A história da música black no Brasil, das origens à produção contemporânea, é contada por muitos dos seus principais nomes na série “Balanço Black”, que estreia no Curta!, comemorando os nove anos de existência do canal e abrindo o mês da Consciência Negra. A estreia é na “Segunda da Música”, 1º de novembro, às 20h.
São seis episódios dirigidos pelo cineasta Flavio Frederico, com a participação de pessoas intimamente envolvidas com esse gênero musical, sobretudo da forma como ele se desenvolveu em solo brasileiro.
Conduzidos pelo produtor, compositor e músico BiD, os episódios passeiam pela história da black music e pelos principais discos, além de tocar em pontos cruciais desse movimento musical: a resistência e a inserção dos negros no show business.
Entre os depoentes, estão artistas como Hyldon, Dom Salvador, Wilson das Neves, Tony Tornado, Sandra de Sá, Seu Jorge, Eduardo Araújo, Gerson King Kombo e Céu, que também fazem jam sessions ao fim de cada episódio; produtores como Nelson Motta, Luizão e Manoel Barenbein; músicos como Paulinho Guitarra e Paulo Braga; DJs como Corello e Sir Dema; e estudiosos como Carlos Alberto Medeiros.
Nas jams, os espectadores verão algumas das últimas performances gravadas com músicos falecidos no ano passado, como Gerson King Combo e Serginho Trombone.
Sobre a série
O primeiro episódio, intitulado “Laço Negro”, fala das origens rítmicas oriundas da África e, posteriormente, dos Estados Unidos, de onde vieram as canções de lamento entoadas pelos escravizados nas plantações de algodão.
Diferentemente do Brasil, onde a percussão se sobrepôs — herança das religiões de matriz africana —, nos Estados Unidos, esse lamento foi saindo do campo conforme os negros e negras se libertavam dos grilhões e, aos poucos, foram tendo acesso a instrumentos como o piano e a guitarra. Assim, nasceram o jazz, o blues, o R&B, o gospel e, da fusão de tudo isso, a soul music — que chegou às rádios e aos programas de TV, primeiramente, através de Ray Charles.
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Depois dele, Little Richard, James Brown e outros grandes artistas negros chegaram ao estrelato; e um brasileiro viu de perto esses acontecimentos que revolucionaram a música mundial: Tim Maia. Ele vivia nos Estados Unidos quando a soul music eclodiu e, ao ser deportado de volta para o Brasil, trouxe o ritmo, o orgulho da cor e a potência de suas raízes — o black power — para a sua música.
Além dele, outros brasileiros pioneiros são lembrados pela série, como Wilson Simonal, cuja canção “Tributo a Martin Luther King”, apresentada no episódio, serve como amálgama de um estreito laço entre negros e negras de todo o mundo: “Cada negro que for, mais um negro virá / Para lutar com sangue ou não / Com uma canção também se luta, irmão”.
“Pra mim, o soul é um estilo de música que a gente pode extravasar”, afirma Dom Salvador, um dos percussores do movimento no Brasil; “Pra mim, é alma, é essência, é pegada, é a batida”, revela Dom Filó, produtor cultural e ativista, fundador do Equipe Soul Grand Prix.
Seja qual for o sentido, “Balanço Black” — uma produção da Kinoscópio Cinematográfica viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) — mostra que a soul music brasileira tem muito a dizer.