Os últimos acontecimentos tiraram todos de suas rotinas mas, em breve, nossas vidas retornarão a algo parecido com a normalidade e voltaremos a nos deparar com nossas alegrias e desafios cotidianos.
Peço licença, então, ao coronavírus para aproveitar esse finalzinho do mês de março para tratar do tema que me arrebatou no último ano: a participação das mulheres no mercado da música – não somente na parte artística, de criação; mas também na administrativa, de gestão.
Como coordenadora de Comunicação do Ecad, o escritório que centraliza as atividades de cobrança e de distribuição de direitos autorais de execução pública, e mestranda de Comunicação na Uerj, finalizando minha pesquisa justamente sobre as mulheres da indústria musical, este assunto não só me interessa como me representa.
Antes da quarentena forçada, eu já sabia como esse texto seria: repleto de números que comprovassem a pouca representatividade feminina na indústria da música, o que seria fácil, de certo modo, pois devido a iniciativas recentes (de mulheres da indústria, cabe a ressalva), temos cada vez mais dados para mostrar.
Então vamos a alguns deles.
– Levantamento feito pelo Ecad demonstra que, de todos os valores distribuídos nos últimos 5 anos para compositores, intérpretes e músicos, menos de 8% foram destinados a mulheres.
– Das 1.064 pessoas que foram indicadas ao Grammy nas cinco principais categorias entre os anos de 2013 e 2019, 90% eram homens.
– Segundo pesquisa do instituto Data Sim, 84% das brasileiras ligadas ao setor musical já foram discriminadas no trabalho.
– A participação feminina nos lineups de 76 festivais brasileiros de diferentes portes entre 2016 e 2018 não passou de 20% segundo pesquisa publicada pelo selo Sesc.
Com a mera explanação destes dados, sem qualquer trabalho analítico, já é possível compreender a complexidade deste cenário e vislumbrar a perda de potencial a que nos submetemos devido à falta de diversidade no mercado.
Em tempos de isolamento, no entanto, há duas semanas sem poder abraçar pais e amigos ou ter contato com sol ou chuva, quem mais me tem feito companhia é a música, em todos os formatos (no Spotify, em shows completos disponibilizados no YouTube, nas dezenas de lives com artistas dos mais variados gêneros musicais).
Então me pareceu insuficiente falar apenas sobre números, uma vez que a música é carregada de emoções e significa muito mais do que frias análises quantitativas.
Se posso usufruir, no conforto de casa, da arte de nomes como Gal, Elza, Luedji, Fiona, Maro, Ekena, H.E.R., Céu, Daíra e Cássia, é porque elas têm talento e comprometimento de sobra, assim como outras compositoras, intérpretes, produtoras, engenheiras de som, técnicas, advogadas, empresárias, executivas de gravadoras e editoras, curadoras de festivais e tantas outras profissionais que não tenho como nomear aqui.
Esse texto, então, é um agradecimento às mulheres que estão nestas trincheiras, seja criando música, gerando dados ou gerindo seus negócios que levam música a muito mais pessoas.
Não entramos nem na superfície do problema. Vamos falar mais sobre isso nas próximas colunas, e também trarei notícias e explicações sobre o Ecad com frequência por aqui.
Se quiserem sugerir quaisquer assuntos podem escrever para paula_novo@ecad.org.br.
Até lá, fiquem seguros!
P.S.: Ouçam mais mulheres, aproveitem esse tempo em casa para descobrir novas compositoras e intérpretes!
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Paula Novo é jornalista, pós-graduada em Jornalismo Cultural pela Uerj e em Comunicação Organizacional Integrada pela ESPM; além de mestranda em Tecnologias de Comunicação e Cultura pela Uerj. Trabalha há quase quinze anos com cultura e há dez anos no Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), onde atua como coordenadora de Comunicação Corporativa.