O sonho e a coletividade pautam a série “Criatividade Tropical” estrelada por IZA

Nove músicos oriundos de periferias brasileiras co-criam uma música para a marca de cerveja Devassa

A série “Criatividade Tropical: Abre as portas para o Gueto“, protagonizada por IZA, estreia nesta terça-feira (26) no Globoplay. O lançamento marca a segunda etapa de um projeto desenvolvido entre a marca de cerveja Devassa com a cantora, cujo objetivo é fomentar a cultura e a criatividade dos brasileiros presentes na música, artes visuais, dança e moda.

Crédito: Felipe Feijão

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O início deste projeto foi marcado pela inédita live vertical no Brasil, projetada em comunidades brasileiras, por ocasião do lançamento do single “Gueto”. Passados quatro meses, é a vez da série que mostrará jovens artistas em uma co-criação musical.

Dividida em quatro capítulos – e liberada para não-assinantes do Globoplay -, a produção audiovisual documenta o desenvolvimento de uma música inédita em celebração à potência cultural oriunda das periferias brasileiras. A faixa, uma colaboração de IZA com nove talentos escolhidos em diferentes subúrbios do país, coroa o ápice deste projeto.

Stefanie Roberta, Leandro Oliveira, Nanny, Melk, Ítalo Viana, Lukinhas “LK”, Sabrina Azevedo, Rafael Porrada e Izandra Machado foram os nove talentos escolhidos por Devassa para mostrarem seus respectivos talentos tropicais nesta co-criação. São músicos que emergiram de guetos do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Paraíba.

Embora IZA seja uma espécie de “líder” desta galera, o primeiro aspecto deste documentário é a posição destes jovens como protagonistas dentro de um conceito de respeito, solidariedade e parceria. Tal como prega a essência de ubuntu, filosofia africana que trata da importância das alianças e do relacionamento das pessoas, umas com as outras.

“É inegável dizer que a gente não se vê muito nos lugares. Então por mais que eu saiba que, infelizmente, minha história é exceção, sentia a necessidade de celebrar isso como uma forma de inspirar outras pessoas a viverem o que eu estava vivendo também”, ressalta IZA logo no início do documentário.

“É muito comum a gente ver músicas que são originárias de grupos que são marginalizados fazendo sucesso na voz de outras pessoas. O que eu não acho um grande problema. É importante a gente difundir a cultura do nosso país. O problema mesmo é a gente não trazer alguém junto. Alguém que realmente faz parte desse movimento, que é a cara deste estilo musical. É importante que a gente abra as portas para o gueto, literalmente”, completa IZA.

A luta diária pelo sonho da música

Dirigido por Aisha Mbikila, “Criatividade Tropical: Abre as portas para o Gueto” conta com uma edição ágil e instiga o espectador a acompanhar os desdobramentos deste projeto marcado pela brasilidade. Os produtores musicais Sérgio Santos e Pablo Bispo acompanham IZA na missão de organizar um método de trabalho que potencialize as qualidades de cada um.

Carlinhos Brown e o percussionista Leandro Oliveira: mestre e aluno em “Criatividade Tropical” (Crédito: Felipe Feijão)

O princípio da oralidade, uma das características mais marcantes da cultura africana, pauta o primeiro episódio. A tônica da conversa foi o primeiro contato com a música na vida de cada um. Todos mencionaram os pais ou os irmãos como responsáveis por suas respectivas influências musicais.

“A criatividade do gueto é diferente. É uma arte que sempre encontrou barreiras pra acontecer. Muitas pessoas precisaram se proteger para manter esta arte viva, para poder passar aos mais novos. O nosso país é feito por esta massa que nem sempre está em evidência. Mas o que esta massa cria sempre está”, diz IZA.

Como a maioria dos jovens da periferia, todos possuem um histórico de adversidades sociais que, de alguma maneira, impactaram em sua autoestima. “A gente almeja chegar nesse lugar de referência. E quando acontece, a gente começa a se questionar se merecemos estar nesse lugar. Temos que começar a trabalhar isso em nossa mente. Em acreditar que merecemos estar nesse lugar sim e ninguém vai nos tirar daqui”, diz a percussionista baiana Nanny.

Carlinhos Brown e Larissa Luz são “mestres” do projeto colaborativo

Um dos mestres deste projeto é Carlinhos Brown, internacionalmente reconhecido como um dos artistas mais criativos e inovadores do Brasil, fundador da Timbalada, um dos precursores do axé music, indicado ao Oscar e atualmente um dos técnicos do programa de TV “The Voice Brasil”.

A oralidade mais uma vez se faz presente quando Brown transmite uma série de informações históricas relevantes, como por exemplo o fato da percussão ser, em sua matriz, uma organização feminina. “Quem vai entender que a maior manifestação de música pop brasileira vem do candomblé?”, provoca Brown enquanto toca um timbal diante dos músicos – que naquele momento são atentos aprendizes do mestre.

A construção do beat é pontuada pela diversidade de ritmos como pagodão, afrobeat, rap e funk. A junção de culturas diferentes e quebra de paradigmas é a força deste documentário que levantará a autoestima de tantos talentos da periferia que buscam seu espaço. Larissa Luz é mais uma convidada especial deste projeto e chega para auxiliá-los com sua poesia na composição da letra a partir de palavras-chave. É neste ponto que música e letra começam a tomar forma em rima, poesia, swing, melodia, violino e o estilo clássico com o beat.

IZA e Larissa Luz: duas mulheres pretas refletem sobre suas trajetórias e sobre como a sociedade pode dificultar o caminho para pessoas periféricas (Crédito: Felipe Feijão)

Na conversa entre IZA e Larissa, mais uma vez a autoafirmação volta à pauta quando as duas falam sobre a vivência de pessoas pretas, duramente “ensinadas” a não comemorarem suas conquistas e apenas seguirem em suas batalhas de vida.

“Quando recebi o convite do projeto, vi que era muito mais do que entrar em um projeto colaborativo e criar uma música. É sobre refletir qual movimento estamos fazendo para depois que a gente aprender qual é o caminho, a gente trazer nosso bonde junto com a gente. E penso muito sobre foco, mira e desfrutar o caminho. Às vezes a gente quer chegar rápido, mas o grande barato é a gente chegar longe”, diz Larissa.

E eles chegaram longe

O cuidado que a direção do documentário teve em explicar gírias e expressões de cada lugar dá o tom dessa criatividade tropical dos guetos. E isso está presente não apenas nos diálogos, mas na música. A Devassa foi feliz ao reunir um grupo tão diverso, mas que desenvolveu – em um curto espaço de tempo – a química necessária para que o coletivo funcionasse.

E foi pelo coletivo que vimos IZA fazer um movimento que não é comum entre as grandes estrelas: “diminuir” sua participação solo em prol dos jovens talentos. O reconhecimento das qualidades do próximo é uma lição (entre tantas) que este documentário deixa para os espectadores. E o fortalecimento de um grupo que traz consigo uma história de luta é percebida na frente das câmeras e atrás delas.

A série é idealizada pela agência HNK Lab, com produção da Trace Brasil, produção executiva e criativa de Alberto Pereira Jr, pós-produção e finalização de Mia Lab, além de assistentes de direção e roteirista pretas. A obra tem curadoria de talentos da Digital Favela e estratégia de mídia digital da iProspect (Red Star).

Conteúdos exclusivos em primeira mão como vídeos de bastidores, erros de gravação e até mesmo o resultado final desta música colaborativa já estão disponíveis no hotsite criado pela Devassa.

Assista ao trailer de “Criatividade Tropical: Abre as portas para o Gueto“: