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A cena EDM no Brasil por Marcelo CIC: do preconceito à mudança estabelecida por David Guetta


Ouvir David Guetta, Avicii, Zedd e Calvin Harris nas rádios pop não é um estranhamento para os novos fãs da música eletrônica, mas nem sempre foi assim e este passado não está tão distante. Para Marcelo CIC, uma das maiores referências do gênero no Brasil, o estilo era totalmente restrito aos amantes da EDM e casas noturnas até David Guetta fechar um grande contrato e lançar os hits “When Love Takes Over” e “I Gotta Felling”. Isso aconteceu há apenas seis anos e transformou a cena no exterior e aqui no país também.

Com um disco no forno e contrato com a Universal Music, Marcelo CIC já começou a ver toda a diferença na sua carreira em 2015: foi um dos destaques da Tomorrowland Brasil e está escalado para os 30 anos do Rock In Rio. Com tantas novidades, o POPline conversou com o DJ e produtor sobre a EDM no Brasil, o preconceito que ainda há entre os fãs sobre a qualidade do que é criado aqui e o perfeccionismo em lançar um trabalho que possa mudar esta realidade.

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POPline: Tomorrowland e Rock in Rio. O ano de 2015 não podia estar melhor, né?
Marcelo CIC: Está sendo um ano muito bacana, de muito trabalho! Pela primeira vez em 15 anos a gente, DJ, tem este espaço [com a imprensa], e é muito bacana passar as informações do que estamos criando para vocês. O Tomorrowland foi muito especial, determinou muitas coisas na minha vida e com certeza é um dos cinco principais marcos da minha carreira. Já temos muitas coisas confirmadas para este ano. Estou também muito ansioso para fazer a estreia no Rock In Rio!

Você disse que os espaços estão se abrindo e até há um pouco tempo, ser DJ era uma profissão até solitária, né? Para divulgar algum novo trabalho, você precisava correr atrás e contava com a ajuda de poucas pessoas próximas. O que você acha desta mudança de comportamento da galera que está abraçando mais a música eletrônica nas rádios e dando essa oportunidade aos DJs daqui?
Ah sim. Até pouco tempo atrás era muuuuuito diferente. A gente não tinha acesso às gravadoras porque a música eletrônica não estava num nível que eles precisavam de venda e de reconhecimento. Era tudo mais difícil! Acho que quando o David Guetta conseguiu seu primeiro contrato grande, tudo mudou. Mudou a forma como o mercado viu a profissão de DJ.

Ele então foi o grande divisor de águas para a EDM?
Com certeza. Ele e o Daft Punk são os artistas que realmente determinaram esta mudança e que aumentaram expressivamente a visibilidade da música eletrônica no mundo todo, não só aqui. Muito do que acontece hoje, inclusive essas novas oportunidades que venho recebendo, se deve total ao trabalho que o David Guetta fez há seis anos. Hoje, o DJ é um artista. A gente dá retorno [financeiro] e tudo fica mais fácil!

Você acha que estas novas oportunidades e como a EDM é vista hoje servem de inspiração para a garotada que está começando? Porque eu sei que é calo na vida de DJ essa galera que usa as picapes sem ser especializado na área.
É… existe o ônus e o bônus em ser DJ, né? O bônus é que eu estou aqui agora conversando com você e a gente vai espalhar a palavra de que a música brasileira tem força. O ônus disso é que tem muitos aventureiros que tentam chegar neste mesmo espaço, não querem dar tempo ao tempo…

Há muito estudo envolvido.
Ah, claro há muito estudo envolvido, há muita dedicação, muitas horas perdidas, muitas noites sem dormir, muito investimento de tempo e financeiro. Então não é de uma outra para outra.

Falando sobre redes sociais, tem muita gente que lhe procura através do Facebook, Instagram, Twitter querendo informações sobre o início da sua carreira. Esta exposição toda resultou em um interesse maior pelas suas produções mais antigas em saber como você conseguiu focar 100% a carreira de DJ. 
Exatamente! A sorte é que o crescimento da música eletrônica é associada ao crescimento dos jovens. Eles são muito antenados com o que está acontecendo. É aquele cara que ouve online, procura ver os shows via streaming. É uma galera muito nova, que quer consumir música eletrônica e que a gente tem que atender a este nicho.

