Parece que não havia melhor nome para a turnê conjunta de Eminem e Rihanna. São dois monstros que se uniram no palco, cada um por motivos bem singulares. Eminem é idolatrado na América, canta com uma energia absurda e é capaz de enlouquecer os mais de 60 mil que compareceram ao Metlife Stadium no último domingo (17). Rihanna tem o desafio de convencer um público que majoritariamente não é dela, mas conta com hits de uma década inteira que facilitam essa tarefa.
Logo que chegamos ao estádio, cerca de quatro horas antes do início do show, já pudemos perceber que o público estava lá para assistir Eminem. Eram milhares de pessoas usando camisetas e bonés do rapper – lá entendemos quem era o monstro que dá nome à turnê. Já a Rihanna Navy, mesmo que em quantidade bem menor, não se conteve: cantavam hits da diva e empolgavam quem estava do lado de fora do Metlife Stadium.
Os portões se abriram por volta das 18h, duas horas antes do início do show, e rapidamente todos que estavam do lado de fora se acomodaram. No entanto, mais de 50% do público só chegou realmente nos últimos 30 minutos antes do espetáculo.
A estrutura de palco surpreendia. Eram dois telões principais posicionados na diagonal, mais 3 menores que se movimentavam e os outros 2 telões de apoio que exibiam o show para aqueles que não estavam tão perto do palco – esses não eram apenas filmagens do show, eles contavam com efeitos visuais sincronizados com os demais telões, demais!
As 20:15 as luzes do estádio se apagaram e o show começou com uma conversa entre Eminem e Rihanna exibida nos telões, onde Eminem aparece aparentemente preso e reclama que Rihanna demorou demais para resgatá-lo. Os acordes de “Numb” se iniciam e Rihanna surge do chão cantando sozinha, até que Eminem surge também em cima de uma maca – era o Monstro sendo libertado!
Por 6 músicas os dois artistas mostraram sua sinergia para o público, sempre enaltecendo um ao outro e reconhecendo a contribuição de cada um para a música atual. Eminem solta palavrões, mas trata Rihanna como uma garota deve ser tratada. Rihanna respeita Eminem no palco, e em nenhum momento tenta chamar toda a atenção pra ela.
Com “What Now”, Rihanna inicia sua parte do show sozinha. Daí em diante, é uma seqüência de hits pra deixar qualquer navy sem fôlego. Já o público do Metlife Stadium dá uma apagada e é de certa forma apático em suas reações com Rihanna cantando tantos hits em seqüência. No entanto, com singles com sonoridade bem variada no repertório, Rihanna vence a apatia e consegue levantar bastante o público em certos momentos, como em “Pour it up”, “Jump”, “Rockstar 101” e “Stay”, que exibe Rihanna em seu melhor momento vulnerável, com uma voz impressionante e é cantada a plenos pulmões pelos mais de 60 mil espectadores.
Eminem retorna em “Love the way you lie” e parece que acorda o monstro que estava no interior de cada um que estava lá. A partir dai, todos cantam juntos, apontam seus celulares para o palco e enlouquecem ao som de hits históricos do rapper, como “Rap Good” e “Not Afraid”.
A volta de Rihanna para participar de “Airplanes” (cantada originalmente por Hailey Williams) e “Stan” (por Dido) tem uma recepção muito mais calorosa e todos cantam juntos com a cantora.
A sessão final do show traz hits que parecem lembrar o público porque aquela era a “The Monster Tour”: Rihanna hipnotiza todos com “Diamonds” e levanta o público com “We found love”, Eminem canta seu maior hit “Lose Yourself” e ambos fecham com sua última colaboração, a faixa que da nome à turnê, “The Monster”.
Apesar da apatia que descrevi do público em relação à Rihanna, parece que Eminem escolheu a parceira certa: Rihanna tem a flexibilidade ideal para deixar de lado qualquer comportamento de diva e encarar o lado moleca, sem inúmeras trocas de roupa e com inúmeros palavrões no discurso. Ela tem a sensibilidade para se a adaptar a uma multidão que não liga tanto para coreografias elaboradas e trocas de figurino.
A impressão final é de que Eminem e Rihanna tinham uma única pretensão com essa turnê: aproveitar seu bom momento juntos e sua conexão e entregar um espetáculo que bombardeasse o público com hits em mais de 3 horas de show. Não existe nenhuma preocupação em ostentar poder e influência musical, não existem metáforas de escapismo, não existe uma história contada – é apenas a música pela música, com a única pretensão de misturar os sentimentos do público com a versatilidade de dois dos maiores hitmakers da última década. E funciona.
Colaborou Ivan Cagliari e Beto Braga