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Spotify: como o mercado passou a acreditar na cobrança por músicas que não são ouvidas?

Foto: Unsplash

Na era do digital, grande parte das projeções são feitas por dados, que podem ser positivas ou negativas. Isso não é uma surpresa. Métricas internas das plataformas, em relação ao desempenho de um artista, por exemplo, são fundamentais para o entendimento de uma estratégia ou da forma do consumo dos fãs. Enquanto que dados gerais das plataformas de streaming fornecem um panorama, sobretudo, em relação a sustentabilidade do modelo econômico dessas empresas.

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A indústria musical global ainda vive um período de transição. Essa etapa pode ser entendida como um momento de acertos e erros, em direção a uma compreensão mais profunda e madura das possibilidades existentes nesse ecossistema, sejam sobre negócios ou das produções artísticas.

Enquanto esse cenário está vigente é necessário redobrar a interpretação sobre os números divulgados do mercado e quais inferências podem ser feitas. Nessa semana, uma análise feita pelo MBW, no qual o fio condutor era uma suposição, em uma perspectiva comparativa com outras plataformas de tecnologia, fez com que o mercado entendesse que o “Spotify passaria a cobrar por músicas que não são ouvidas na plataforma, diante do armazenamento em nuvem que a companhia precisa pagar para que essas canções estejam disponíveis”.

No entanto, ainda não há uma afirmação oficial do Spotify que isso irá acontecer em um curto ou médio prazo. O POPline.Biz é Mundo da Música entrou em contato com a companhia, que não emitiu comentários sobre o assunto.

Contudo, as redes sociais entraram na discussão e fizeram da suposição em questão uma verdade que “poderá acontecer mais cedo, ou mais tarde”, diante das percepções que geraram uma indignação coletiva. Em relação ao contexto do mercado em si, não podemos afirmar que a suposição está longe de uma possível realidade. Mas, podemos analisar a situação sobre os fatos existentes na atualidade.

Fio condutor: o modelo de negócio do Spotify e seus desdobramentos

Para compreender melhor essa situação é necessário entender o modelo de negócio do Spotify e das plataformas de streaming de uma forma geral. O Spotify gera receita através das assinaturas, nos quais os usuários ouvem músicas sem anúncios; e oferece soluções de anúncios publicitários. Essas publicidades são direcionadas aos usuários freemium (que não pagam a assinatura) e podem ouvir músicas de forma ilimitada, assim como os usuários premium, porém, com a interrupção dos anúncios.

Já os artistas que disponibilizam as suas músicas no Spotify são remunerados com base no modelo “Pro-Rata”, que reúne todas as receitas geradas pelos usuários, e esse valor é distribuído com base no número de streams. Por isso que os valores de um stream são na escala de centavos.

No início de março, o Spotify divulgou o seu relatório anual de royalties de música, Loud & Clear. A plataforma apontou que, em 2022, 57 mil artistas geraram mais de US$ 10 mil na plataforma. E 1.060 artistas geraram mais de US$ 1 milhão. O Spotify ainda diz que o número de artistas que geram mais de US$ 1 milhão, bem como aqueles que geram mais de US$ 10 mil, mais do que dobrou nos últimos cinco anos.

Spotify Loud & Clear 2023. Foto: Divulgação/Spotify

Este site, Loud & Clear, também detalha como o Spotify paga a grande maioria de cada dólar que gera para a música – quase 70% – de volta à indústria, de acordo com a análise, e os pagamentos de todos os tempos do Spotify aos detentores de direitos musicais estão se aproximando de 40 bilhões de dólares.

O Spotify estima que existam cerca de 200 mil artistas profissionais ou aspirantes a profissionais em todo o mundo.

  • Das 9 milhões de pessoas que enviaram qualquer música para o Spotify, 5,6 milhões publicaram menos de 10 músicas em seu histórico na plataforma – indicando que podem estar muito cedo em sua jornada, abordando a música como um hobby ou não aproveitando o streaming como parte de sua carreira;
  • Existem 213 mil artistas que lançaram pelo menos 10 músicas em seu histórico (o que significa que eles têm um corpo de trabalho para ganhar) e uma média de pelo menos 10.000 ouvintes mensais (o que significa que eles conseguiram atrair o início de uma audiência);
  • O Spotify vê isso por meio das integrações com Songkick, Ticketmaster e dezenas de outros parceiros de venda de ingressos ao vivo e virtuais: em 2022, foram 189 mil artistas com pelo menos um show ou evento com bilhete, demonstrando atividade profissional fora do streaming.

Spotify Loud & Clear 2023. Foto: Divulgação/Spotify

Ainda em março, a Luminate Data divulgou dados que foram apresentados durante um painel no SXSW 2023, pelo CEO da companhia, Rob Jonas. O painel na íntegra pode ser conferido acessando aqui.

  • 42% das 158 milhões de faixas no Spotify foram tocadas 10 ou menos vezes no ano passado
  • 67,1 milhões de faixas foram tocadas dez ou menos vezes no ano passado. Isso é 42,1% dos aproximadamente 158 milhões de faixas disponíveis no streamer principal.
  • 38 milhões de faixas no Spotify não foram tocadas nem uma vez em 2022.

No Twitter, profissionais do mercado da música compartilharam suas percepções diante desses dados:

Afinal, de quem pode ser a conta?

Em qualquer atividade, seja no digital ou no mundo offline, não existe gratuidade. Às vezes, o valor não está claro, em um descritivo de uma nota fiscal, por exemplo, mas, ele está inserido no valor que chega ao consumidor final.

Apesar de não demonstrar, inicialmente, que há um interesse em um curto-médio prazo de mudar o padrão do que acontece no Spotify, o volume de envios de 100 mil faixas por dia nas plataformas, levanta várias questões tanto para os artistas e a retenção de uma base de fãs, quanto na remuneração aplicada nas plataformas e seus modelos de negócios.

As discussões são inúmeras, necessárias e urgentes. E o caminho analítico e interpretativo dos dados são a base para fundamentar as mudanças.

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