Então como é a sua relação com os fãs nas redes sociais?
Quando a gente decide seguir um caminho artístico, temos que primeiro ter ciência que a coisa mais importante que você tem são seus fãs. Os fãs são as pessoas que não te abandonam. Que você indo bem ou mal eles estão ali. Então, hoje, meu foco é total em entregar aos meus fãs uma nova experiência. Eu mesmo respondo a cada um deles nas redes sociais. Não tem ninguém que responde por mim e até onde eu puder levar isso à frente, eu farei. A gente faz vídeos, hangouts, procuro sempre mostrar para eles que apesar de ter uma equipe por trás, eles são o coração da minha carreira. Tenho que atender a eles. Minha música nova, a “Superfans”, por exemplo, foi criada em conjunto com eles. Boa parte das ideias desta música, foi dada a mim através de um hangout que fiz numa noite.

E é interessante porque você acaba entregando um resultado exatamente o que eles querem ouvir.
Claro! Inclusive a cantora que canta a música, foi ideia deles. Peguei vários nomes que eles sugeriram e a DyCy foi o nome mais citado.

A além de “Superfans”, o que mais vem por aí?
Em julho vem novo single! É uma música com vocal também com uma cantora holandesa, pro verão a gente está trabalhando com o álbum com 14 faixas e até lá vai ter muita coisa: EP com algumas faixas, releituras de algumas músicas como “One”. Espero que até o Rock In Rio, 60% do disco esteja pronto e a gente possa testar as músicas na pista.

E tem alguma previsão de lançamento?
Estou muito tranquilo em relação a produção do disco. A gente quer vender o produto com uma grande experiência para os fãs, muita interatividade, eles vão participar de um clipe através de mensagens, está tudo sendo pensado em cada detalhe. Então… a gente não está com pressa. Não há interesse de lançar só por lançar! Quero entregar o melhor para o público, para os fãs, que seja uma experiência que daqui a 15 anos você fã da EDM apresente ao seu filho dizendo ‘cara, este é um DJ da minha época que marcou a minha”.

É isso o que você quer dizer na frase “não estou satisfeito” que você já disse em outras entrevistas? Você está buscando um som atemporal?
Sim, é isso. Você só é lembrado quando você marca as pessoas. Quando você vende música genérica, você acaba sendo mais um. Quando eu falo que ainda não tá pronto, que eu estou tendo cuidado não é porque eu estou querendo vender o disco antes do tempo. É porque o álbum não está pronto e quero fazer tudo com muita calma

Já percebi que você é perfeccionista!
Demais! Eu sou tão perfeccionista que já virou um TOC (risos). Eu tô aqui dando entrevista e pensando em outras coisas, se tô falando algo de errado pra você… Sou chato com isso. Sou daquele marido que quando a toalha não tá no nível, eu reclamo. A mulher sofre (risos). Mas quando tá no mesmo nível, eu agradeço, tá?

Pra terminar uma curiosidade: você concorda com a frase de que brasileiro não costuma valorizar o que é nosso? Tem que alguém de fora dizer que é bom para ele começar a prestar atenção no que produzimos aqui?
Isso não se resume só a música eletrônica. Tudo que é forma de cultura no Brasil é mais complicado. Sou total de acordo com isso! Só que ao mesmo tempo, Amanda, eu tenho que tentar mudar. Não posso abaixar a cabeça e aceitar ficar em segundo plano. Tenho potencial para mudar isso. Vamos somar forças agora para que muito em breve a gente não tenha que aceitar este pré-julgamento de que é nosso não é bom. O que é nosso é bom. Hoje, o maior DJ do mundo, o Hardwell, toca minhas músicas então a gente só precisa de um suporte para que a coisa engrene. E não tenho dúvidas que a gente vá conseguir!

Meu pai sempre me diz ‘quais são seus objetivos? Já começou a construir seu muro hoje?’ Então todo passo é um tijolo que eu coloco no meu muro. Se eu não fizer por mim, se cada pessoa não fizer por ela mesma, com pensamento positivo, ninguém vai fazer.

E com tanta confiança a gente acaba acreditando! Espero agora que a gente volte a se falar com o CD bombando!
Agradeço particularmente ao POPline por dar o espaço a EDM, ao Marcelo! E tamos aqui pra somar e conte comigo, gente!