O presidente e CFO Joe Berchtold, da Live Nation, planeja mirar em quem ele diz serem os verdadeiros culpados por trás da desastrosa pré-venda de Swift em 15 de novembro: cambistas. A audiência sobre o caso da emissão de bilhetes ocorre nesta terça-feira no Comitê Judiciário do Senado dos Estados Unidos, Washington.
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Enquanto a Ticketmaster, de propriedade da Live Nation, ficou como vilã por semanas após a pré-venda da The Eras Tour, de Swift, que quebrou recordes de vendas em um único dia e deixou os fãs furiosos com problemas de serviço, de acordo com a Billboard, planos de Berchtold é colocar a culpa nos bots ilegais para atacar a venda online.
O músico country Garth Brooks também está dando seu apoio ao testemunho de Berchtold, com uma carta defendendo a Ticketmaster e atacando os cambistas que usam métodos ilegais para comprar ingressos.
“Sabíamos que os bots atacariam a venda [da Swift] e planejamos de acordo”, diz a declaração planejada de Berchtold, publicada pela Billboard. “Fomos atingidos com três vezes a quantidade de tráfego de bots do que já havíamos experimentado e, pela primeira vez em 400 vendas de fãs verificados, eles vieram atrás de nossos servidores de código de acesso de fãs verificados. Embora os bots não tenham conseguido penetrar em nossos sistemas ou adquirir ingressos, o ataque exigia que desacelerarmos e até mesmo passássemos nossas vendas. Foi isso que levou a uma terrível experiência do consumidor da qual lamentamos profundamente”, completa.
O caso ‘The Eras Tour’ e Ticketmaster
Após a pré-venda de 15 de novembro, a Ticketmaster acabou cancelando sua venda geral dos 170 mil ingressos restantes para a turnê de Swift. Em dezembro, a empresa anunciou uma nova estratégia para vender os passes ao longo de quatro semanas e recentemente concluiu esse esforço. Na época, a empresa disse que ‘uma demanda historicamente sem precedentes’ causou o fracasso, mas também culpou os bots – dizendo que 14 milhões de fãs e mais de 3 bilhões de bots acessaram o site.
Essa desculpa pouco fez para satisfazer os mais de 100 mil fãs que foram expulsos da fila durante o ataque do bot. Por sua vez, Taylor Swift se pronunciou culpando a empresa. De acordo com a Billboard, Berchtold também planeja se desculpar diretamente com a artista e seus seguidores.
“Como dissemos após a venda, e reitero hoje, pedimos desculpas aos muitos fãs desapontados, bem como à Sra. Swift”, diz Berchtold em comunicado.
Embora Berchtold observe que a Ticketmaster “aceita sua responsabilidade de ser a primeira linha de defesa contra os bots nesta corrida armamentista cada vez maior”, ele pretende mudar o foco da audiência para mudanças de política que possam limitar os cambistas.
“Neste fórum onde estamos aqui para discutir políticas públicas, também precisamos reconhecer como os cambistas industriais que violam a lei usando bots e ataques cibernéticos para tentar obter ingressos de forma injusta contribuem para uma péssima experiência do consumidor”, diz Berchtold em sua declaração. “Estamos fazendo tudo o que podemos para combater as pessoas que atacam nossas vendas e roubam ingressos destinados a fãs de verdade, mas precisamos de ajuda para aprovar reformas reais para impedir essa corrida armamentista.”
A audiência
Berchtold será acompanhado no banco de testemunhas pelo executivo-chefe da SeatGeek, Jack Groetzinger, e o promotor de longa data de Chicago, Jerry Mickelson, com a JAM Productions, junto com o artista Clyde Lawrence e representantes do James Madison Institute e do American Antitrust Institute.
O testemunho de Berchtold será uma prévia importante do enquadramento da empresa sobre os desafios que o negócio enfrentará nos próximos anos e promete ser a defesa mais detalhada da Live Nation por um executivo em seus 18 anos de história.
A senadora Amy Klobuchar (D-Minn.) foi quem originalmente convocou esta audiência em resposta à raiva do público sobre as falhas técnicas na venda de ingressos para a turnê de Taylor Swift. No entanto, a lista de testemunhas e o nome da audiência, divulgado na segunda-feira (23), sugere que a disputa no tribunal provavelmente se concentrará na insatisfação de longa data sobre o decreto de consentimento de 2010 que rege a fusão da Ticketmaster e da Live Nation.
Esse decreto de consentimento teve sucesso misto na criação de um campo de jogo nivelado para a concorrência no negócio de venda de ingressos. Já os críticos o consideram um fracasso porque não impediu que a Ticketmaster se tornasse a empresa de venda de ingressos dominante que é hoje.
“Ouvimos as pessoas dizerem que os mercados de ingressos são menos competitivos hoje do que eram na época da fusão Live Nation-Ticketmaster. Isso simplesmente não é verdade”, diziam as declarações de Berchtold, alegando que a participação de mercado da Ticketmaster diminuiu desde que o DOJ estimou que detinha 80% do mercado em 2009.
Berchtold planeja apresentar como estratégia que transfere parte das críticas ao desastre dos ingressos de Taylor Swift para o Senado — que votou unanimemente para aprovar a lei BOTS em 2016, efetivamente proibindo a tecnologia de compra automatizada de ingressos. Desde a sua aprovação, a lei foi aplicada apenas duas vezes pelo FBI e pela Comissão Federal de Comércio, apesar dos apelos dos funcionários da Ticketmaster de que os ataques de bots em vendas de ingressos de alto perfil estão aumentando em frequência e complexidade, segundo a Billboard.
Além disso, Berchtold também pretende detalhar como a empresa gastou mais de US$ 1 bilhão no desenvolvimento de tecnologia para evitar ataques de bots nas vendas de ingressos da empresa usando software como o Verified Fan e emissão de ingressos digital.
Uma estratégia de “culpar os bots” provavelmente não satisfará os membros do Comitê Judiciário do Senado, que inclui agitadores conservadores e liberais como Ted Cruz (R-Texas), Josh Hawley (R-Mo.), John Kennedy ( R-Mo. -La.), Diane Feinstein (D-Calif.), Corey Booker (D-NJ) e Richard Blumenthal (D-Conn.). O sentimento anti-Ticketmaster e as críticas à fusão de 2010 entre a Ticketmaster e a Live Nation são uma das poucas questões de acordo bipartidário no Capitólio.
Por fim, a Billboard aponta que Berchtold encerrará seu depoimento apresentando apelos à ação que ele acredita que o Congresso pode adotar para combater os maus atores na indústria de ingressos. O primeiro é capacitar entidades privadas como a Ticketmaster a iniciar ações civis contra vendedores de ingressos que conscientemente vendem ingressos obtidos por bots. Em segundo lugar, Berchtold acredita que o Congresso deve agir para proibir práticas de vendas enganosas, como vendas especulativas de ingressos.