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Sons da Revolução: Pedro Bromfman fala sobre a composição musical de Far Cry 6

Entrevistamos o brasileiro, que é responsável pela trilha sonora do novo game da Ubisoft.

Foto: Divulgação

A música sempre foi uma parte mais do que importante do universo dos games. É quase impossível encontrar um gamer, especialmente dos anos 1980 e 1990, que não tenha na cabeça, decorado, as músicas de jogos como Super Mario Bros., Sonic, Top Gear, F-Zero e muitos outros. Mas apesar de ser tão importante, é muito comum se falar sobre os projetos com os desenvolvedores, diretores ou escritores.

Far Cry 6
Foto: Divulgação

Por isso, para a chegada de Far Cry 6, o mais novo game da famosa e adorada franquia da Ubisoft, o POPline pôde bater um papo com Pedro Bromfman, o compositor da trilha sonora de Far Cry 6.

E a responsabilidade não é pequena. Far Cry 6 é uma das franquias de games mais populares dos últimos anos, angariando uma verdadeira legião de fãs a cada lançamento. Mas o brasileiro não foi escolhido à toa.

Um pouco de história

Pedro Bromfman
Foto: Divulgação

Pedro Bromfman não é um nome novo no cenário das trilhas sonoras, ou como ele mesmo falou da “música incidental”, aquela música de fundo que ajuda a estabelcer o tom, a emoção de uma cena. Mas nos games, o brasileiro é relativamente novo: antes de Far Cry 6, ele trabalhou em alguns poucos títulos, como Need For Speed, mas seu foco anterior mesmo era o cinema e a TV, onde compôs a trilha sonora de grandes sucessos internacionais, como “Tropa de Elite” e “Narcos”, que também possuem uma latinidade em seu trabalho, mas também trabalhou em títulos como “RoboCop”, “Deep Web” e a série documental “The Story of Us”, com Morgan Freeman.

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Pedro Bromfman foi uma escolha mais que natural para Far Cry 6. “Cresci tocando rock, depois estudei jazz, depois fui estudar orquestração em música clássica. Cresci com música brasileira, cresci tocando violão.. Passei muito tempo na Argentina e sempre fui muito fascinado por tango. Estudei tango e no final dos meus 18, 19 anos tive uma paixão por música caribenha, música cubana”, conta Pedro Bromfman.

Para Far Cry 6, o trabalho, segundo Pedro, foi intenso. Foram mais de dois anos de trabalho de composição musical junto ao desenvolvimento do game. Algo que, de acordo com ele, não é o que acontece muito no mercado.

O início do processo de criação

Far Cry 6
Foto: Divulgação

“A gente começou, fez uma missão inicial que tinha que mandar para a Ubisoft de Paris… Eles estavam começando a fazer o design do game todo, então foi um processo que realmente trabalhei desde o início. Eles me mandavam imagens e me faziam briefings da história, contavam tudo sobre os personagens e ao mesmo tempo eu ia fazendo músicas que iam entrando no game”, explica Pedro Bromfman.

O trabalho, claramente valeu a pena. O conteúdo musical de Far Cry 6 é intenso desde sua abertura, que mostra lindas cenas na maior vibe digna de abertura de série de suspense. A música, inclusive, acompanha essa vibe e vai crescendo de acordo com as cenas, que ficam ainda mais intensas.

E para Pedro, essa é a maior diferença de compor músicas para games e músicas para filmes ou programas de TV. “Na hora que você está vendo as cenas, o cinematic, dentro do game, é muito parecido com compor para um filme ou série de TV, porque você tem a cena e ela vão estar sempre daquela maneira, vai ser sempre aquela duração”, explica Pedro.

“Agora quando você está nas missões, no Open World, aí sim é outra praia, quer dizer, você tem que fazer uma música que pode durar 2 minutos ou pode durar 12 minutos. Você tem que fazer uma música que pode ter uma intensidade pequena, se você está meio que se escondendo e combatendo, mas que quando chegam 30 inimigos para atirar em você, aquela música vira uma coisa bombástica, grande.”

Far Cry 6
Anton Castillo (Foto: Divulgação)

Mas o trabalho de Pedro Bromfman também foi essencial na caracterização e história dos personagens e da ilha de Yara. Para compor as músicas, o brasileiro muitas vezes recebia a história dos personagens ou das diferentes regiões da fictícia ilha caribenha, mas muitas vezes foi sua música que fez a equipe da Ubisoft entender quem eram os personagens que eles estavam criando.

“Eles me deram um elemento inicial, mas à medida que o jogo avançava, tiveram várias coisas que foram se adaptando, foram mudando. Com Anton, que é o presidente da ilha, o personagem principal, eu fazia um tema e de repente estava todo o time lá e me ligavam e falavam que estavam todos na sala, 50 pessoas… a gente começou o desenvolvimento antes da pandemia… todos ouvindo o tema de Anton e falavam ‘agora a gente entende quem é o Anton’. Então teve muita coisa de um ajudar o outro, por trabalharmos juntos desde o começo.”

