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Beyoncé e a energia de Oxum em sua vida e carreira

Descubra as influências da poderosa orixá feminina na trajetória da artista.

Beyoncé se apresentou no Grammy 2017 como uma verdadeira Oxum, a deusa da fertilidade (Créditos: Courtesy of Beyoncé)

Mais uma vez um lançamento surpresa de Beyoncé atraiu a atenção do mundo inteiro. Em “BLACK PARADE” ela enaltece suas raízes afro-americanas e clama pelo poder para o povo preto. Mas um detalhe chamou atenção dos fãs mais atentos: a menção à orixá Oxum na letra da música-manifesto.

Beyoncé se apresentou no Grammy 2017 como uma verdadeira Oxum, a deusa da fertilidade (Créditos: Courtesy of Beyoncé)

A frase “Ancestors put me on game / Ankh charm on gold chains, with my Oshun energy” fez com que os termos Beyoncé e Oxum subissem vertiginosamente nos sites de busca durante o fim de semana. Entretanto, este flerte com a religiosidade africana tem sido recorrente na obra da cantora norte-americana, que cresceu em uma família cristã.

É importante que Beyoncé cante sobre sua ancestralidade e empodere seu povo. Estamos diante de uma representante, em escala global, que alerta sobre o racismo estrutural de nossa sociedade. E no Brasil, o preconceito com as religiões de matriz africana – principalmente o Candomblé e a Umbanda – é parte desta triste realidade.

Não podemos afirmar que Beyoncé seja, de fato, regida por Oxum. Mas elencamos uma série de acontecimentos em sua vida e carreira onde a energia desta poderosa orixá se manifesta.

Dançar para seduzir

Conta a lenda que Oxum, com a dança do amor, conseguiu seduzir Ogum, e trazê-lo de volta da floresta à cidade. Mesmo sob a desconfiança dos outros orixás, a jovem insistia em dizer que tinha poderes para cumprir a missão. Com a permissão de Obatalá, o orixá mais velho, Oxum rumou à floresta e se aproximou do local onde Ogum costumava acampar.

O belo corpo, a leveza de seus braços e as pernas aterradoras eram seus pontos fortes. Oxum flutuava como o vento e arrebatou Ogum, que foi conquistado por aquela visão. Enquanto tentava se aproximar, Oxum se afastava e o atraía de volta à cidade. Quando Ogum se deu conta, estavam diante de todos os orixás que aplaudiam o casal em sua dança.

“Deja Vu” e suas cenas na mata, Beyoncé dançando para Jay-Z e a personificação da mulher apaixonada. Qualquer semelhança talvez não seja mera coincidência.

As questões de gênero na sociedade

Outra lenda revela que apenas os oborós (orixás masculinos) se reuniam para discutir assuntos sobre a humanidade. Entretanto, a questionadora Oxum referendava o direito de opinar sobre as mesmas questões. Afinal, ela era tão capacitada quanto eles. Como não conseguiu este espaço para se expressar, utilizou o seu poder para retirar a graça da fertilidade. Afinal, sem a gestação das mulheres não haveria crescimento populacional.

Ao perceberem que algo de estranho acontecia no planeta Terra, os oborós foram até Olorum (pai dos orixás). Ao descobrirem o que Oxum havia feito, tiveram de repensar as próprias regras e passaram a convidar Oxum para participar das decisões sobre a humanidade. E, por sua vez, as mulheres voltaram a ser férteis.

Como não associar ao clipe de “If I Were a Boy”, onde Beyoncé deixa explícita a questão de gênero na sociedade? É uma história que mostra que as mulheres, cada vez mais, estudam e trabalham em profissões que antes eram exclusivamente masculinas. Bem como participam das decisões politicas para o bem da humanidade.

O alter ego Sasha Fierce

Oxum é a orixá mais bela das religiões de matriz africana. Normalmente, seus filhos gostam de jóias, perfumes, roupas vistosas e de tudo que for bom e caro.

Também são adeptos da vida social agitada e de outros prazeres que puderem usufruir. Há quem diga que as mulheres de Oxum gostam de criar realidades que somente elas vivem.

