Registro que mescla dois shows feitos no Canadá em 2011, “The Femme Fatale Tour” é o novo DVD de Britney Spears. Chamada pelos fãs mais afoitos de sucessora de Madonna, a americana apresenta alguns dos hits de sua carreira que começou em 1999 com o multi-platinado disco “Baby One More Time”. Uma das grandes reclamações do público da cantora é o descaso que a mesma tem com sua carreira. A tirar o DVD como exemplo, percebemos que o desleixo é funcional em toda sua equipe: logo no menu, encontramos nomes de suas músicas escritas incorretamente: “Lace and Leather”, por exemplo, se transforma em “Leather and Lace”. Na edição nacional, a vergonha é ainda maior ao encontrar um selo com o enunciado “a diva pop vencedora de vários Grammy”, seria apenas constrangedor se fosse verdade. Mas é constrangedor e humilhante: Britney Spears tem, na verdade, apenas um Grammy em toda sua carreira. A capa é um episódio à parte: foto requentada do ensaio feito para o encarte do cd da cantora e mal centralizada em fonte azul vomito e uma colagem feita em paintbrush com alguns momentos do show. Mas vamos ao show, que é o que interessa:
“Intro / Hold It Against Me” – 60°
Um vídeo da performer digladiando com vários fotógrafos abre a noite, com muitas trocas de câmeras, pouca iluminação e muita edição para dar o ar de “fêmea fatal” que o título da turnê propõe. Quase consegue. A abertura mostra um palco gigantesco, dezenas de dançarinos, muita luz, muitos enfeites e um público supostamente indo ao delírio. A equipe de sonoplastia usa o áudio do álbum com gravações de estúdio de Britney para passar uma impressão de que ela estaria sussurando algumas sílabas e abandonando o playback (seu companheiro desde o primeiro dia de carreira). Cara na poeira: é explícito que provavelmente, o microfone da performer não está, sequer, ligado. A música de abertura tem força: “Hold It Against Me” é o primeiro single do álbum “Femme Fatale” e é ideal para abrir um show. O mais interessante é notar que de um take para o outro, a cantora aparece em pontos totalmente diferentes do palco, um absurdo. A produção do dvd é péssima, o que não tira os méritos da produção do show, que começa de forma grandiosa.
“Up N’ Down” – 55°
Logo na segunda canção, Britney desencana: mal se preocupa em dublar a canção “Up N’ Down” direito. Enjaulada, Spears rebola e balança muito seu cabelo: a peruca está muito bem colada. O palco continua grandioso e seus dançarinos são realmente eficientes, o que dificulta a vida da artista principal, que claramente não consegue acompanhá-los.
“3” – 45°
Em um momento breve, Britney Spears interage com o público com a mesma frase que ela usou em todos os shows da turnê: “Whats Up (nome da cidade) / I Can’t Hear You”. Microfone desligado, voltemos ao show: “3” entra, pela primeira vez, em uma turnê da cantora. Com novo figurino logo na terceira canção, Britney Spears usa chapéu, o que a impossibilita de balançar seus cabelos. O resultado é uma muito bem feita coreografia com as mãos, não tão bem executada. Britney já parece cansada. Para sua comodidade, esteiras começam a surgir no palco: se a cantora já não canta e não dança direito, agora também não anda.
“Piece Of Me” – 30°
Em um show pop no estilo “quero ser grande” que se preze, não podem faltar três coisas: chuva de prata, membro da platéia subindo no palco e o artista sendo alçado por cordas. Esse é o momento em que Britney Spears é alçada por em um pedestal para dublar “Piece of Me”, hit do álbum “Blackout”. A performance é rápida, chata, desnecessária e sem sentido algum para o show.
“Big Fat Bass” – 30°
Um breve interlude mostra, dentre outras coisas, a abertura do videoclipe de “My prerogative” em um dos épicos momentos de Britney Spears no auge de sua boa forma física e de performer. A imagem “Femme Fatale” desaba quando Britney volta ao palco com a medonha canção “Big Fat Bass”. Há uma mescla entre o áudio autotunado do cd com vocais também gravado da dançarina em estúdio.
“How I Roll” / ”Lace And Leather” – 40°
Cercada por bailarinos coloridos, Britney Spears entoa uma das músicas mais fora de contexto do show, “How I Roll”, que chega a soar desconfortavelmente constrangedora a qualquer ouvido. Encerrado o número, Britney e sua trupe supostamente escolhem um “homem” da platéia para poder seduzi-lo ao som de “Lace And Leather”. Misteriosamente, o escolhido é o famoso Alex, fã incondicional da cantora que a segue em todo o mundo para assistir suas turnês. Britney fica de quatro para a platéia, coloca as pernas sobre os ombros do rapaz (claro, com a ajuda de sua equipe) e balança muito seus cabelos. Essa deveria ser a parte mais “Fatal” de todo o show. O mais desanimador é que acaba sendo mesmo
“If You Seek Amy” – 20°
Vestida com uma saia que supostamente deveria ser uma referência a Marilyn Monroe e com seus dançarinos vestidos de fotógrafos, Britney Spears dubla “If You Seek Amy”, do álbum “Circus”. É uma daquelas faixas que não consegue empolgar nem o público e nem a cantora. O único ponto positivo do single, que é o arranjo, é medonhamente modificado. Britney nada mais faz do que rebolar com sua saia sendo alçada pelo vento artificial. E fica nisso mesmo.
