que a sociedade ouvisse com a devida atenção. Mas eu consigo enxergar hoje um movimento muito forte, que está ganhando corpo, que está mostrando que o Brasil é maior do que o fascismo”, diz o diretor.
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Desabafo sincero e exposição dos próprios abusos e assédios sofridos
No filme, Fernando Grostein Andrade mostra como declarações agressivas de Bolsonaro são perigosas em um país conhecido por violências contra mulheres e pessoas LGBTQIAP+.O diretor conta que ele mesmo foi vítima de assédios e estupros – um aos 14 anos, outro aos 18 e outro aos 28 anos. Ele acha importante falar para ajudar outras pessoas que passaram por isso.
“Abri a minha vida para ser claro com o espectador de onde eu venho, qual minha experiência e quais são meus pontos cegos. Eu queria chamar a atenção que o problema é estrutural. Quis mostrar que a questão do abuso acontece em famílias que pertencem à classe média. Apesar dos privilégios que me protegeram de um monte de coisas, esses privilégios não me protegeram de outras coisas”, diz ao POPline.
Algo impossível de ignorar – e que o filme não trata – é que Fernando é irmão do apresentador Luciano Huck, que demonstrou aspiração presidencial nos últimos anos mas desistiu de tentar a carreira política, pelo menos por enquanto. Questionado se o filme existiria caso Luciano Huck estivesse concorrendo ao cargo máximo do Executivo, Fernando Grostein não é assertivo.
Vou repetir o que eu disse na entrevista para o Bial: amo muito meu irmão. Ele me criou como pai. Perdi meu pai aos 10 anos. Ele é uma das pessoas mais maravilhosas que eu conheço e, especialmente por isso, quero ele perto da família e longe da política”, conclui.