As inspirações para a música de Far Cry 6

Far Cry 6
Foto: Divulgação

Com a ilha de Yara, uma região fictícia que fica no Caribe, claro que Far Cry 6 exala latinidade, não só nos personagens, na língua ou na região, mas claro que também na música.

Para Pedro, explorar essa latinidade é algo natural, já que a música latina é uma de suas especialidades e, em sua grande maioria, o foco de seu trabalho como compositor para projetos audiovisuais.

Suas inspirações já vieram de seu próprio histórico, de seus estudos da música do norte da Argentina e da própria música caribenha, mas levar toda essa latinidade sem soar clichê é sempre um trabalho um tanto quanto complicado.

“Trazer esse trabalho para Hollywood [e para a indústria de games] não era algo fácil… A gente não quer somente uma salsa tocando no meio da trilha, mas a gente queria basear a música toda nos elementos tradicionais da música latina e caribenha, realmente trabalhar mais a musicalidade latina dentro do game”, conta Pedro.

Apesar de tentar fugir do clichê, Pedro garantiu que há sim os ritmos mais tradicionais da música latina em Far Cry 6, com músicas compostas por Eduardo Vaisman para exatamente essa finalidade. E para quem já jogou um pouco do game, vale lembrar que músicas Pop latinas também soam nas rádios em Far Cry 6: “Bella Ciao”, que ficou popular como tema da série “La Casa de Papel”, aparece até com uma certa importância no enredo do game.

Far Cry 6
Foto: Divulgação

A percussão latina e até a “percussão corporal” (batidas de mão em partes do corpo como peito e pernas) também aparecem como uma das inspirações, especialmente por remeter a algo como guerra e revolução, trama principal de Far Cry 6.

Essa fuga do clichê também aparece na música incidental para criar o sentimento que o jogador pode ter para os personagens. Para Pedro, só porque Anton é o vilão, não quer dizer que toda vez que ele aparece a música tem que refletir isso.

“Quando eu fiz ‘Narcos’, não importa quem é o vilão. Pablo Escobar, que é um cara que matou milhares de pessoas, que deixou o país inteiro de refém… Ele era um ser humano que amava os filhos dele, que tinha de alguma maneira suas razões para terminar onde terminou. É a coisa de entender também que o personagem bom também tenha seu lado obscuro. É isso que eu acho que minhas trilhas sempre trazem de alguma maneira… você está vendo uma cena que é pesada e que ao mesmo tempo pode ter uma melodia bonita tocando em cima, que representa alguma outra coisa que não necessariamente o que aquele cara tá fazendo ou falando, mas também o mundo interno dele, o que está passando na cabeça dele.. Por quem ele está apaixonado, que é e onde estão os filhos dele, o que está acontecendo com a família dele. Essa dualidade é muito nosso trabalho.”

Estilos musicais mais urbanos, como o Rap, e outros mais tradicionais, como os ritmos afro-caribenhos, podem ser ouvidos por toda a ilha de Yara e, claro, marchas militares também compõem o cenário musical de uma ilha em plena revolução.

Toda a trilha, segundo Pedro, contou com a ajuda de elementos tecnológicos de pós-produção, além dos instrumentos clássicos latinos. Desenho de som, sintetizadores e softwares de computador variados ajudaram a levar a vibe que ele queria para a música de Far Cry 6, para a música de Yara.

Além disso, Pedro quis trabalhar na trilha sonora de Far Cry 6 sem nenhuma influência externa, sem olhar para trás, para outros games da franquia. Para ele, foi essencial que, não somente ele, mas também a Ubisoft, quiseram criar algo totalmente novo, do zero, garantindo uma maior exploração da criatividade e algo que casasse perfeitamente com a trama do game e com seus cenários e universo criado para a ilha de Yara.

Para quem vai jogar Far Cry 6, a partir deste dia 7 de outubro, a música do game é mais do que importante para toda a ambientação e história dos personagens e da ilha de Yara. É com a música que você mergulha nessa aventura e pode até se surpreender ao ouvir alguns sucessos de nomes como Ricky Martin aparecendo de lá pra cá nas rádios da ilha.

A trilha é realmente uma experiência a parte, tanto que as músicas compostas por Pedro Bromfman para Far Cry 6 já estão disponíveis nas plataformas de streaming para quem quiser seguir acompanhando e vivendo a latinidade de Yara em seu dia a dia.

O espírito latino, com certeza, está muito bem representado dentro da música de Far Cry 6.

Y viva la Libertad!