“Gimme More” – 55°
Depois de mais uma interlude, Britney Spears volta ao palco dentro de um barco em forma de pavão (parabéns à equipe pela idéia brilhante) para dublar “Gimme More”, hit da trágica apresentação que marcou sua carreira no Video Music Awards em 2007. Ao contrário da performance ocorrida há 5 anos, a cantora está com o corpo em forma. O desempenho, entretanto, continua questionável. A produção, porém, é das grandes e consegue recuperar a platéia.
“(Drop Dead) Beautiful” – 50°
Faixa do álbum “Femme Fatale”, “(Drop Dead) Beautiful” é entoada em playback absolute. Nesta faixa, a dançarina não se preocupa, sequer, em inserir áudios gravados ao vivo. Quem canta aí é o cd mesmo. Essa parte do show é a concretização de que Britney Spears não dança mais. Ela parece achar que o palco é uma passarela e apenas anda, de um lado para o outro, sem parar, do começo ao fim. Lamentável. Quem salva a apresentação é a participação de Sabi, que canta o bridge da música e empolga o público em um lapso momentâneo de áudios ao vivo.
“Don’t Let Me Be The Last To Know” – 15°
“Don’t Let me Be The Last To Know”, lançada no ano de 2001 em todo o mundo, foi o primeiro fracasso commercial da carreira de Britney Spears. Por motivos desconhecidos, a produção do show resolveu inserir a canção em uma turnê de 2011. É um dos momentos mais atrozes de todo o show. Britney se senta em um balanço, começa a voar pelo palco exercitando seu lado de atriz demonstrando esforço facial, como se realmente estivesse cantando, enquanto um talentoso dançarino executa uma boa performance de trapezismo para entreter o público. Desnecessário.
“Boys” – 20°
Faixa que Britney Spears mais parece gostar de toda a sua discografia, “Boys” é presença garantida em todas as turnês que ela venha a fazer por toda sua vida. Com toque oriental, que poderia ser algo surpreendente ou sexy, a performance é fria e comprova o quanto a equipe da cantora peca ao escolher os remixes de seus singles para comporem suas turnês.
”Baby One More Time” / ”S&M” – 50°
“Baby One More Time” é o maior hit da carreira da americana e consegue boa resposta da platéia por si só. Se antigamente, Britney se responsabilizava por fazer coreografias condizentes com a canção, desta vez, ela permanece sentada em uma moto ou se esfregando na mesma. Na seqüência, o hit “S&M” da cantora Rihanna ganha um cover da dançarina Britney Spears. A faixa é lamentável, vulgar e não passa de uma batida bem produzida. Parece ter sido feita sob medida para Spears.
“Trouble For Me” – 65°
Britney Spears se mostra um pouco mais à vontade pela primeira vez em todo o show na faixa “Trouble For Me”. O desempenho de seus dançarinos, a propósito, é impecável e merece méritos.
“I’m a Slave 4 U” – 30°
“Im a Slave 4U” é uma das faixas mais fortes da carreira da dançarina Britney Spears. A equipe que produziu o show tentou manter partes da coreografia original do single para essa turnê, o que é fielmente cruel, pois gera inevitáveis comparações que deixam o desempenho ainda pior do que o esperado. Fica apenas a certeza de que Britney não conseguiria fazer essa turnê sem cabelos longos.
“I Wanna Go” – 60°
“I Wanna Go” é a melhor faixa do álbum “Femme Fatale”, lançado em 2011. A performance é um exemplo vivo de como desperdiçar um hit feito para empolgar platéias. Nela, Britney se resume a saltitar timidamente nos refrãos do single, acompanhada por alguns fãs escolhidos à dedo, separada de todos eles por seus dançarinos, que formam uma espécie de escolta que garante a impossibilidade de interação entre público e a artista.
“Womanizer” – 45°
Faixa que quebrou o jejum de quase 10 anos que Britney Spears ficou sem atingir o #1 nos charts americanos, “Womanizer” tem uma performance bem elaborada e feita para tentar passar uma impressão de que Britney está jovial e em pleno auge físico. Ao final, há até uma flexão inversa no chão, levando o público ao delírio. Para os fãs, uma vitória. Para o resto da humanidade, apenas uma mulher de 30 anos batendo seu cabelo para frente e para trás.
“Toxic” – 05°
“Toxic”, um dos clássicos da carreira da performer, ganha o remix mais pavoroso da história da música e uma performance não abaixo. Desafio todos a assistirem a apresentação deste mesmo single em 2004 no NRJ Awards e compararem com a atual de 2011. O lapso temporal, que é de 7 anos parece ser de 30. Lamentável e sofrível.
”Till The World Ends” – 60°
Na faixa final a produção do espetáculo não poupa clichês. O hit “Till The World Ends” reúne quase todos os elementos que uma apresentação pop precisa ter para ser previsível: Britney voa pela platéia com asas como se fosse um anjo, é submersa por uma nuvem de fumaça, e claro… Encerra com uma chuva de prata. Quando pensamos que nada poderia ser mais batido, Nicki Minaj adentra ao palco e faz a participação rapper no single pop.
Termômetro Final: Com impressionantes quase 12 anos de carreira, Britney Spears já provou que não é apenas uma moda ou um sucesso passageiro. Hoje em dia ela está sempre acompanhada pelos melhores produtores, melhores dançarinos, melhores executivos e melhores equipes, que são responsáveis por ela ser quem é. Artisticamente, porém, Spears apenas decai com o passar do tempo. Ao contrário de Madonna, que só ganhou prestígio e talento com os anos, Britney, que nunca cantou, agora também não dança.
BRITNEY: A MIMICA