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Muito além de Pabllo Vittar: Conheça um pouco mais sobre as drag queens cantoras do Brasil


Há alguns anos, quando começava a explodir as drag queens cantoras nos Estados Unidos, graças a alguns nomes que participaram de RuPaul’s Drag Race, escrevi um pequeno texto sobre o movimento e falando de algumas, que seriam, apostas do gênero.
Agora, com as drag queen cantoras cada vez mais fortes, crescidas e aparecidas, fora do gueto e dentro do mainstream, inclusive as brasileiras, nada mais justo que voltar ao assunto, dessa vez focando nos nomes tupiniquins do gênero.

Enquanto lá fora, o estilo musical predominante das músicas das drag queens, salvo algumas exceções (oi “Take Me There” da Adore Delano), é o eletrônico, aquele que faz você bater cabelo nas baladas nos fins de semana. Muita batida pra acompanhar as vozes fortes ou até recheadas de autotune (mas que ninguém se importa, nem eu).

Já no Brasil, o estilo é outro. É o funk. Que domina as pistas de dança das casas noturnas LGBT Brasil afora. É o funk. Misturado com tudo que pode misturar. Com forró, com tecnobrega, com hip-hop. Enfim. No Brasil, o estilo predominante das músicas das drag queens cantoras é um estilo genuinamente brasileiro. O funk.

E hoje, com Pabllo Vittar como porta-bandeira das drag queens cantoras do Brasil, podemos abrir nossos olhos (e ouvidos) a outros nomes que fazem sucesso ao redor de nosso país. Nomes tão importantes quanto o da Pabllo. Nomes que misturam música à militância, seja de forma sutil ou mais descarada. Que misturam ritmos brasileiros e dão voz à uma comunidade ainda muito subjugada e subestimada.

Nomes como….

Gloria Groove
Ao lado de Pabllo Vittar, talvez a paulistana Gloria Groove seja o outro grande nome da música drag queen brasileira. Mas, ao contrário de Vittar, Gloria tem uma sonoridade hip-hop, que ela mistura muito bem com muita coisa, como eletrônico e até mesmo o funk, com letras mais fortes, mostrando um engajamento na militância LGBT que faz você pensar. Frases como “consumação não paga peruca”, mostra, pra quem não conhece ainda, a realidade das queens brasileiras locais. Aquelas que não estouraram e não lutam para viver de sua arte, que é ser drag queen. Seu primeiro álbum já vem com alguns sucessos, conhecidos pela comunidade LGBT e até fora dela, como “Império” e “Dona”. A voz de Gloria Groove é uma das mais fortes e marcantes do cenário drag queen e, se me permite arriscar, do cenário musical brasileiro.

Aretuza Lovi
Falar de Gloria Groove automaticamente nos leva de volta para o maravilhoso videoclipe de “Catuaba”, música de Aretuza Lovi, outro forte nome da música drag brasileira. Uma das figuras importantes da militância LGBT de Brasília, Aretuza é uma artista multifacetada. Cantora, dançarina, hostess (quando também pagava de entrevistadora das celebridades que tocavam nas casas onde trabalhava), Aretuza começou na música com um eletrobrega (ou tecnobrega para alguns), com a música “Striptease”, lá nos idos anos de 2012. Aretuza já tem dois EPs lançados, “Striptease” e “Nudes”.

Kaya Conky
E é do Nordeste, mais precisamente de Natal-RN, que vem outro nome que vem chamando a atenção dos amantes das drag queens cantoras Brasil afora. Kaya Conky e sua música “E Aí Bebê” figurou durante muito tempo nas listas virais do Spotify, chamando a atenção de muita gente no Brasil. Hoje, Kaya já se apresenta fora do eixo Nordeste, viajando por diversos estados brasileiros. A música, um funk, claro, vem com muito bom humor, uma pitada de militância e uma conotação (ou seria denotação?) sexual que deixa tudo ainda mais divertido. E o refrão chiclete vai deixar você cantarolando “E Aí Bebê” por muito tempo. O videoclipe da música, Kaya promete não ter esquecido no churrasco, mas o sucesso de “E Aí Bebê” já inspirou muitos outros lançamentos de queens cantoras tanto no RN como nos estados vizinhos. Com essa primeira música, Kaya Conky mostra que tem muito ainda a conquistar e seus fãs já estão ansiosos por novas músicas para se jogar na balada.

Seketh Bárbara
Outra nordestina arretada e de muito bom humor é a Seketh Bárbara. A maranhense, diferente um pouco de suas colegas queens cantoras, aposta em versões abrasileiradas de sucessos internacionais, sempre no estilo tecnobrega (mesmo caminho trilhado pela Banda Uó e que mostrou ser eficaz). Talvez o seu primeiro grande sucesso tenha sido “Bicha Pague Meu Dinheiro”, versão de “Bitch Better Have My Money”, de Rihanna. A música foi tocada (e ainda é tocada) exaustivamente nas casas noturnas LGBT pelo Brasil inteiro. O sucesso foi tão grande, impulsionado por um videoclipe super bem humorado, que Seketh já lançou outros covers, como o também estourado “Sou Toda Sua”, versão de “Cool For The Summer”, de Demi Lovato.

Lia Clark
Para fechar (literalmente), não poderíamos deixar de falar de Lia Clark. Essa queen que vem lá de Santos, litoral de São Paulo, estourou com o sucesso “Trava Trava”, um funk misturado com Pop que basicamente todo mundo sabia, pelo menos o refrão. O sucesso foi tão estrondoso que Lia foi listada pela MTV como uma das 10 revelações da música nacional em 2016. A partir daí, Lia Clark decolou. Lançou seu EP “Clark Boom” e abocanhou uma parceria com Mulher Pepita, cantora trans de funk, bem aos moldes clássicos do Furacão 2000 (beijos, MC Larissa, nós te amamos). A música, “Chifrudo”, foi um sucesso no carnaval de 2017 no Brasil inteiro e continua como item indispensável nas baladas em todo o país.

Infelizmente não conseguiríamos falar de todas as drag queens cantoras do nosso Brasil aqui e o que é o mais bonito de se ver é como, cada vez mais, as drag queens estão com uma voz mais forte na indústria fonográfica brasileira e mundial.
E, para finalizar, deixo aqui uma reflexão:
“If you can’t love yourself, how in the hell are you gonna love somebody else?”