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Tássia Reis confirma versão deluxe do álbum “Próspera” e relembra trajetória

Cantora se prepara para cantar Alcione no programa “Versões”, no Multishow

Foto: reprodução/ @tassiareis Instagram

Tássia Reis e sua banda prometem adocicar o programa “Versões”, no Multishow, neste domingo de Páscoa a partir das 22h30. Como se não bastasse uma apresentação de uma das maiores vozes da música brasileira contemporânea, a cantora ainda se aventura na missão de interpretar músicas consagradas na voz de Alcione.

Foto: reprodução/ @tassiareis Instagram

Há pouco mais de uma semana, a artista conversou com o POPline sobre a inspiração de berço em ‘Marrom’ e a razão pela qual escolheu visitar a carreira da veterana do samba. Diretamente de Jacareí, sua cidade natal no interior de São Paulo, ela revelou qual foi o seu critério para decidir quem homenagear. Quando recebeu o convite do canal de televisão paga, ficou indecisa entre dois ídolos, mas a veia familiar falou saltou.

“Quando eu fui convidada para o programa para participar e eu tive a liberdade de escolher, pensei em Alcione e Djavan. São meus dois ícones de vida, que eu amo muito, há muito tempo. Só que Alcione tem uma coisa com a minha família, que eu nem sabia que era tão profundo, achava que era uma coisa só dos meus pais. Eles gostam muito, aprendi a gostar com eles. Quando recebi o convite estava com a minha família e falei pra eles ‘acho que vou cantar Alcione’. Meu pai ficou tão emocionado e me falou ‘sua avó amava Alcione’. Minha mãe começou a contar de um disco que eles tinham, que era “Alerta Geral” [1978], que eles amavam demais. Tudo isso me deu a certeza de que era Alcione mesmo que eu devia fazer. Tem uma coisa mais profunda do que só gostar da música e ao mesmo tempo uma responsabilidade gigante porque a mulher é uma deusa do mundo”.

Quem vê Tassia como um dos maiores nomes do rap nacional ou até mesmo do novo jazz e R&B, talvez não conheça suas origens no samba. Se perguntássemos a cantora, meses atrás, sobre realizar um trabalho com o gênero musical que fez parte de sua infância, ela talvez negasse a possibilidade. Mas algo mudou. A artista já considera um projeto de samba: “Eu não quero ser desrespeitosa, de jeito nenhum. Mas faz parte da minha história”, disse a cantora depois de revelar que escreveu sambas no começo da carreira.

“Além de eu querer homenagear Alcione, tem essa relação que eu tenho cada vez mais compreendida. De fato, samba é o gênero musical que eu mais ouvi na minha vida, meus pais ouvem desde sempre. Quando eu comecei a fazer música, intuitivamente, também é muito presente nas minhas composições. Embora eu não tenha lançado samba especificamente, o jeito de compor…O samba é sempre muito presente.”, disse Tassia sobre sua relação com o samba.

Na cadência bonita do samba…

A formação sociocultural de Tássia é a síntese do hip-hop. Mas foi na escola de samba o seu primeiro contato com um instrumento. Ela queria dançar, sair na comissão de frente, mas não deixaram pois era preciso ser uma dançarina. A jovem do interior paulista foi remanejada para a bateria e levou junto um grupo de amigos. Embora tenha adorado estar entre os instrumentos, foi nesta ‘ala’ que ela encontrou uma pessoa que lhe levou aos ensaios de dança de rua, uma de suas enormes paixões. “Ficava o ano inteiro na bateria e fazendo aula de dança. Na hora H, sai como comissão de frente porque já era dançarina (risos)”, contou a Reis, revelando também que a dança e a bateria da escola fizeram parte de sua vida simultaneamente por cerca de cinco anos.

Foto: reprodução/ @tassiareis Instagram

Tássia é o tipo de pessoa que fala entre risos e autoanálises. Durante a entrevista, ela constatou, algumas vezes, mudanças na sua postura em relação a sua própria história.

“Antes, quando eu falava do meu contato com a música, eu falava mais da dança, não colocava o carnaval. Estranho, né? Porque que eu não colocava o carnaval. Pra mim, o carnaval era uma vivência, não a música. Mas é música demais. Foi onde toquei um instrumento, coisa que eu nunca tinha feito na vida”.

A cantora revelou que vem de uma família festeira e que as suas principais referências musicais vem da mãe, com quem passava boa parte do tempo durante a infância. Não dá para negar, ela é boa de ‘ref’: Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Michael Jackson e Alcione foram alguns dos nomes citados durante o bate-papo:

“Toda vez que eu conto eu lembro de alguma coisa, mas aqui em casa eu lembro de ficar muito com a minha mãe, na barra da saia dela, e ela sempre gostou muito de música. Como ela ficava mais comigo, aprendi a gostar do amor dela pela música. Ela fazia tudo cantando. Cozinhava cantando, lavava roupa cantando. A primeira música que eu aprendi a cantar foi de Clara Nunes (…) Fraca não tem como vir”.

