Se a música é capaz de eternizar momentos e permancer na nossa memória afetiva, podemos afirmar que o movimento nostálgico está além do #TBT (Throwback Thursday – “Quinta-Feira do Retorno”) nas redes sociais revelando um sentido mais amplo e potencializado pelo isolamento social.
Enquanto as transmissões de músicas diminuíram nas primeiras semanas de distanciamento social, elas estão lentamente voltando ao normal, de acordo com números da Alpha Data, o provedor de análise de dados que alimenta os Rolling Stone Charts.
A observação partiu do pressuposto: “quais músicas, em particular, falaram conosco?” enquanto clássicos como “Stand by Me” de Ben E. King e “With a Little Help From My Friends” dos Beatles continuam bem, o que intrigou a análise foram as músicas que mostravam saltos de dois e três dígitos.
A Rolling Stone examinou as vendas de músicas e os fluxos sob demanda nos EUA entre 12 de março – quando os pedidos de estadia em casa se enraizaram lentamente em estados selecionados – e 23 de abril para ver quais faixas tiveram os maiores picos.
O que podemos também perceber é que os títulos das músicas também refletem ao momento atual: “É o fim do mundo como o conhecemos (e eu me sinto bem)” R.E.M, “Não fique tão perto de mim” The Police, “Isolamento” Joy Division’s, na tradução livre.
A música do R.E.M “It’s the End of the World As We Know It (And I Feel Fine)” saltou 110% em streams, totalizando 5,6 milhões no período de março a abril.
Já “Don’t Stand So Close to Me”, clássico do The Police, teve um aumento de 508% nas vendas de músicas e um aumento de 81% nas transmissões (3,4 milhões durante esse período).
Outra música muito menos conhecida de 1980, “Isolation” de Joy Division’s representou um aumento de 112%, embora seu número total de streaming (298.000) não seja grande, esses dobraram a partir de 6 de março, a primeira semana do isolamento social, o que teve relação direta com o título da música.
Memórias de momentos passados causam uma forte reação emocional, com benefícios mensuráveis, afirma análise realizada pelo Spotify em 2018.
Quase 70% das pessoas entrevistadas afirmaram que a nostalgia ajuda a melhorar seu humor, enquanto três em quatro entrevistados disseram que ela conecta pessoas por meio das lembranças de experiências compartilhadas.
As boas vibrações que acompanham essas lembranças levam as pessoas a ansiar por esses momentos e mesmo a buscá-los ativamente. Os entrevistados afirmaram que a música é o principal causador da nostalgia e que, geralmente, recorrem a canções do passado para lembrar de épocas específicas de suas vidas.
Os especialistas concordam. Marisa M. Silveri, PhD e diretora do Laboratório de Neurodesenvolvimento para Dependências e Saúde Mental do Hospital McLean, explica: “Segundos as pesquisas em neurociência disponíveis, a música é capaz de suscitar fortes emoções em relação a outros tipos de estímulos (visual e tátil, por exemplo). Também se acredita que as recordações emocionais, como aquelas atreladas à música, possuam raízes mais profundas do que memórias de outros tipos. Assim, a música tem um impacto significativo sobre a complexidade e o armazenamento das nossas recordações”.
“As marcas deveriam prestar atenção à forma como a música conecta as pessoas ao passado, porque a nostalgia pode desempenhar um papel inesperado na criação de conexões autênticas com o público. Três em cada quatro pessoas disseram que tendem a ter mais confiança em marcas e produtos que lhes desperta nostalgia. Voltar ao passado é uma ótima oportunidade para as marcas criarem uma conexão significativa com seu público”, afirma o Spotify.
O Mundo da Música ainda destaca o movimento nostálgico também em recentes lives realizadas: Sandy & Junior, Sorriso Maroto (#SorrisoAMAasAntigas) e Luan Santana (História), que trabalharam com repertórios mais antigos à pedidos dos fãs.
Observamos o desempenho do Sorriso Maroto no YouTube após a live deles, que aconteceu no último dia 25 de abril. Analisando hoje (30) as músicas mais escutadas no canal oficial do YouTube, temos 80% das músicas de antigos sucessos do grupo.
Um fenômeno parecido acontece com o cantor Luan Santana, com 50% das músicas mais executadas no YouTube lançadas antes de 2018.
Os atuais resultados, que mudam constante, apontam uma tendência para o retorno de antigos sucessos e a nostalgia, principalmente, pela sociedade enfrentar um período de isolamento social.