Alguém se lembrou de Sasha Fierce? A criação de uma persona muito sexy, curvilínea e destemida nos palcos foi a forma que Beyoncé encontrou para despir-se de suas inseguranças.

Criei um alter ego. Pois as coisas que faço no palco eu nunca faria normalmente. Eu meio que saio do meu corpo“, explicou a cantora que costuma ser bem reservada em sua intimidade.

Quem manda no mundo?

A mitologia iorubá mostra que as mulheres que vivem como reféns da beleza, perdem o poder de articular solidariamente.

Ao tornarem-se inimigas, elas fortalecem a ideia da supremacia masculina e reforçam uma ideologia machista, tão impregnada nas raízes culturais da sociedade há séculos. Seja no sistema econômico, político, religioso ou familiar, este último apoiado em um regime patriarcal.

Se Sasha Fierce exalava sensualidade e sugeria uma ideia “competitiva” entre as mulheres, Beyoncé entendeu que era hora de “matar seu alter ego” e unificar as mulheres. Sim, estamos falando de sororidade. Afinal, ao mesmo tempo que era doce e amorosa, Oxum era valente e tinha espírito de liderança.

A partir deste trabalho, imagens e simbologias africanas começam a ficar mais evidentes nos videoclipes e apresentações da popstar. Afinal, quem manda no mundo mesmo?

Suntuosidade

A sagacidade é uma das características dos filhos de Oxum. São aqueles que traçam objetivos e agem estrategicamente para um determinado fim. Por trás de sua imagem doce há uma forte determinação e sede de ascensão, podendo até mesmo recorrer a algum tipo de manipulação para conseguir o que deseja.

Em sua carreira solo, Beyoncé sempre apostou alto. Tudo o que se propõe a fazer é suntuoso, beirando a megalomania. Virginiana (tal como Michael Jackson, um de seus ídolos), ela trabalha duro para surpreender o público: sejam os lançamentos-surpresa, as grandes turnês e as irrepreensíveis apresentações.

Uma coisa é certa: tudo tem um propósito e nada fica fora do lugar para Beyoncé.

A diplomática…

Quem tem Oxum como guia realmente se importa com o que os outros irão dizer. A preocupação com a opinião pública faz com que ajam sempre com discrição. Pois detestam escândalos.

O melhor exemplo disto é o episódio da briga no elevador, quando a irmã de Beyoncé, Solange Knowles, partiu para cima de Jay-Z e o agrediu fisicamente por causa de um flerte do cunhado em um after party.

Beyoncé pouco fez para apartar a briga no pequeno espaço. Porém, usa sua arte para expressar algum descontentamento. “É claro que, às vezes, merdas acontecem quando há um bilhão de dólares em um elevador“, canta em seu remix para “Flawless”.

…mas nem sempre!

Diplomática, até a segunda página. Assim como Oxum, Beyoncé também perde o prumo e dá claros sinais de ciúmes. Muito possessiva, não consegue imaginar a ideia de dividir o seu amor com outra pessoa.

Xangô tinha três mulheres: Iansã, Oxum e Obá. Conta a lenda que Oxum, na tentativa de afastar Obá de Xangô, a convenceu a cortar a própria orelha e oferecê-la de presente ao amado. Porém, Xangô ficou aterrorizado com a atitude de Obá e se afasta dela. E assim, Oxum conseguiu o que queria (lembra da passagem sobre lutar e até manipular para conseguir o que deseja?)

De alguma maneira, Jay-Z poderia ser esta personificação de Xangô. Quem não lembra da paixão avassaladora que ele sentia por Aaliyah, que morreu tragicamente em um acidente aéreo? Até mesmo sobre um affair com Rihanna – posteriormente desmentido – o rapper foi apontado. Fato é que ele sempre esteve associado à belas mulheres.

Seria Beyoncé a personificação desta Oxum que fecha a cara só de ver o amado conversando com alguém “suspeito”?

A beleza machuca mais que a imperfeição?

Os filhos de Oxum são os mais emotivos. No livro “Mulheres e deusas”, de Renato Nogueira, ele descreve que “o espelho deve ser um instrumento de intervenção da realidade, nunca pode ser uma ferramenta do ego“.

