Você piscou e “Let Go“, álbum de estreia da Avril Lavigne, completou 20 anos. A bíblia pop-punk dos jovens dos anos 2000 manteve o frescor e a sensação de urgência de todo adolescente. E acaba de ganhar uma edição remasterizada e faixas adicionais. Inegavelmente, a influência daquelas canções impactou o processo de composição de nomes como Olivia Rodrigo e Willow Smith. Mas para entender o que torna este álbum de estreia tão especial, é preciso retroceder até a virada do milênio.
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Enquanto o grunge dominou a primeira metade dos anos 1990, os anos seguintes testemunharam a ascensão do pop produzido para boy bands e cantoras emergentes do Clube do Mickey. Mas a chegada do ano 2000 indicava que uma nova guinada estava prestes a acontecer.
O sucesso de “All The Small Things” (blink-182) abriu portas para que, no ano seguinte, as paradas de sucesso fossem escaladas por outros dois hits: “Fat Lip” (Sum 41) e “The Middle” (Jimmy Eat World). A natureza despreocupada do pop-punk começava a dar sinais de que este som tinha potencial para atrair uma grande parcela do público.
Antes de mais nada, é preciso ressaltar que foi este público jovem que fomentou a decolagem do pop-punk. Não era apenas um som novo, mas as letras dialogavam com o universo dos adolescentes – que talvez tivessem seus anseios atendidos pelos hits das estrelas pop da época.
O sonho da carreira artística nos Estados Unidos
Avril Lavigne cresceu em uma cidade chamada Napanee, no interior do Canadá. Com apoio dos pais, teve suas primeiras experiências musicais na igreja e passou a participar de concursos de talentos. Ao mesmo tempo, passou a andar de skate e conviver com outros jovens que desejavam ir para outros lugares.
Aos 16 anos assinou com seu primeiro empresário que enviou uma fita VHS a um caça-talentos nos Estados Unidos. A notícia chegou aos ouvidos de Antonio “L.A.” Reid, então diretor-geral da Arista Records, que arranjou um contrato para dois álbuns.
No fim de 2000, Avril Lavigne abandona a escola e viaja para Nova York com seu irmão. Mas as gravações do primeiro trabalho começariam apenas em maio de 2001 e se estenderiam por longos dez meses.
Recém-saída do ensino médio, a aspirante já escrevia suas letras – o que tornou-se um problema. Pois os produtores e co-autores não esperavam uma sonoridade rock tão urgente (ou talvez acreditassem que fariam a maior parte do trabalho).
De fato as primeiras sessões não foram fáceis. Posteriormente, Avril foi para Los Angeles, onde conheceu os compositores Clif Magness e Lauren Christy. A dupla entendeu o que a artista pretendia com suas canções: as emoções, angústias, amores e desamores que todo adolescente vive. Era importante que soasse real e autêntico.
Tem espaço para meninas no pop-punk?
Ao fim das gravações de “Let Go“, a gravadora mandou “Complicated” para as rádios como o primeiro single. A escolha provou-se certeira e atingiu variados públicos. O videoclipe, que mostra a cantora e sua banda causando estragos em um shopping center, permaneceu semanas como o mais assistido na MTV e provou que a cena pop-punk não era apenas um “clube do bolinha”. Além disso, alcançou a 2ª posição na Billboard Hot 100. Nada mau para uma estreia, não?
Logo depois foi a vez de “Sk8er Boi” chegar às rádios, ainda que à revelia dos programadores. No entanto, a avalanche de pedidos dos fãs quebrou a resistência que havia e provou-se mais um acerto ao repetir o feito do single anterior e alcançar o 1º lugar da parada de rádios mainstream.
“I’m With You” foi o terceiro single de “Let Go” e foi lançado perto do Natal para que, comercialmente, agradasse aos pais e que os fizesse comprar o álbum para os filhos. A balada chegou ao 4º lugar da Hot 100 e foi a terceira faixa a liderar a parada de rádios mainstream.
“Losing Grip” foi lançado como a última faixa de trabalho, servindo de ponte para o álbum seguinte. Músicas como “Mobile“, “Things I’ll Never Say“, “Unwanted” e “Nobody’s Fool” ganharam lançamentos moderados em países específicos.
“Let Go” é, até hoje, o maior êxito comercial de Avril Lavigne. Além de ter chegado ao 1º lugar das paradas britânica e canadense, além do 2º posto nos Estados Unidos, o álbum vendeu 16 milhões de cópias mundialmente. Além disso, foi bem recebido pela crítica que, na maioria das vezes, destacou a “astúcia musical de Avril muito além de seus 18 anos“.
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Com o reconhecimento, as principais premiações reservaram múltiplas indicações à Avril em 2002. No MTV Video Music Awards saiu vencedora na categoria Artista Revelação. Já no World Music Award venceu como Artista Pop/Rock Canadense.
No ano seguinte, arrancou cinco indicações no Grammy Awards, incluindo Artista Revelação, Álbum Pop e Canção do Ano por “Complicated” (embora não tenha levado). Porém teve melhor sorte no Juno Awards, onde levou 4 das 6 categorias, incluindo Álbum do Ano e Artista Revelação.
Legado e reconhecimento
Neste momento em que a energia do punk-pop voltou a aparecer em trabalhos de Machine Gun Kelly e Yungblud, a influência de Avril Lavigne é mais sentida entre a nova onda de jovens cantoras compositoras. “Good 4 U“, da Olivia Rodrigo, é claramente baseada em “Sk8er Boi“.
Nesse meio tempo, Willow Smith cita Avril como uma grande referência; enquanto Billie Eilish prestou tributo à canadense após conhecê-la em 2009. “Obrigada por me fazer o que sou“, escreveu em seu Instagram.
A estrela relança nesta sexta-feira (3) “Let Go” com faixas adicionais, incluindo sua versão de “Breakaway“, que ficou famosa na noz de Kelly Clarkson, e que ganhará um lyric video neste sábado (4).
Em tempos de músicas feitas para hitar no TikTok, Avril Lavigne é um grande exemplo de uma jovem artista que procurava se expressar e que criou, à sua maneira, a impressão do que um artista pode (e deveria) ser no mainstream: aquele que transforma suas inseguranças em arte. E que toca o coração de milhões de pessoas.