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Termômetro de Verão: Beyoncé – Live at Roseland: Elements of 4


Um dos maiores sucessos comerciais de sua geração, Beyoncé consegue reunir o respaldo do público e da crítica especializada em grande parte de seu trabalho lançado até hoje. “Live at Roseland: Elements of 4” foi filmado no dia 19 de agosto de 2011 na casa de eventos Roseland Ballroom em Nova Iorque. Nele, Beyoncé faz uma retrospectiva de toda sua carreira, com uma clara intenção de frisar ao mundo o quanto sua vida é grandiosa, o quanto ela é generosa e que o sucesso é seu sobrenome, sem espaço para qualquer tipo de modéstia.

“I Wanna Be Where You Are” / “No No No”- 65º
Logo na primeira canção, Beyoncé afirma que a noite seria mágica e fala que aos 5 anos já era inspirada por Diana Ross, Stevie Wonder e Jackson5, cantando, portanto, um single do grupo de Michael Jackson. A cantora dá um show nos vocais, como de costume. O que incomoda é que logo após o primeiro refrão, a esposa de JAY Z pára de cantar e volta a contar a história de sua vida, afirmando que também teve derrotas quando era jovem, antes de se tornar #1 na America com o single “No No No”, que ela também canta em formato remix, mesclando imagens do show com imagens do começo de sua carreira ao lado das Destinys Child.

“Bug a Boo” / “Bills Bills Bills” – 15º
Os singles “Bug a Boo” e “Bills Bills Bills” são cantados integralmente pelas backing vocals. Beyonce se limita a fazer cara de supra sumo da música pop como se fosse um travesti e a acompanhar outras três dançarinas em uma coreografia meia boca com cadeiras.

“Say My Name” / “Jumping Jumping” / “Independent Woman” – 40º
As backing vocals continuam cantando enquanto Beyoncé continua apenas interagindo com o público. Talvez, este pudesse ser um momento de saudosismo ao tempo em que ainda era acompanhada pelas outras integrantes do quinteto/quarteto/trio Destinys Child, grupo que não mais existe provavelmente pelo fato de Beyoncé não conseguir dividir os holofotes ou os cachês de seus shows com nenhum outro ser vivo. Antes de cantar “Independent Woman”, Beyonce se vangloria por ter escrito a canção aos 18 anos. Faltou dizer que o hit também foi escrito por outros três nomes de peso. Todavia, Beyoncé e Beyoncé e não iria perder tempo com esse tipo de detalhe. No pior estilo Mariah Carey, a cantora ressalta quantas semanas o hit foi #1 nos EUA e, desta vez, canta de verdade.

“Bootylicious” – 70º
Beyoncé conta que compôs “Bootylicious” em um voo para o Japão e se gaba pelo sucesso da canção. A curiosidade que perdura para quem sabe que a música foi composta por Rob Fusari, Faltone Moore e Stevie Nicks com o auxílio de Beyoncé. Estariam os outros três compositores que Beyoncé não cita em nenhum momento, neste mesmo voo? A performance da canção, entretanto”, é a primeira do show que realmente empolga o público.

“Survivor” – 60º
Depois de muito falatório acerca do processo de composição da música, fruto das diversas brigas entre as garotas que entraram e saíram do grupo Destinys Child, Beyoncé inicia a performance de “Survivor” com vigor. A duração da música é irrelevante e o encerramento precoce da apresentação é frustrante.

“03 Bonnie & Clyde” / “Crazy In Love” – 75º
Primeiros singles da carreira solo de Beyoncé, as duas canções são entoadas após a cantora narrar o começo de sua relação com o rapper Jay Z e após se gabar pelos 4 sucessos de seu primeiro álbum. Depois de muita enrolação, “Crazy In Love” começa a ser performada de forma tenebrosa. Por alguns instantes, acredita-se que Beyonce teria conseguido destruir um dos maiores hits de sua carreira com uma horrenda versão semi-cabaré da mesma. Quando a cantora começa a andar como um travesti e os acordes originais da música começam a ser tocados é o momento de se tranquilizar. A performance melhora absurdamente e termina muito bem com um show de jogos de câmera.

“Dreamgirls” / “Irreplaceable” – 10º
“Dreamgirls” é uma canção desnecessária e fora de contexto. Parece ter sido inserida na apresentação apenas para que Beyoncé pudesse provar ao mundo que também já foi uma atriz. A pedância mais surreal do show ainda estaria por vir. A cantora tem a coragem de mesclar o single “Irreplaceable” com imagens de um encontro com um fã deficiente. Enquanto isso, o público canta sozinho a canção e Beyoncé tenta provar ao mundo o quanto seria caridosa. Praticamente um Gugu americano.

“Single Ladies” – 75º
Beyoncé explica a origem de sua ligação com o número “4”, que entitula seu recente álbum, em uma série de coincidências irrelevantes. Depois de provar ao mundo que além de cantora, compositora, atriz, mulher e caridosa, a artista também seria numeróloga, inicia-se a performance de “Single Ladies”. A coreografia, que marcou a canção em todo o planeta é feita de forma maestral pela cantora e suas dançarinas, enquanto suas backing vocals a cantavam. Empolgante.