Através do espelho, Oxum mergulha em si mesma. Ela cria seu mundo de beleza (olha a fuga da realidade novamente). Entretanto, o ato de olhar-se no espelho deve significar o enfrentamento dos desafios do mundo e o autoconhecimento.

Quando Oxum deixa de olhar seu espelho para olhar para o mundo dos homens, ela chora porque a realidade é muito feia, em um sentido figurado. A “feiura” aqui atribuída pode ser referenciada pelo excesso de cobrança que Beyoncé faz sobre si mesma. De fato, um caso típico de autopunição.

Uma “Oxum” contemporânea

O Candomblé é muito voltado à questão da natureza, da energia e das cores. Oxum é representada pela cor amarela e suas variantes, como o dourado. Em seu ápice criativo – o álbum Lemonade (2016) -, Beyoncé abusa destes signos e explora outras realidades, nem sempre perceptíveis por todos. O motivo talvez seja a visão eurocêntrica predominante em nossa sociedade.

Neste trabalho, ela escancara suas raízes afro-americanas. O clipe de “Hold Up” faz referência às águas doces, porém intensas de Oxum. Em uma das primeiras cenas, Beyoncé abre uma grande porta, de onde vem uma enorme cascata. Neste momento, ela aparece descalça, como se fosse a representação desta grande força.

Ao longo da história, ela reafirma que “ninguém ama seu homem como ela o ama“, sem deixar de reforçar seu poder e requisitar um melhor tratamento de seu amado. Enquanto caminha sorridente com um taco de beisebol em mãos, ela ataca furiosamente vidros de carros e hidrantes.

É a nítida expressão da força e do poder feminino negro. E uma dica: nunca despreze uma filha de Oxum.

Deusa da fertilidade

Oxum é a rainha de todos os rios e cachoeiras. Foi escolhida como ialodê, a mais importante entre as mulheres da cidade. É aquela que mantém em equilíbrio nossas emoções, a natureza e a fertilidade. Acolhedora, tem em seus filhos a sua maior riqueza.

Beyoncé encantou o mundo com sua performance no Grammy 2017. Ela estava grávida de Sir Carter e Rumi. Curiosamente, Oxum também deu à luz a gêmeos, frutos de seu relacionamento com Xangô. Beyoncé fez referência a ela na elaborada coroa em dourado e os acessórios em bronze, símbolo da riqueza acumulada pela orixá, que governou um palácio de bronze.

Há quem diga que a performance tenha sido um culto de agradecimento por sua gravidez. Uma verdadeira ode à fertilidade, à energia criadora das mulheres e à força que elas têm quando se unem.

Mãe e defensora de seu povo

A generosidade dos filhos de Oxum os levam a ajudar aqueles que realmente necessitam. O lançamento de “BLACK PARADE” não trata simplesmente de uma música, mas de uma ação com venda de produtos de pequenos empresários pretos.

Ser preto é seu ativismo. A excelência preta é uma forma de protesto. A felicidade preta é seu direito”, disse a cantora sobre o projeto.

Em pleno 2020, a equidade de gêneros ainda não é uma realidade. Mas, uma vez que Beyoncé toma para si a liderança de encaminhar seus irmãos pretos, ela reafirma o exercício do comando tal como Oxum.

Talvez por isso, algumas das maiores ialorixás (mães de santo) da história do Candomblé sejam (ou tenham sido) de Oxum. A grandiosidade de Beyoncé vai além da música. Seu impacto é social, político e cultural. Atemporal, podemos dizer.

Não à toa, ela nada nas águas doces do universo pop como a deusa maior há duas décadas.

Uma última e importante mensagem: Embora tenhamos feito um exercício de correlação entre as lendas e o arquétipo dos filhos de Oxum e as ações de Beyoncé, é preciso reafirmar que religiões como o Candomblé e a Umbanda são muito mais complexas do que possa parecer nesta pauta.

Ainda é grande o desconhecimento e a discriminação em relação a elas por parte significativa da população brasileira. Além do respeito – princípio básico – é preciso muito estudo.

Conheça a história de uma cultura de resistência e ajude a combater todo e qualquer tipo de intolerância contra religiões de matriz africana.

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