‘Gostosas ouvem Baco’ e enalteceram o novo EP do artista, “FETICHE”, que chegou aos tocadores nesta quarta-feira (26) com ótima recepção do público. No novo compilado, que traz 7 faixas inéditas, Baco Exu do Blues fortalece o imaginário popular que o coloca como um símbolo sexual, ao mesmo passo que escancara que merece ser visto e celebrado por várias outras camadas e nuances. Promovendo o EP, o rapper conversou com o POPline sobre a premissa do novo trabalho, as múltiplas maneiras de abordar o sexo, a importância dos visuais em sua arte, experimentações sonoras e mais.
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“FETICHE” é o primeiro compilado do artista baiano desde o exitoso disco “QVVJFA?”, que chegou no início de 2022 acompanhado de sucessos como “20 Ligações” e “Samba in Paris”. Agora, nesse novo projeto, o rapper ‘descasca’ o sexo em várias camadas rumo à celebração do íntimo, colocando como protagonistas temas como desejo e paixão através de letras (ainda mais) provocativas e melodias envolventes.
Em seu primeiro compilado sob o selo da Sony Music Brasil, Baco aceita a associação de sua imagem como símbolo sexual, mas recusa que essa seja a sua única representação no imaginário coletivo. É por isso que, para ele, foi inegociável explorar o sexo sob diferentes óticas, o que ele acredita ser mais sincero e genuíno na tentativa de expor mais camadas de sua personalidade que nem todos conseguem ver.
“Eu quis me expor como eu sou, ou o meu lugar e o que eu penso […]. Eu acho que o pensamento é sobre poder brindar minha liberdade de ser mais do que as pessoas pensam, independente do que elas pensem. Às vezes elas podem até pensar muito, mas ainda tenho mais camadas do que elas acessam, porque eu mostro poucas coisas pras pessoas também. E elas estão condicionadas a me ver da forma que elas querem ver e, como todo ser humano, eu acredito, a gente guarda algumas coisas pra gente e é bom que os outros entendam que você tem outros lugares, outros pensamentos. Você pegar um assunto só e falar sobre ele de diversas formas é um jeito claro de mostrar que você tem cascas. Quando você pega um assunto e destrincha ele, você acaba sendo sincero em muitos lugares”, refletiu Baco em conversa com o POPline.
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Símbolo sexual, erotização de corpos negros e a proposta de promover debates com o novo EP
Pelo menos nos últimos dois anos, depois de já ter se consolidado na cena com sucessos como “Te Amo Disgraça”, “Flamingos” e “Me Desculpa Jay Z”, temos acompanhado o fortalecimento da imagem de Baco como símbolo sexual, o que se manifesta em forma de arte na narrativa do EP “FETICHE”, como o próprio nome suscita.
O rapper de 28 anos diz que não quer sentir medo de ser desejado, mas combate a construção histórica que atribui ao povo preto como uma das únicas qualidades o atributo físico. Baco tem a consciência de que ele e os seus vão muito além, que são figuras repletas de sentidos, nuances, camadas e que, por isso, não merecem uma única projeção, aquela que está intrínseca ao carnal.
“Eu quis falar sobre sexo, obviamente, mas eu quis fazer isso de uma forma bem livre e bem minha, saca? Com minha cara, meu jeito. Acho que tem certas coisas que são criadas historicamente que são formas de castrar pessoas negras sobre alguns assuntos, ou colocar como se elas só lidassem com esses assuntos de uma forma. E aí eu não queria concordar com isso, eu queria mostrar que eu tenho a minha visão, minha forma, minha inteligência, meu raciocínio, minhas camadas e dentro de um assunto que pra algumas pessoas é uma unidade só”, expôs o artista.
Curta-metragem censurado para +18, visuais como extensão da arte e números
O novo EP do artista baiano veio acompanhado de um curta-metragem de pouco menos de 12 minutos dirigido por Camila Cornelsen. O projeto visual, rodado em São Miguel do Gostoso, em Alagoas, se passa todo dentro do imaginário de uma mulher, colocando ao centro o desejo e as diversas representações de fetiches – Baco, inclusive, aparece atuando no curta.
Para o músico, o grande atrativo do projeto é causar uma certa confusão com a narrativa, fazer o público se questionar a respeito, afinal, do que está sendo retratado ali. “Essa é a parte importante de ser artista, de fazer arte, que é levantar debate, fazer a galera conversar, tentar entender, brigar ali pra saber o que é, o que não é, acho que é isso o que a gente faz”, comentou ele.
Baco deixa claro que seu trabalho nunca foi construído com foco nos números, e em “FETICHE” não seria diferente. Ele quer, é claro, que a sua música chegue a um público cada vez mais abrangente, mas explicita que o que vale é expor sua arte, levantar discussões com ela e provocar transformações.
“Eu fiz um clipe pra ser um curta, que eu sabia que estaria censurado +18, que iria precisar fazer login pra acessar, então #1 nunca foi meu objetivo. Meu trabalho é conversar com as pessoas e fazer arte. Óbvio que eu quero que alcance o máximo de pessoas possíveis, mas é mais sobre fazer algo que eu amo, na forma que eu acho certo, com as imagens e narrativas que quero passar, pra levantar discussões que eu quero ver as pessoas discutindo. Essa é a minha brisa. Eu sou artista, faço arte, é sobre isso”, explicou o rapper.
Ainda assim, o EP teve uma ótima recepção nos charts em sua estreia. 5 faixas do projeto estrearam direto no Top 50 do Spotify Brasil, com destaque para “tanta inveja”, em #34. No total, o EP bateu 3 milhões de streams na plataforma em suas primeiras 24 horas no ar.
Toque de Afro Beats no novo EP e experimentações sonoras
Ao longo da produção desse compilado, Baco e seu time de produtores enfrentaram o desafio de trazer instrumentais suaves para que ao mesmo tempo que as pessoas entendessem a profundidade e sensibilidade das letras, também pudessem apenas ouvir de forma repetida, mesmo sem prestar total atenção a ele.
Apesar disso, o artista se permitiu incorporar novos elementos ao seu som, como o Afro Beats que se faz evidente em “pausa da sua tristeza”, parceria com Liniker. O cantor diz que essa experimentação é algo inerente à sua rotina no estúdio, e que revela uma profunda pesquisa de referências.
“Eu faço muita coisa, fico em estúdio sempre que possível, então na real eu passo muito tempo sem soltar música, mas eu tô gravando música o tempo todo. Eu vivo música 24h por dia, então tem vários experimentos com Afro Beats que eu já fiz e que nunca saíram […]. Se você for parar pra ver, claramente todos os instrumentais que têm nesse trabalho carregam mais do que um gênero. Eles têm pelo menos 3 referências de gênero que foram encaixadas tão bem pelos meus produtores que soa algo que parece uma parada só e uma suavidade, por causa das transições, que é todo um desafio”, disse Baco.