Virada

Há pouco mais de 10 anos, Tássia decidiu se mudar para São Paulo, onde cursou tecnólogo em Design de Moda com a ajuda do Prouni (Programa Universidade Para Todos). Naquele momento, embora totalmente envolvida com a arte, ela ainda não sabia que seria na música o seu desabrochar.

“Sintomático que eu tenha vindo pra São Paulo porque eu ganhei uma bolsa 100% de um projeto de inclusão, de um projeto que visava ter mais pessoas pretas e periféricas na universidade. Foi fundamental. Mudou a minha vida. Não pelo fato do curso em si, mas pela possibilidade de ver outras coisas, outras alternativas. Mudou tudo”.

Pouco antes de concluir o curso, ela começou a escrever suas primeiras músicas em um ano que considera o mais rico em letras. “Talvez os perrengues que passei em São Paulo me deram substância pra escrever”.

Depois de fazer amigos produtores e músicos, decidiu que era isso que queria fazer, mas com um diploma da mão. Ela terminou o curso e passou a investir em sua carreira musical. Tássia logo foi notada ao lançar a faixa “Meu Rapjazz”, que ganhou a simpatia da crítica.

Em 2014, o seu primeiro EP também foi bem recebido. Naquele momento, a cantora já era considerada uma revelação e galgava parcerias com Marcelo D2, Rashid, AXL, Tiago MAC chegando, em 2018, a gravar com Pitty e Emmily Barreto a faixa “Contramão”.

“Eu amo colaborar porque eu sinto que a gente tem a chance de botar um pouco da nossa alma, do que a gente acredita e misturar com a alma da outra pessoa. É muito rico, a potência cresce quando isso acontece”.

Os trabalhos seguintes envolveram projetos e turnês com Liniker e As Baías, além do aclamado álbum “Outra Espera”. A coletânea de músicas lançada em 2016 fez com que o nome de Tássia estivesse nas listas de melhores álbuns daquele ano.

Ela acredita que o público clamava por mais representatividade e queria ouvir outras coisas para além do que  as gravadoras propunham. “Uma para representar milhões é impossível e isso fere a individualidade da mulher preta, porque a gente tem que se enxergar em uma só e não tem como. As pessoas são diversas, muito diferentes mesmo que dentro de recortes raciais”.

“Eu não gosto de ser colocada como rapper, porque o que eu faço extravasa o rimar. O que não significa que rimar é pouco. Só não acho justo. Se essa fosse minha única função, falaria ‘sou uma super rapper’. Sou uma rapper, mas quero ser mais. É uma coisa que cada vez mais eu vou compreendendo”

PRÓSPERA + VERSÃO DELUXE (2021)

Pouco antes de lançar o seu trabalho mais recente, “Prospera”, Tássia circulou por outros países e impressionou em festivais internacionais como o Roskilde Festival, Sfinks Festival e Sfinks Festival, dividindo o line up como Cardi B, Lizzo e Janelle Monáe. Ela conta que a partir de suas experiências na gringa passou a ter outra visão sobre a estrutura do show business no Brasil.

“A gente precisa melhor toda a cadeia artística. Precisa melhorar fora do palco antes. A equipe técnica, as condições de trabalho da galera que está na base. Quando a gente pensa em arte, cultura e música, só olhamos pro artista que está ali cantando, mas e o background? As coisas só vão funcionar quando todo mundo tiver dignidade para trabalhar, salários dignos, suporte.”

Tássia lançou no ano passado o álbum “Prospera” e, assim como os seus trabalhos anteriores, foi bem recebido e chegou a entrar para a lista de 25 melhores discos do ano da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes). Mesmo com feitos impressionantes, ela trabalha em terapia a dificuldade para reconhecer suas vitórias e analisar sua trajetória. Tássia confessa que (também por ser leonina) tem medo de parecer arrogante. “Eu sempre tive essa autocrítica para saber se estou sendo líder ou arrogante”.

“Está sendo muito importante reconhecer minhas vitórias, reconhecer onde eu fiz a diferença. Tenho recebido mensagens de outros artistas que amo falando da minha importância e isso me ajuda a reconhecer isso. Nunca gostei muito do lance das pessoas taxarem de ‘pioneira’. Nunca me coloquei neste lugar porque quando cheguei já tinham várias gatas. Mas isso não significa que eu não tenha sido relevante e agente de mudança. Reconhecer isso tem sido muito importante, tem me fortalecido nas minhas escolhas e no que eu quero apresentar.”

A cantora revelou que estava pronta para começar a trabalhar em um novo disco de inéditas, o substituto de “Prospera”, mas após conversar com alguns fãs decidiu de preparar um álbum com remixes de seu último projeto e que deve ser lançado ainda em 2021.

“Vou entregar as duas coisas, na verdade. Vem aí um ‘Prospera Deluxe’, com alguns remixes e faixas inéditas também. E pretendo lançar alguns ‘visuais’ disso”.

Ela ainda revelou que quer feats para a nova versão do álbum e que começou a distribuir alguns convites. Portanto, os fãs de Tássia Reis serão bem servidos em breve.