Claudia Leitte

Vimos em primeira mão o clipe “Saudade”, de Claudia Leitte e estamos cheios de novidades!

Duas jornalistas baianas do POPline opinam sobre o clipe que põe em evidência a cidade de Salvador!

Mais que uma homenagem a Michael Jackson! O POPline recebeu, em primeira mão, “Saudade”, novo clipe da Claudia Leitte. O resultado do vídeo é tão emocionante e genuíno que escalamos duas baianas que compõe o time do portal para dividir suas impressões sobre a produção. Helena Marques; repórter da editoria nacional e Mari Pacheco, repórter e apresentadora do POPStories são baianas e moram fora da Bahia, portanto eles estão no seu local de fala e podem falar com propriedade sobre a mensagem que o clipe quer passar!

Claudia Leitte no clipe de “Saudade”, gravador em Salvador. Foto: Osmar Gamma

Para Helena:

Saudade é uma palavra de três sílabas, existente apenas no idioma português, mas que remete ao “banzo”, expressão do dialeto quimbundo, originário da Angola, que simboliza o sentimento de melancolia em relação à terra natal dos escravos que foram trazidos da África para o Brasil. E em uma canção que traz diversas referências de cantores que fizeram história em Salvador, cidade com maior herança africana no Brasil, o nome já parece fazer sentido! Principalmente para instigar a curiosidade das pessoas que vivem fora da sua terrinha sobre o que Claudia Leitte cantará. Aproveitando-se do sentido de banzo Hungria Hip Hop no início do seu rap na canção diz: “É som de banzo, de mistura, vem da pele, da senzala, o sal do seu suor”, até aí, ponto para os dois cantores!

O lançamento do mais recente single de Claudinha foi comemorado porque se tratava de um axé raiz, com influência do samba-reggae, tambores do Olodum e uma levada digna do axé dos anos 1990, quando o ritmo se tornou popular em todo o Brasil através da música “O Canto da Cidade”, de Daniela Mercury. Porém, confesso que fiquei receosa ao ver imagens de Claudia no Pelourinho com o Olodum em uma clara homenagem a Michael Jackson, que levou o som da Bahia para o mundo em 1996 ao gravar o clipe de “They Don’t Care About You Us” no ponto turístico mais conhecido de Salvador e essa referência ficar over.

No entanto, o “revival” de Michael é só uma das homenagens que Claudia Leitte presta a diversos artistas. A passagem da cantora pelo Largo do Pelourinho, com performances semelhantes a de Jackson, próximas à Fundação Casa de Jorge Amado é completamente orgânica, flui em um ritmo gostoso, assim como a cadência da música. Fica claro o componente homenagem, longe de ser uma mera imitação!

Porém, a cereja do bolo para mim foi Claudinha relembrar trejeitos e clipes clássicos do axé gravados pelo “pai” e “mãe” da axé music, respectivamente, os cantores Luiz Caldas e Sarajane. Astros da música baiana na década de 1980, uma geração por volta dos 25 anos, mesmo em Salvador, não sabem muito sobre a importância desses artistas para a consolidação do axé e consequentemente dos grandes blocos de rua que fazem o Carnaval de Salvador um sonho de consumo para muita gente no Brasil e no mundo. Instigar a curiosidade de uma nova geração sobre quem são aqueles cantores homenageados por Claudia é um resgate da memória imaterial e ainda viva da nossa terra. Outro pronto para Saudade! Isso tudo é feito em uma filmagem que parece “aquela” velha fita de VHS com Claudinha revivendo o “fricote” e a potência de Sarajane, que levava a Bahia aos holofotes do mítico “Programa do Chacrinha”. Muito vintage essa cantora!

Para quem é fã da loira desde os tempos do Babado Novo, (período esse que esta que vos escreve era uma criança em Salvador e adorava o visual extremamente teen de Claudinha, que usava uma paleta predominantemente de rosa e lilás) irá adorar! Além de encarnar seus ídolos, Claudia aparece em uma espécie de “evolução” sua ao longo da carreira. Lembrei-me muito de quando ela surgiu e “Safado, Cachorro, Sem Vergonha” era uma música que se escutava em cada esquina da cidade.