“I Care”  – 95º
Depois de dizer que ganhou 16 Grammy’s e que vendeu milhões e milhões de álbuns, Beyonce canta, pela primeira vez na noite, uma faixa do álbum “4”. A diferença de empenho da cantora é visível. Mesmo sentada e sem nenhuma outra dançarina, a verdadeira Beyoncé parece ter chegado no palco naquele momento. Com total domínio vocal, de palco e controle total sobre o público, a americana comprova que faz jus a todos os prêmios e afins que falou desagradavelmente nos 30 minutos anteriores.

“I Miss You” – 85º
Mesmo entoando uma das canções mais clichês de seu álbum, Beyoncé continua inquestionável em todos os aspectos artísticos que estão a seu alcance. As alterações entre as imagens do show com outras filmagens são, porém, relativamente bregas e poderiam acontecer de maneira menos exagerada.

“Run The World (Girls)” – 95º
A capacidade de Beyoncé para transitar por praticamente todos os gêneros é salientada com a virada entre “I Miss You” e a agitada, porém ruim “Run The World”. A energia da cantora é absurda. Com uma edição perfeita, iluminação de palco ideal e uma performer de primeira, “Run The World” consegue ser, facilmente, um dos pontos altos de toda a apresentação, que poderia ser motivo de orgulho até para outros artistas renomados como Tina Turner.

“1+1” – 95º
Falando cada vez menos e performando cada vez mais, o show fica melhor e melhor. Ajoelhada no centro do palco, à frente de sua competente banda, a americana dá um banho de interpretação e mostra que para ser eleita a artista do milênio pela Billboard, não basta ser apenas atingir notas vocais altas ou saber dançar bem. É preciso o pacote completo. Uma lição para quem queira concorrer a esta premiação nos próximos mil anos.

“Party” – 70º
Se “Party” é uma das canções que mais funcionam e que tem melhor apresentação no mais recente álbum de Beyoncé, em palco é uma das mais apagadas. O Dvd se resume em mostrar cenas avulsas das pessoas se divertindo e alguns nomes famoso que assistem ao show, como Lady GaGa, por exemplo.

“Love On Top” – 95º
A interface sessentista de “Love On Top” se encaixa perfeitamente no timbre vocal de Beyoncé, especialmente ao vivo. O palco é inteiramente tomado pela cantora acompanhada por outras 4 dançarinas. O jogo de luzes impecável só não ganha mais destaque do que o alcance vocal da interprete que atinge com perfeição as notas mais altas da canção enquanto ainda dança. Méritos para ela.

“Best Thing I Never Had” – 75º
Mais um hit feminista pós término, “Best Thing I Never Had” é o único single do álbum “4” que teve desempenho bom nos charts pelo mundo afora. Imagino que, a esta altura da apresentação, com mais de 50 minutos, os olhos de Beyoncé já devam estar doendo: o vento forte artificial responsável por deixar seu cabelo esvoaçante não dá tréguas nem por um segundo. A performance cumpre sua missão piegas, com um previsível encerramento em côro pelo público.

“Countdown” – 85º
Com mais um momento numerologia, “Countdown” é uma das últimas faixas a serem apresentadas por Beyoncé em Roseland. Acompanhada por suas dançarinas e por sua banda composta apenas por mulheres, a artista mantem a energia do público nas alturas apesar de carecer de ainda mais auxílio de suas backing vocals para manter as semelhanças com o material apresentado em estúdio. Nenhum pecado. Boa performance.

“Rather Die Young” – 70º
Uma das faixas mais pedantes e clichês de toda a discografia da música pop mundial, “Rather Die Young” é o momento do show em que Beyoncé tem sorte por ser o talento que é. Poucos outros artistas conseguiriam segurar uma apresentação com tamanha competência como a própria. O vocal é o ponto alto. Os closes em pessoas estranhas e exageradamente performáticas no público são o ponto questionável.

“End Of Time” – 90º
Segundo Beyoncé, “End Of Time” foi composta por ela no Brasil. Coincidencia ou não, o single tem realmente pegada brasileira. A cantora poderia, praticamente, entoar as batidas da canção sobre um trio elétrico ao lado de Ivete Sangalo. Enquanto isso não acontece, a americana transforma seu palco com cada acorde da música e contagia o público como em poucos momentos de toda a apresentação.

“I Was Here” – 90º
Beyoncé utiliza imagens de toda sua carreira na performance na última faixa entoada em seu show. Praticamente todos os seus melhores momentos, melhores duetos, parcerias, encontros e prêmios são compilados em quase 9 minutos de uma ótima interpretação da jovem de apenas 30 anos de idade. Não consigo pensar em um encerramento melhor para um dvd como o “Live at Roseland”.

Termômetro Final: Um ótimo show do álbum “4” com um desastroso começo apresentando a carreira de Beyoncé como se fosse uma novata que precisasse se vangloriar por tantas conquistas utilizando imagens de crianças deficientes para passar uma impressão de pessoa do bem, de caridosa. Se o intuito da equipe de executivos da cantora era o de endeusá-la, talvez tenha conseguido da pior forma possível: explicitando de forma convencida o que poderia ter sido exposto de maneira subentendida e mais eficiente. Agora é torcer para que antes de gravar outro Dvd, ela tenha a oportunidade de escrever uma biografia para poupar seus shows de tamanha pedância. Mas tudo bem, Beyoncé é Beyoncé e tem créditos de sobra para errar, desde que continue acertando, como em faz com maestria na segunda metade de “Live At Roseland”.

Por: Alex Alves

BEYONCÉ: A CARIDOSA