Zeca Pagodinho traz para o seu mais recente álbum, “Mais feliz”, um dos maiores aprendizados de sua infância. Quando tinha seus 10 anos, era comum visitar o tio Thybau (sua grande referência musical), que comandava rodas e serestas em Irajá. Ali, o menino exercitava a reverência aos mais velhos, que retribuíam mostrando para a juventude canções de outros tempos, perpetuando letras e melodias nos ouvidos da garotada. Esse entrelaçamento de gerações é um bonito capítulo do novo disco de Pagodinho, que resgata um sucesso dos saraus de outrora para dividir com dois talentos que renovaram o cenário instrumental brasileiro.
“Apelo”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, reaparece com interpretação tocante de Zeca, acompanhado do bandolim de Hamilton de Holanda e do violão de 7 cordas de Yamandu Costa, dois herdeiros de Baden na arte de driblar harmonias com as cordas. Outra faixa que cruza épocas é “O sol nascerá (a sorrir)”, de Cartola e Elton Medeiros. Neste samba, escolhido para a abertura da novela das 7 da TV Globo, “Bom sucesso”, Zeca tem a companhia de Teresa Cristina, portelense da gema que recentemente viajou o mundo exportando a obra do fundador da Mangueira. Em apenas 2min38seg, com a reunião imaginária de Cartola, Elton, Zeca e Teresa, quatro gerações do que de melhor nossa cultura já produziu, a gente consegue explicar o Brasil todinho – impossível não sorrir.
A última participação do disco é Xande de Pilares. Nesse caso, Zeca não recorre ao passado, mas bebe na fonte da novíssima produção brasileira de samba – e se embriaga com “Dependente do amor”, canção romântica composta pelo ex-vocalista do Revelação com Gilson Bernini e Brasil do Quintal. Zeca Pagodinho, assim, assina embaixo e reconhece firma na trajetória de Xande, sambista de incontestável filiação aos bambas formados no Cacique de Ramos – e que certa vez ousou desafiar o mestre do improviso num duelo de versos, que terminou empatado, para glória do novato.