No entanto, se a cantora arrasa ao escolher essa temática, no primeiro plano do clipe, quando Claudinha vê uma série de fotos suas antigas em preto e branco, ela derrapa um pouco na interpretação porque não evidencia através das suas expressões um real sentimento de saudade. Usando um vestido de renda branco, que é a cara da leveza de Salvador, ao se confrontar com o passado através das fotos, Claudia poderia demonstrar a emoção e gratidão sobre a saudade de ter vivido tudo aquilo, mas preferiu apostar no carão para o vídeo. Uma pena, mas não tirou o brilho do clipe.

Claudia Leitte e Hungria Hip Hop no clipe de “Saudade”. Foto: Osmar Gamma

Já Hungria Hip Hop me pareceu como uma aposta ousada para dividir os vocais com Claudinha, mas entendo a importância de mesclar ritmos, até porque a axé music sempre ficou conhecida pela mistura de vários ritmos como samba, reggae, afoxé e ijexá dentro desse gênero. Hungria também representa o novo no cenário de rap nacional, então supercompreensível querer trazer uma novidade para o seu som. Contudo, apesar de exalar poesia em seus versos, Hungria não me pareceu plenamente integrado à baianidade. Na sua primeira aparição ele surge de jaqueta escura, calça jeans, óculos escuros.

Entendo que seja o estilo do cantor, mas é um clipe que fala da Bahia, de Salvador, uma cidade extremamente cheia de cores, fato esse evidenciado no próprio vídeo. Ele poderia se “integrar” melhor com essa atmosfera e não demonstrar que é alguém realmente de fora. Porém, ele é “redimido” pela energia que coloca em seu encontro com o irresistível e rítmico Olodum.

Para quem gosta de uma Claudinha se exercendo plenamente como cantora de axé, sem dúvidas, esse é o clipe!

Já para Mari Pacheco, esse clipe suscita diversas memórias afetivas sobre a cidade!

Michael Jackson chegou em Salvador em fevereiro de 1996. Eu tinha quase 11 anos de idade, mas lembro perfeitamente de toda agitação em torno do rei do pop, que foi até lá para gravar com o Olodum, no Pelourinho. Foi especial e ainda é. Aquele foi o momento em que duas grandes paixões minhas se encontravam: a música pop americana e o carnaval da minha cidade.

Claudia Leitte e Olodum no Pelourinho, em Salvador, gravando o clipe de “Saudade”. Foto: Osmar Gamma

Quando vi as primeiras fotos da gravação de “Saudade”, confesso que meu coração ficou apertado, bateu até um medo daquele momento não ser homenageado à altura, mas depois de assistir ao clipe, posso garantir que foi muito além do que eu imaginava. Não é uma homenagem ao Michael, é uma homenagem ao fato dele ter escolhido Salvador para fazer parte de sua história.

“Saudade” é literalmente uma caixa de boas memórias que se abre e me faz lembrar de todas as vezes que andei pelos circuitos Dodô e Osmar, desde criança com meus pais e até hoje, aos 33, com meus melhores amigos. Me fez lembrar da infância dançando Tchan ou ouvindo Luiz Caldas e Gerônimo em família (só um soteropolitano sabe a delícia que é ouvir a frase “Já é carnaval, cidade! Acorda pra ver!”). Me fez lembrar de todas os ensaios na Área Verde do Othon, de todas as voltas no Guetho aos domingos, do Araketu no hangar do Aeroclube, das segundas no Cortejo Afro, do Sarau du Brown, de Ivete no Pier Bahia, do Festival de Verão no Parque da Cidade.

Claudia Leitte no clipe de “Saudade”. Foto: Osmar Gamma

“Saudade” me deu saudade da Quinta do Babado na Fashion Club, quando negociava um tanto de tudo com minha mãe pra poder ver Claudinha no “meio da semana”. Em “Saudade”, clipe dirigido por Chico Kertész que também assina o documentário “Axé – Canto do Povo de Um Lugar”, me senti em casa. Seja pelo samba reggae, ritmo genuinamente soteropolitano, como também pelas imagens que me trouxeram os melhores dos sentimentos.

“Saudade” é para todos, baianos ou não, que como eu amam o carnaval de Salvador e que dão um sorriso sempre que abrem uma gaveta de casa e encontram um abadá surradinho.

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